Consciência Nacional
"A verdade, a decisão, o empreendimento, saem do menor número; o assentimento, a aceitação, da maioria. É às minorias que pertencem a virtude, a audácia, a posse e a concepção." Charles Maurras
quinta-feira, 5 de dezembro de 2024
Dois grandes trastes...
Num mundo normal, esta guerra seria entendida de outra forma...
Marcos P. de Escobar
terça-feira, 3 de dezembro de 2024
António Quadros e o 25 de Abril.
Brilhantes palavras do nosso grande, muito grande pensador António Quadros.
Tudo o que de catastrófico sucedeu depois do 25 de Abril era contudo de prever, porque não se pode melhorar qualitativamente um país por uma revolução com cravos mas sem ideias, ou apenas (o que é o mesmo) com ideias feitas, convencionais, com ideias que não nasceram livre e espontaneamente do próprio povo, no sentido lato da palavra, isto é, que não promanaram da sua língua e da sua cultura, da sua história, e da sua problemática concreta, da criatividade e da actividade mental dos seus filósofos, escritores e artistas.
Não sendo possível a acção política sem pensamento político e não havendo entre nós, ao nível das classes dominantes e da universidade, nem pensamento político, nem pensamento filosófico capaz de o fundamentar, o resultado inevitável tinha de ser, ou a entrega do país e quem pensasse por ele (o que veio a suceder logo após o 28 de Setembro com o acesso de Vasco Gonçalves e com o domínio crescente do aparelho comunista) ou a proliferação de um pseudo-pensamento de cartilha, que, através dos diversos activismos grande ou pequeno-partidários, outra coisa não tinha ao seu alcance fazer do que tentar reproduzir no Portugal de hoje os seus diversos cenários de eleição: a Rússia dos anos 20, a França dos anos 30, a Jugoslávia dos anos 40, a Argélia dos anos 50, a China dos anos 60, etc., etc., etc., ou seja, anacronismos dentro de anatopismos, que não podem levar a perte nenhuma.
A própria «descolonização» que viemos a fazer para mal dos nossos pecados não foi mais do que um ersatz trafulha dos cenários das descolonizações inglesa ou francesa, com a diferença de que a Inglaterra ou a França souberam construir, ao mesmo tempo, a Commonwealth e a Union Française, enquanto nós tudo abandonámos sem contrapartida e sem honra, permitindo o êxodo vergonhoso de um milhão de portugueses metropolitanos, africanos ou timorenses.
segunda-feira, 2 de dezembro de 2024
O Caminho da Servidão.
«A ausência de regras formais absolutas na moral colectivista não significa decerto que não haja hábitos individuais que uma comunidade colectivista encorajará e outros que desencorajará. E mostrará até muito maior interesse do que uma sociedade individualista pelos hábitos de vida dos indivíduos. Para se ser membro útil de uma sociedade colectivista é necessário possuir qualidades bem definidas que devem fortalecer-se por uma prática constante. Se lhes chamamos “hábitos úteis” e não as podemos definir como “virtudes morais” é porque o indivíduo nunca os poderá tomar como regras que coloca acima das ordens estritas que recebe nem deixar que eles se tornem um obstáculo à realização de qualquer objectivo que a sua comunidade se proponha. Apenas servem, portanto, para preencher os intervalos entre o cumprimento das ordens recebidas ou entre os esforços para alcançar as finalidades determinadas e nunca podem justificar um conflito com a vontade da autoridade superior.
A diferença entre as virtudes que num sistema colectivista continuarão a ser bem vistas e aquelas que terão de desaparecer fica bem ilustrada com a comparação entre as virtudes que até os seus piores inimigos reconhecem aos alemães, ou, antes, aos “prussianos típicos”, e aquelas que geralmente se lhes negam e são as que os ingleses justificadamente se orgulham de possuir. Poucas pessoas poderão negar que os alemães são, de um modo geral, trabalhadores disciplinados, íntegros até ao fanatismo e enérgicos até à crueldade, conscienciosos e responsáveis em todas as tarefas que empreendem, possuidores de um forte sentido da ordem, do dever e da obediência à autoridade e se mostram muitas vezes dispostos a fazer sacrifícios pessoais e correrem sérios perigos físicos. Tais predicados fizeram dos alemães um instrumento eficaz para o desempenho das tarefas que lhes eram destinadas e assim foram cuidadosamente educados no velho estado prussiano e no novo Reich dominado pelos prussianos. O que geralmente se nega ao alemão típico são as virtudes individualistas da tolerância e do respeito pelos outros e suas opiniões, a independência de espírito, a rectidão de carácter e a coragem de defender as suas convicções pessoais diante de um superior, virtude que os alemães, conscientes de as não possuírem, designam por Zivilcourage; e ainda a consideração pelos fracos e enfermos e aquele saudável desdém pelo poder que só uma velha tradição sabe criar. Faltam-lhes também aquelas pequenas qualidades, mas bem importantes, que facilitam as relações entre os homens numa sociedade livre: a amabilidade, o sentido do humor, a modéstia pessoal, o respeito pela intimidade dos outros e a confiança nas boas intenções dos que lhes são próximos.
Tais virtudes, ao mesmo tempo que individualistas, são também eminentemente sociais, virtudes que amenizam o convívio social e tornam menos necessário, e mais difícil de impor, o controlo vindo de cima. Virtudes que só florescem onde predomina o tipo da sociedade individualista ou comercial, não existem onde prevalece o tipo da sociedade colectivista ou militarista, diferença que é, ou era, tão visível entre as diversas regiões da Alemanha como a existente agora entre as concepções que governam toda a Alemanha e aquelas que são características do mundo ocidental. Até há pouco tempo, pelos menos nas regiões alemãs que mais influenciadas foram pelas forças civilizadoras do comércio – as velhas cidades comerciais do sul e oeste e as da Liga Hanseática –, as concepções morais eram muito mais semelhantes às dos povos ocidentais do que aquelas que hoje predominam em toda a Alemanha.
