sábado, 19 de dezembro de 2020

Socialismo, o caminho para a servidão.

 


«[...] Todos sabemos com seguro saber que o conhecimento não tem poder para criar novos valores éticos, que nenhuma aprendizagem levará as pessoas a perfilharem as mesmas opiniões sobre os problemas morais suscitados por uma ordem deliberadamente imposta a todas as relações sociais. Para justificar um determinado projecto, o que é necessário não é uma convicção racional mas sim a aceitação de um credo. E na realidade, em toda a parte foram os socialistas os primeiros a reconhecer que a tarefa em que estavam comprometidos requeria a aceitação geral de uma welthanschaung, de um bem determinado sistema de valores. Na sua tentativa para desencadear um movimento de massas, os socialistas apoiaram-se numa visão do mundo tão integralmente uniforme que foram eles que forjaram a maior parte dos instrumentos de doutrinação que os nazis e os fascistas vieram a utilizar com tanta eficácia.

Na Alemanha e na Itália, os nazis e os fascistas já não tinham efectivamente muito que inventar. A invasão de todos os aspectos da vida pelos movimentos políticos tinha já sido lançada, em ambos os países, pelos socialistas. Foram os socialistas que pela primeira vez puseram em prática a concepção de um partido que abrangesse todas as actividades de um indivíduo desde o berço até ao túmulo, um partido que se propusesse orientar as opiniões de todos sobre todas as coisas, que traduzisse todos os problemas em termos de uma welthanschaung partidária. Um escritor socialista austríaco [G. Weiser], referindo-se ao movimento socialista no seu país, dizia com orgulho que era "sua característica ter criado organizações especiais para todos os sectores da actividade dos operários e assalariados". E embora os socialistas austríacos tenham ido mais longe neste sentido, a situação não era muito diferente nos outros países. Não foram os fascistas, mas os socialistas, quem começou a levar as crianças de tenra idade para as organizações políticas a fim de estarem seguros de que elas se formariam como "bons proletários". Não foram os fascistas, mas os socialistas, quem primeiro tentou a organização de jogos e desportos, de futebol e exercícios pedestres em clubes partidários onde os seus membros estariam ao abrigo do contágio de ideias diferentes. Foram também os socialistas quem primeiro estabeleceu maneiras de cumprimentar e formas de saudação com as quais os membros dos seus partidos se distinguiriam dos outros. Foram ainda os socialistas quem, através da sua organização em "células" e dos seus planos de supervisão permanente da vida privada, criaram o protótipo do partido totalitário. Balilla e Hitlerjugend, Dopolavoro e Kraft durch Freude, uniformes políticos e formações partidárias militares fascistas e nazis, pouco mais são do que imitações de instituições anteriores».

Frederico Hayek («O Caminho para a Servidão»).

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