Seria todavia profundamente injusto considerar as massas desse povo dominado pelo totalitarismo como desprovidas de sentido ético só porque dão o seu apoio incondicional a um sistema que nos aparece como a negação da maior parte dos valores morais. Para a maioria dos alemães, o contrário é que, provavelmente, será verdadeiro: a intensidade das emoções morais que estão por detrás de um movimento como o nazismo ou o comunismo só pode talvez ser comparável às dos grandes movimentos religiosos da história. Uma vez que se aceite que o indivíduo é apenas um instrumento destinado a servir as finalidades determinadas por uma entidade superior que se apresenta com o nome de sociedade ou nação, grande parte daquelas características dos regimes totalitários que nos horrorizam, aparecem como um corolário inevitável. Do ponto de vista colectivista, a intolerância e supressão brutal dos dissidentes, o total desprezo pela vida e pela felicidade dos indivíduos são consequências fundamentais e iniludíveis daquela premissa. O colectivista é capaz de reconhecer o que acabamos de mostrar mas não deixará de, ao mesmo tempo, afirmar que o seu sistema é superior àquele em que os interesses, a que chama “egoístas”, dos indivíduos podem impedir a completa realização dos fins que a comunidade se propôs. Quando os filósofos alemães repetidamente nos apresentam como sendo em si mesma imoral a luta pela felicidade individual e como digno de todos os louvores o cumprimento de um dever que nos é imposto, fazem-no com total sinceridade embora isso seja incompreensível para quem formou a sua personalidade segundo diferentes concepções.
Sempre que há um fim comum que ultrapassa tudo e tudo domina, deixa de haver lugar para quaisquer valores éticos ou quaisquer regras de carácter geral. Até certo ponto, todos nós temos a experiência disso quando, como agora acontece, nos encontramos em guerra. Mas até quando assim nos encontramos em guerra, e correndo aqui, em Inglaterra, os maiores perigos, a experiência é apenas uma aproximação ainda distante do totalitarismo pois apenas uma reduzida parte dos nossos valores foram sacrificados ao serviço da finalidade única. Sempre que umas tantas finalidades específicas dominem a totalidade da sociedade, é inevitável que a crueldade se torne em certos casos um dever, que se considerem meras questões de expediente coisas que revoltam todos os nossos sentimentos como fuzilarem-se reféns e abaterem-se velhos e doentes, que desalojar e desterrar pessoas constitua um recurso da política que toda a gente, à excepção das vítimas, aprova, que se tomem a sério sugestões como a do “serviço militar obrigatório com fins educativos para as mulheres”. Aos olhos do colectivista, actos como estes servem sempre uma finalidade que, só por si, os justifica pois não há quaisquer direitos ou valores do indivíduo que possam constituir obstáculos à realização do objectivo comum da sociedade.
Se para as “massas” de cidadãos dos Estados totalitários é a dedicação desinteressada por um ideal, seja-nos ele embora repugnante, que as leva a aprovar e até a executar actos como esses, o mesmo se não poderá dizer dos homens que orientam tal política. Para ser um colaborador útil de um governo totalitarista, não basta que um homem esteja preparado para aceitar as justificações mais artificiosas das acções mais vis; é preciso que também esteja activisticamente disposto para quebrar todas as regras morais a que sempre obedeceu caso isso seja necessário ao fim que é imposto. E como é o chefe supremo quem determina sozinho todos os fins, os seus instrumentos, os homens que são seus instrumentos, não podem ter convicções morais próprias. Acima de tudo, devem eles entregar-se sem reservas à pessoa do chefe; e para isso, é essencial que sejam totalmente destituídos de princípios e literalmente capazes de tudo. Não podem ter ideais que visem realizar, nem ideias sobre o que é certo ou errado que possam interferir nas determinações do chefe. Assim se vê como, nos lugares de poder, pouco há que possa atrair aqueles que tenham ainda as convicções morais que noutros tempos guiaram os povos europeus, poucas são as compensações para os aspectos desagradáveis das tarefas que é preciso cumprir, poucas oportunidades existem para a realização das ambições mais idealistas, poucas recompensas se oferecem pelos riscos que, sem dúvida, se correm e pelo sacrifício da maior parte dos prazeres da vida privada e da independência pessoal que os cargos de responsabilidade sempre implicam. Os únicos gostos satisfeitos são o gosto pelo poder em si, o prazer de ser obedecido e o orgulho de fazer parte de uma máquina eficaz e imensamente poderosa que assegura sempre um lugar na primeira fila.
Para os homens bons – segundo os nossos padrões – pouca sedução podem pois exercer os lugares de chefia na máquina totalitária. Mas aos homens cruéis e sem escrúpulos oferece ela óptimas oportunidades. Haverá sempre tarefas, em si mesmas repugnantemente vis, mas cuja execução é posta ao serviço de um fim mais elevado e que exigem a mesma perícia e eficácia de quaisquer outras. E como quem estiver ainda ligado à moral tradicional terá repugnância em as aceitar, quem se prontificar a fazê-lo tem assegurado o caminho da promoção e do poder. São inúmeras as situações oferecidas por uma sociedade totalitária que exigem a prática da crueldade e da intimidação, da mentira propositada e da espionagem ou vigilância denunciadora. Nem a Gestapo, nem a administração de um campo de concentração, nem o Ministério da Propaganda, nem os S. A. e os S. S ou seus equivalentes italianos e russos, são lugares adequados à expressão de sentimentos humanitários. São essas, todavia, as instituições que se encontram na estrada que conduz aos lugares mais elevados nos Estados totalitários.»
Frederico Hayek («O Caminho para a Servidão»).
Espalhando Liberdade e Democracia pelo Mundo...
domingo, 1 de dezembro de 2024
Mário Soares o maior impostor político da nossa História.
Carta de Alfredo Farinha, 6 de Setembro de 2005.
«Mário Soares, "imposto" ao PS pelo seu secretário-geral e proclamado pelo partido como seu representante efectivo e único no certame eleitoral de Janeiro próximo, com largas semanas ou meses de antecedência em relação à sua declaração formal de que pretendia ou aceitava candidatar-se, depois de uma "mise-en-scène" ridiculamente empolada e prolongada, com a qual pretendeu, infantilmente - porque aos oitenta começa o inelutável regresso do adulto à "segunda meninice" - iludir os portugueses, fazendo-lhes crer que só ao cabo de longas meditações, dolorosas dúvidas e inúmeras consultas tomaria (ou não...) a "heróica decisão" de oferecer o corpo alquebrado e a alma inquieta à imolação final no altar da Pátria - que ninguém prejudicou e traiu tantas vezes como ele;
Mário Soares, o maior impostor político, talvez nado e criado em Portugal, quase sempre a saque de barões, burgueses, militares, salteadores e governantes:
Mário Soares, "o português que mais ganhou com a revolução de Abril", na opinião expressa por Rumsfeld, Secretário de Defesa dos Estados Unidos - e também, no campo político, admito eu, antes e depois do golpe;
Mário Soares, porventura o político português que mais amigos e camaradas traiu, com o único e ruim propósito de conquistar para si próprio os lugares e os poderes que almejava, como aconteceu com Salgado Zenha, Sousa Tavares, Rui Mateus e, agora mesmo, Manuel Alegre - a quem interesse mais detalhada lista das vítimas da insaciável avidez política do ex-PR, recomendamos a leitura de "Acuso" e "Contos Proibidos", respectivamente, de Henrique Cerqueira e Rui Mateus. Apenas como lamiré, ou como aperitivo, transcrevemos do primeiro as seguintes frases: "A carreira política do sr. Soares está cheia de sacanices" e "o comportamento daquela polícia de má memória (a PIDE, obviamente, esclarece o autor) é, apesar de tudo, bem mais decente que o dele". (pág. 197 e 198, "Editorial Intervenção"). E basta de citações. Que fique só o cheirinho... a merda de gato mal tapada»
GENERAL SILVA CARDOSO («25 DE ABRIL DE 1974. A REVOLUÇÃO DA PERFÍDIA»).
quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Pik Botha e Salazar, episódios desconhecidos...
A partir de 1966 [ P. W. Botha] foi um ministro da Defesa cujas opiniões e posições tinham o poder de afectar toda a África Austral. Ficou fascinado com Salazar e as suas concepções sobre o declínio da Europa, mas disse-lhe que Portugal ia perder a guerra porque subestimava o desenvolvimento económico e o progresso social. Aconselhou-o também a não confiar nos militares. Comungou com o seu amigo Ian Smith o desejo de intervir mais em Moçambique e em Angola para suprir as insuficiências portuguesas. Elevou a um novo patamar a cooperação militar tripartida (África do Sul, Rodésia e Portugal) e o intercâmbio entre os respectivos serviços secretos: BOSS, CIO, PIDE-DGS. Conheceu Caetano em Lisboa e achou-o debilitado pelas lutas internas. Nega que a África do Sul, ao colaborar secretamente com Portugal, quisesse abrir uma terceira frente de hostilidade, através do ataque à Tanzânia. Culpa os Estados Unidos e os promotores de uma satânica nova ordem mundial a ser criada pelo homem, sem Deus. Pieter Willem Botha, o lendário PW, primeiro-ministro (1978-1984) e presidente da República (1984-1989), foi um «peso pesado» da política regional durante a guerra na África lusófona.
Veio a Portugal no final de 1966 e no ano seguinte foi condecorado pelo Governo português com a grã-cruz da Ordem Militar de Cristo. Esteve com Câmara Pina, Salazar, Franco Nogueira. Então um jovem e impulsivo ministro sul-africano, criticou em São Bento a política de assimilação. Mas era mais forte aquilo que o unia a Salazar - a luta contra o comunismo.
Tive contactos directos e indirectos, antes de me tornar ministro da Defesa, com as autoridades portuguesas de Moçambique e Angola. Fui a Luanda e a Lourenço Marques. No final de 1966, quando já era ministro da Defesa, fui a Portugal para conversações bilaterais. O meu principal anfitrião foi o general Câmara Pina, um homem charmoso e interessante, altamente inteligente. E enquanto tínhamos discussões sobre matérias militares de interesse mútuo, com o ministro da Defesa e outros oficiais, o general Câmara Pina perguntou-me se eu gostaria de conhecer Salazar. Claro que sim, disse eu, se fosse possível, mas pensando que isso não seria possível. Câmara Pina disse que ia tratar do caso. Suponho que levantei a Câmara Pina uma objecção quando ele me sugeriu que me encontrasse com Salazar. Quando entrei na residência de Salazar, às seis e meia da tarde, fiquei numa pequena sala do tamanho de um estúdio. Lembro-me que nas estantes havia livros sobre África. Comigo estavam o general Câmara Pina e, segundo creio, o director da polícia política. O assunto principal da reunião era a cooperação entre Portugal, Moçambique e a África do Sul no plano económico, na área militar e ao nível político. Nós já tínhamos boas relações com Portugal. O ministro dos Negócios Estrangeiros do anterior governo da África do Sul era um bom amigo de Franco Nogueira, e tinha-me falado bastante de Salazar, que conhecera pessoalmente. Fiquei impressionado com a personalidade de Salazar como estadista. Falava devagar, de modo gentil, foi honesto na sua abordagem dos problemas. A certa altura da reunião levantei-me e disse: «Bem, acho que é tempo de me ir embora». Ele insistiu: «Não, não, quero falar mais consigo». E falámos durante mais de uma hora. Tinham-me dito que ele costumava estar com as pessoas só um quarto de hora, no máximo.
Eu quis saber de Salazar o que é que podíamos fazer para estreitar a troca de informações secretas entre os governos de Portugal e da África do Sul. Salazar perguntou-me o que é que eu pensava da situação na África Austral em geral e da situação em Angola e Moçambique em particular. Dei-lhe uma resposta franca, porque eu era então um jovem ministro impulsivo e uma pessoa franca: «Penso que vocês vão perder a guerra». Ele perguntou porquê. Eu disse que era porque Portugal advogava um sistema político baseado na assimilação, mas na verdade não praticava esse sistema.
Tinha estado em Moçambique e cheguei à conclusão de que os responsáveis cometiam erros na relação com as populações. Era preciso haver nos territórios portugueses maior desenvolvimento económico, um maior ajustamento, uma maior cooperação. Salazar escutava muito abertamente o que eu dizia, e ia fazendo perguntas. E depois perguntou-me se eu podia repetir ao ministro do Ultramar, Silva Cunha, o que tinha dito a ele, Salazar. Eu disse que sim e ficou combinada uma reunião para a manhã seguinte. Mas enquanto Salazar me ouviu abertamente e me pôs questões, Silva Cunha não me pareceu muito ansioso em ouvir-me. Fiquei com a impressão de que estava a falar por cima da cabeça de Silva Cunha.
Mas a conversa com Salazar foi muito interessante e não me esqueço dela. Ele expressou os seus pontos de vista sobre a situação no mundo. O seu grande tema era «o declínio da Europa», como lhe chamou. Segundo ele, a Europa tinha entrado num processo de declínio e África teria gravíssimos problemas por causa disso. «A África está em fogo», disse-me Salazar. E mais: «Estou a avisá-lo. O senhor é jovem e, se viver o suficiente, verá o dia em que a África será dividida em duas: uma a norte, de Dar-es-Salaam até à bacia do Congo; outra, a África Austral, que ficará isolada». E disse mais: «Se não soubermos agir, os Estados Unidos ficarão isolados do resto do mundo livre». E o senhor sabe uma coisa? Aqui, onde estou sentado a falar consigo, já pensei muitas vezes nas palavras de Salazar, porque o que ele me disse está a tornar-se verdade.
Salazar foi um visionário. E era também uma pessoa agradável, de quem se gostava pessoalmente. Não faço segredo desta opinião sempre que falo com alguém sobre Salazar. Digo sempre: «Ele foi uma das mais importantes e mais impressivas personalidades que conheci na minha carreira política». Isto foi no final de 1966 e foi a única vez que me encontrei com Salazar. Ele deu depois instruções aos ministros para que cooperássemos na troca de informações e para nos mantermos em contacto. Com o meu homólogo, Sá Viana, tínhamos essa cooperação que foi fortalecida por iniciativa de Salazar. Rebelo veio à África do Sul e eu fui outra vez a Portugal a seu convite. Quando me condecoraram em Portugal, penso que foi o general Gomes de Araújo que me condecorou, fui a um jantar oferecido pelo Governo e Franco Nogueira estava lá. Ele conhecia muito bem a África do Sul porque era amigo do antigo ministro dos Negócios Estrangeiros da África do Sul. Pareceu-me que Nogueira era um homem brilhante, com uma disposição positiva em relação à África do Sul e muito franco. Se ele discordava de algo dizia-o em termos muito francos, não era hipócrita, era um homem brilhante e civilizado.
P. W. Botha encontrou-se também com Caetano e recolheu uma ideia de intranquilidade. Foi-se tornando mais preocupante a situação militar em Angola e em Moçambique, onde o MPLA e a Frelimo se aliavam aos guerrilheiros que atacavam a África do Sul e a Rodésia. Ian Smith e P.W. Botha encontraram-se em Salisbúria e decidiram pressionar Lisboa a uma maior cooperação trilateral no plano militar.
Penso que depois da morte de Salazar as forças à volta de Caetano interpretaram a situação em África de uma maneira diferente. Mas lembro-me de ter dito a Salazar que ele não podia confiar nas suas Forças Armadas. A nossa perspectiva era divergente num ponto: eu pensava em termos de manter a ordem, mas ao mesmo tempo pensava numa administração civil forte e apropriada e na necessidade de haver desenvolvimento económico. Salazar não pensava assim. O que nós fizemos foi, a certa altura, dar ao Governo português uma série de aviões Dakota. Mas quanto aos Mirage, que o senhor diz que seriam para atacar as bases na Tanzânia, isso não sei. Tínhamos poucos Mirage disponíveis e estávamos a desenvolver a nossa indústria de material de guerra. O caso da Tanzânia é capaz de ter sido discutido com as autoridades portuguesas. Talvez tenhamos expressado a nossa concordância com esse tipo de cooperação. Se a ideia foi discutida - e aqui não estou a recorrer a notas mas apenas à minha memória - foi uma ideia vinda dos portugueses, que queriam proteger Moçambique dos ataques que vinham das bases. Mas a África do Sul, por ela própria, não tinha interesse na Tanzânia. A Tanzânia era o principal santuário da Frelimo, mas nós já estávamos a lutar em duas frentes. Tínhamos problemas originários em Angola e na frente oriental e para a África do Sul era muito importante não abrir uma terceira. Talvez Ian Smith partilhasse essa minha opinião. Eu estava realmente inquieto quanto ao modo como os portugueses faziam a guerra. Fui muito firme durante as nossas conversações e expressei os nossos pontos de vista. Mas devo lembrar que Portugal era muito orgulhoso da sua soberania e da sua independência e a nós, como nação independente, não nos cabia prescrever as soluções a Portugal. Sempre pensámos que Portugal tinha boas relações com a Grã-Bretanha e que era membro da NATO e não interferíamos porque sabíamos que o comunismo era um perigo na África Austral. Perigo em que Salazar acreditava, eu acreditava e ainda hoje acredito.
Olhando para trás, e agora estou só a teorizar e a filosofar, sem as minhas notas e os meus documentos, penso que Portugal era um elo importante entre a África Austral e a Europa. Era. E com um homem como Salazar no poder, esse laço estava a fortalecer-se. Porque a perspectiva de Salazar não era a de um ditador cruel. Era a perspectiva de uma cooperação entre o mundo ocidental e África. E de tornar África disponível através da Europa Ocidental. Salazar, na minha opinião, não confiava nos Estados Unidos. Eu também não tinha confiança nas políticas dos Estados Unidos. Um certo senador americano visitou-me e esteve aí sentado, na mesma cadeira em que o senhor está: «Mr. Botha, o que é que pensa dos Estados Unidos?» Eu perguntei-lhe: «Quer uma resposta diplomática ou uma resposta franca?» Ele disse que preferia uma resposta franca. Então eu disse que os americanos, como indivíduos, eram agradáveis e aceitáveis. Mas como país, como nação, não eram. «Porquê?», perguntou ele. Disse-lhe que pensava na história dos Estados Unidos para formular a minha opinião. Sob George Washington, eles tinha lutado pela liberdade. Mas desde então alguma coisa mudou no caminho dos Estados Unidos. Tornaram-se polícias de todo o globo. Hostilizaram De Gaulle na Segunda Guerra Mundial. Ele não gostava deles. Traíram a China de Chang Kai-Chek. Não trataram a Formosa (Taiwan) correctamente. «E por isto tudo», disse ao senador, «eu não gosto de vocês como nação, embora, como indivíduos, vocês possam ser aceitáveis». Não tenho comigo as notas nem os documentos para poder demonstrar o que vou afirmar, mas sei que havia enormes forças a trabalhar a partir de Moscovo, através de certos países do Ocidente e mesmo nos Estados Unidos, para criar uma nova ordem mundial. E eu não acredito numa nova ordem mundial. Não me interessa o que o senhor possa pensar sobre isto, mas eu não acredito numa nova ordem mundial criada pelo Homem. Não acredito que os seres humanos sejam capazes de criar uma nova ordem mundial. Acredito em Deus todo-poderoso, em Jesus Cristo e no Espírito Santo. Não acredito é que os seres humanos possam fazer esse trabalho por Deus. Portanto, não sou um seguidor da ideia de uma nova ordem mundial. O humanismo não pode ser um substituto para o Criador e para as ideias do Criador sobre a humanidade.
(In José Freire Antunes, A Guerra de África - 1961-1974, Círculo de Leitores, Vol. I, 1995, pp. 225-230).
A Guerra que ninguém quer falar...
As causas da decadência da educação pós 25 de Abril.
«Subordinado ao imperativo de homogeneização da existência social do homem e da mulher, do pai e da mãe, o socialismo leva o Estado a instituir, para as crianças entre os 3 e 5 anos, aquilo a que chama o ensino pré-primário destinado a substituir a educação que as mães estão impedidas de dar aos filhos pela sua ocupação no emprego a que, como os pais, se vem obrigadas. Depois, guiando-se por uma demagogia alimentada de ressentimentos e atavismos sociais e pela sua radical tendência para diminuir as faculdades intelectuais dos seres humanos, o socialismo procura alargar ao ensino da escola primária os "entretenimentos" da escola pré-primária. Nesta fase, diz que os filhos dos proletários não "gozaram" desse ensino pré-primário e será portanto necessário compensá-los de tal falta, embora em idade já tardia e imprópria. Os governos comunistas de 1974 e 1975 fizeram dos entretenimentos pré-primários matéria de ensino nos primeiros anos da escola primária. Adequados a crianças entre os 3 e os 5 anos de idade, esses entretenimentos foram assim impostos a crianças de 6, 7 e 8 anos, já abertas para o verdadeiro ensino. Os resultados, alguns já dramáticos, conduzirão, num prazo mais ou menos breve, ao aparecimento de uma geração de adolescentes com deformações e atrasos mentais talvez irrecuperáveis.
Noutro aspecto, ao lado da introdução de numerosas "inovações" pedagógicas de carácter marxista, acentuaram-se e aceleraram-se aquelas que, com o mesmo carácter, haviam sido introduzidas durante os governos de Caetano e até de Salazar. Foi assim que um "princípio fundamental" da pedagogia veiga-simonista, o de "evitar a clássica concepção épica da história" e "não dar relevo às figuras, das quais se fazia depender o curso dos acontecimentos", foi adoptado pelos governos comunistas e socialistas durante os últimos três anos. Apenas negativo na sua versão veiga-simonista, aquele "princípio pedagógico" foi buscar o seu aspecto afirmativo à teoria da história do marxismo. Em consequência, as faculdades mitogénicas, que são nas crianças o motor da inteligência, viram-se desse modo esmagadas tanto no ensino secundário como no primário, e os professores foram obrigados a explicar o "curso dos acontecimentos" por incompreensíveis e abstractas razões economistas de mais do que discutível cientificidade. Aliás, os conceitos do economismo intervencionista passaram a presidir à generalidade do ensino, desde o da história até ao de português. Assim se satisfaz a grotesca reivindicação daquele ministro caetanista que, numa mesa-redonda do semanário "Expresso", explicava pouco antes de 25 de Abril: "ensine-se, com o leite (sic), economia às crianças" e nos livros de estudo como nos exercícios escolares, as crianças deparam hoje com noções como "mais-valia" e expressões deste teor: "o helenismo foi um produto da burguesia"».
Orlando Vitorino («Exaltação da Filosofia Derrotada»).
O retrato do povo português.
«Sendo o Português no geral bondoso, sofredor, espanta que se transmude intrepidamente em violento e cruel.
É a "ira do manso", a pior, segundo Unamuno. Outros autores assinalaram esse aspecto revelado em certas páginas breves, mas extremamente brutais da nossa História, em que há lances de cólera cega. Tais episódios parecem desmentir a brandura do carácter e dos costumes, a baixa criminalidade do nosso povo.
(...) A brandura, o carácter amoroso, a generosidade humana dos Portugueses parece-nos uma constante, certificada em todas as épocas, mediante literatura, arte, obras pias e o trato com a restante Humanidade. Outra constante, por igual certificada pelos séculos, é a do heroísmo, da bravura no combate.
Já a violência é intermitente, por explosivismo dos recalques de um povo sofredor e resignado, por atiçamento passional sobre as circunstâncias que destemperam a nossa peculiar sensibilidade, quais sejam o cálculo pérfido, a traição, a usura desapiedada. Isso exprime-se em condescendência beneficiária daqueles que, perdendo a razão por decepções sentimentais, acaso foram cruéis; dos violentos cheios de razão; dos que, possuídos por um idealismo apaixonado, esquecendo-se de si próprios, também puderam incorrer nalgumas desatenções ou desvios de sensibilidade
Dispensamo-nos de apresentar exemplos, visto que são flagrantes; de uma História Pátria que é das menos sangrentas ressaltam com nitidez as violências perdoadas e as não perdoadas. E pelas razões expostas».
Francisco da Cunha Leão («Ensaio de Psicologia Portuguesa»)
segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Desmontando a narrativa do politicamente correcto.
Um Conto de Duas Operações Psicológicas
(Nota minha: Pois é... mas os pretensos “despertos” caem que nem patinhos...)
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Era uma vez, num planeta chamado Terra, um império capitalista global. Foi o primeiro império global da história dos impérios. Dominava todo o planeta.
Ninguém sabia o que chamar ao império, porque nunca tinha havido nada semelhante na história. Não tinha adversários externos, pelo que não lhe restava mais nada a fazer do que “limpar e manter”, isto é, neutralizar a resistência interna e consolidar o seu domínio sobre o planeta.
Foi isso, portanto, que começou a fazer.
Fê-lo primeiro nos territórios do seu último adversário ideológico, um império chamado União Soviética, cuja ideologia era conhecida como “comunismo”.
Isto era conhecido como a “Era Pós-Guerra Fria”.
Fê-lo a seguir no Grande Médio Oriente, onde as pessoas ainda tentavam viver as suas vidas de acordo com uma religião conhecida como “Islão”.
Isto ficou conhecido como a “Guerra Global contra o Terror”.
A Guerra Global contra o Terror foi originalmente planeada para durar para sempre, e teria continuado, e continuará, mas teve de ser temporariamente suspensa e rebaptizada, porque algo inesperado aconteceu.
Um dia, no Verão de 2016 - até então oficialmente “O verão do Medo” – o império global-capitalista reparou que uma nova forma de resistência ao seu domínio de todo o planeta se tinha erguido, não na antiga União Soviética, ou no Grande Médio Oriente, mas em todo o Ocidente, mesmo no coração do império.
E assim a Guerra contra o Terror foi suspensa e começou a Guerra contra o Populismo.
A Guerra contra o Populismo grassou durante quatro anos e culminou com o lançamento do Novo Normal, oficialmente conhecido como “a pandemia de Covid”.
Durante mais de dois anos, isto é, de Março de 2020 a aproximadamente Dezembro de 2022, o império capitalista global transformou-se numa nova forma de totalitarismo, uma forma de totalitarismo capitalista global, que não se assemelhava a nenhuma outra forma de totalitarismo anterior.
Este período foi a fase de choque e pavor lançamento do Reich do Novo Normal. A transição para o Reich do Novo Normal foi transmitida por todo o império global. A mensagem era inequivocamente clara. De agora em diante, haveria um “Novo Normal”. Seria como um estado permanente de guerra, um estado permanente de guerra civil. E assim, a partir de agora toda a gente teria de jurar fidelidade ao Reich do Novo Normal, e seguir as ordens, ou ser rotulado de “extremista”, “negador da ciência”, “teórico da conspiração”, ou qualquer outro tipo de anormal sedicioso.
A grande maioria dos cidadãos do Ocidente compreendeu a mensagem, seguiu as ordens e jurou fidelidade ao Reich do Novo Normal. Mas uma minoria significativa não o fez. O império capitalista global precisava de neutralizar esta minoria significativa.
A maioria dessa minoria significativa era composta por conservadores, libertários e outras pessoas basicamente de tendência à direita. Continha algumas pessoas de esquerda da velha guarda, mas eram uma minoria dentro de uma minoria, e por isso não eram realmente um factor quando se tratava de neutralizar a minoria maior, o que o império prontamente começou a fazer.
A Operação Psicológica da Liberdade de Expressão do Twitter
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Em Outubro de 2022, Elon Musk, o empreiteiro militar multimilionário, vendedor de carros eléctricos e entusiasta do transumanismo, e um círculo restrito de entidades e indivíduos capitalistas globais sérios (1º comentário) compraram a plataforma de rede social conhecida como Twitter, Inc. por 44 mil milhões de dólares americanos.
Musk entrou na sede do Twitter, em São Francisco, sorrindo como um chimpanzé e carregando um lavatório de casa de banho, e a Operação Psicológica da Liberdade de Expressão do Twitter começou (2º comentário).
Durante a Guerra contra o Populismo e a fase de choque e pavor do lançamento do Reich do Novo Normal, o Twitter, Inc., e todas as outras plataformas de redes sociais e meios de comunicação de massas no mundo ocidental, tinham estado a funcionar como o Ministério da Verdade do império, disseminando a propaganda oficial do Novo Normal, censurando a dissidência e despersonalizando qualquer um que desafiasse as narrativas oficiais do império. E assim, proporcionou o palco perfeito para a Operação Psicológica que o império estava prestes a conduzir.
Musk reintegrou uma série de contas do Twitter proeminentes, principalmente conservadoras, que tinham sido deploradas por “publicar desinformação” acerca do portátil de Hunter Biden e das “vacinas Kobid”, e por publicar “incitamento” e “glorificação da violência” (3º comentário), e fanatismo e outros conteúdos ofensivos, entre elas, a conta de Donald Trump, e dezenas de milhares de apoiantes de Trump.
Como Elon tinha prometido, “o pássaro foi libertado” (4º comentário)! Os acólitos de Elon e os trumpianos comuns e outras pessoas de direita, agradecidos, afluíram ao Twitter para agradecer ao seu salvador por ter invertido o alvo demográfico da empresa, salvando assim a América do “Marxismo Cultural”, do “Comunismo” e do “Vírus da Mente Woke”.
A Operação Psicológica continuou com um ponto de encontro limitado a livros didácticos conhecido como “Twitter Files”. Musk deixou alguns jornalistas cuidadosamente seleccionados fazerem algumas pesquisas na sede do Twitter, que expuseram a forma como a antiga equipa do Twitter tinha estado a colaborar com elementos da administração Biden (isto é, não o império capitalista global) para censurar e banir contas das pessoas – principalmente aquelas no novo alvo demográfico “vermelho” – e fazia parte de um “Complexo Industrial de Censura” estritamente operado pelos EUA, que não era de todo uma operação global, e não tinha nada a ver com qualquer império capitalista global ou com um “Reich do Novo Normal”, porque toda a censura e “shadowbanning” – que estava tudo no passado agora que Elon estava no comando – era o trabalho de uma cabala de burocratas liberais do estado profundo, que eram todos um bando de “comunistas”. ”
Estas revelações dos “Ficheiros do Twitter” levaram os republicanos do Congresso dos EUA a realizar uma série de audiências de subcomissão sobre o comportamento possivelmente inconstitucional da administração Biden e dos seus mandatários liberais (isto é, não do império capitalista global), que tinham forçado o Twitter, Inc., e as outras empresas da Internet totalmente indefesas ao “shadowbanning” e à censura dos americanos (isto é, não todas as outras pessoas em todo o império que essas empresas também estavam a censurar de forma claramente coordenada).
E depois, na Hora H, uma vez que a história tinha sido enquadrada numa narrativa “vermelha/azul” centrada nos EUA, Musk fechou o ponto de encontro limitado “Twitter Files” (5º comentário), isto é, antes que pudesse causar qualquer dano ao próprio império capitalista global.
Durante os dois anos seguintes, Elon e os seus compinchas inundaram o seu novo alvo demográfico com propaganda “Liberdade de Expressão no Twitter”, hagiografia sentimental de Elon Musk e uma série interminável de truques de relações públicas. O Twitter foi oficialmente rebaptizado como “X”. Musk entrou em guerra com o Darth Vader do Brasil, Thierry Breton e outros “comunistas” variados. Os utilizadores do Twitter foram assediados com memes de Elon vestido de Capitão América da Liberdade de Expressão. Etc.
E assim nasceu o Culto de Musk.
Entretanto, o X continua a censurar e a “filtrar a visibilidade” de conteúdos a mando de governos de todo o império, bem como para promover os seus próprios objectivos.
Se pensam que esse facto teve um impacto negativo na Operação Psicológica da Liberdade de Expressão no Twitter, pelo contrário, o Culto de Musk apenas se tornou mais amplo e mais forte. Como qualquer outro culto (6º comentário), é impermeável aos factos. Tudo o que importa é a lealdade ao culto, ao líder do culto e à narrativa oficial do culto. Podem direccionar os cultistas de Musk para as páginas de segurança do Twitter onde é explicado o “filtro de visibilidade” (7º comentário) e citar inúmeros exemplos da hipocrisia de Musk (8º comentário), e não terá efeito absolutamente nenhum. Como qualquer outro líder de culto de sucesso, Elon é irrepreensível, incapaz de pecar, um deus feito carne.
Mas deificar Elon não era o objectivo principal da Operação Psicológica da Liberdade de Expressão no Twitter.
O objectivo principal da Operação Psicológica da Liberdade de Expressão no Twitter era aproveitar, encurralar e estabelecer o controlo sobre a maioria da minoria significativa de pessoas que se recusaram a seguir ordens e a jurar fidelidade ao Reich do Novo Normal quando foi lançado durante a “pandemia de Kobid”. Essas pessoas precisavam de ser reunidas em rebanho, numa massa manipulável e redireccionadas para longe do império capitalista global e para um beco sem saída inofensivo onde pudessem gritar e berrar contra os bodes expiatórios designados pelo império até se fartarem. O Culto de Musk foi apenas um meio de os juntar em rebanho e conduzir a esse beco sem saída.
O “Twitter da Liberdade de Expressão” é esse beco sem saída, e é um microcosmo de um beco sem saída maior.
O que nos leva à segunda Operação Psicológica.
A Operação Psicológica da América Tornada Grande de Novo
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Uma das maneiras mais eficazes de neutralizar um adversário é deixá-lo ganhar. Isto é especialmente verdade quando se está a lidar com um adversário que nunca se pode derrotar completamente.
O que fazes é atrair o adversário para uma batalha que te podes dar ao luxo de perder, porque precisas realmente de perder a batalha e deixar o teu adversário ganhar, isto é, não apenas enganá-lo, fazendo-o pensar que ganhou, porque... bem, o adversário não é estúpido.
Esta batalha para a qual atrais o teu adversário e o deixas ganhar será uma batalha por um território dentro de um território, mas que o teu adversário acredita ser “o território”. Podes dar-te ao luxo de perder o controlo deste território dentro de um território porque controlas o território em que ele existe e porque o teu adversário não sabe disso.
O truque é fazer com que o teu adversário acredite que, ao ganhar esta batalha, ganhou “a guerra”, e que agora controla “o território”, e que te destruiu, ou que te retirou do poder, quando, na verdade, tudo o que o teu adversário destruiu ou retirou do poder foi um engodo corpóreo, uma encarnação material de um adversário invisível, imaterial, um adversário que eles não sabem que existe, ou do qual se recusam a reconhecer a existência... assumindo, claro, que é isso que tu és.
Nesse momento, neutralizaste o teu adversário.
Por exemplo, digamos que és um império global, um império global-capitalista supranacional, e digamos que o teu adversário é uma insurgência populista, uma massa potencialmente revolucionária, que precisas de distrair da contemplação da tua natureza supranacional, invisível e imaterial, e do facto de os governos dos estados-nação serem essencialmente componentes administrativas desse império imaterial invisível que és, e assim, não te importa realmente qual o partido político que administra esses estados-nação ou quem são os líderes desses partidos, porque eles não podem causar-te grandes danos, porque tudo o que controlam são os territórios materiais dentro do território imaterial que tu controlas, que predetermina o contexto e o âmbito das suas acções, e os parâmetros das suas imaginações, e ... OK, provavelmente estão a ver onde isto vai dar.
Ou, não sei, talvez não vejam. Portanto, deixem-me tentar simplificar.
Não há nenhuma “América” para tornar grande de novo. A “América” é uma simulação. É um mapa de um território que não existe. É um sonho dentro de um sonho num filme que ninguém consegue ver porque toda a gente está a ver. É um nome de marca para um produto imaginário.
OK, isso não simplificou as coisas, pois não? Deixem-me tentar mais uma vez.
Estamos a viver num império capitalista global. Um grande império capitalista global. Temos estado a viver nele nos últimos trinta e tal anos. Todos nós. Americanos. Canadianos. Os britânicos. Franceses. Australianos. Alemães. Russos. Israelitas. Palestinianos. Iranianos. Todos nós.
O império capitalista global não é uma cabala de indivíduos poderosos. É um sistema. E esse sistema está a evoluir. A metamorfosear-se. A transfigurar-se. A evoluir para uma nova forma de totalitarismo. Uma forma de totalitarismo capitalista global.
É o sistema, e não os seus servos, que está a conduzir... a conduzir esta evolução sistémica. Não faz qualquer diferença se Elon Musk, ou Donald Trump, ou Macron, ou Starmer, ou Netanyahu, ou Gates, ou Bezos, ou Soros, ou qualquer outro “líder” político ou figura poderosa sabe o que está a fazer. Servem o sistema, como o sistema exige, cada um de acordo com o seu papel específico e âmbito de acção dentro do sistema.
Elon Musk não “salvou a liberdade de expressão” ou “resgatou o Twitter” de um “Vírus da Mente Woke”. Ele comprou uma empresa e mudou a marca do seu produto para um novo mercado demográfico. Ao fazê-lo, ele encurralou e neutralizou a maior parte da resistência populista conservadora à evolução do sistema capitalista global ... que é o que o sistema precisava que acontecesse. Não faz qualquer diferença se Elon Musk compreendeu o seu papel. Desempenhou-o na perfeição. E continua a desempenhá-lo na perfeição.
O culto de Musk está a crescer. Os seus apóstolos estão a pregar o Evangelho de Elon por todo o império, preparando o caminho para A Privatização de Tudo! Em verdade, é o alvorecer de uma era dourada de “Liberdade” regida por empresas globais e oligarcas beneficentes!
No entanto, antes que essa idade de ouro possa começar, a América tem de voltar a ser grande! E assim a Operação Psicológica da Liberdade de Expressão no Twitter tem de ser repetida a nível macro. A mesma resistência populista conservadora à evolução do sistema capitalista global que Musk encurralou e neutralizou precisa de ser encurralada e neutralizada em todo o lado... não apenas na América, em todo o lado, em todo o Ocidente e no resto do império.
Uma vez encurralada e neutralizada, e instigada a um frenesim o “Wokeness”, o “Marxismo Cultural” e o “Comunismo”, pode ser libertada sobre os remanescentes da era moribunda dos estados-nação, soberania nacional, constituições, e assim por diante, o que levará os Poderes Globais Que São a tomar medidas extremas para “defender a democracia”, o que levará os Outros Poderes Globais Constituídos a tomar medidas mais extremas para “Resgatar a República”, o que levará os Poderes Globais Constituídos a tomar medidas ainda mais extremas para “defender a democracia do fascismo” e ... OK, desta vez, acho que estão a ver onde isto vai dar.
Ou, não sei, talvez não vejam. Mas acho que não consigo simplificar mais as coisas. E não vejo nenhuma maneira de o parar ou de o corrigir. Não é um erro a ser corrigido. É a evolução orgânica de um sistema... um sistema supranacional que evolui para uma nova forma totalitária.
Portanto, aqui têm, uma história de duas Operações Psicológicas. Lamento que não seja tão reconfortante como uma história acerca de como Donald Trump e Elon Musk e os seus investidores capitalistas globais, e as suas subsidiárias, agentes e mandatários, vão “tornar a América grande outra vez”.
Se serve de consolo, uma coisa é certa... aconteça o que acontecer, não vai ser aborrecido.
CJ Hopkins
(Dramaturgo premiado, romancista e satírico político americano a viver em Berlim. As suas peças são publicadas pela Bloomsbury Publishing e pela Broadway Play Publishing, Inc. O seu romance distópico, Zone 23, é publicado pela Snoggsworthy, Swaine & Cormorant. Os volumes I e II do seu Consent Factory Essays são publicados pela Consent Factory Publishing, uma subsidiária integral da Amalgamated Content, Inc.).
19.Novembro.2024
(Tradução de Isabel Conde)
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