"Todas as grandes civilizações descansam sobre uma antiga tradição que atravessa o tempo e transporta com ela as chaves do reino. Todas têm por origem o livro ou a palavra de um sábio, de um profeta ou de um poeta fundador. A tradição chinesa com Confúcio, a tradição himalaia com Buda, a semita com Moisés e Maomé, a tradição hindu com os Vedas, a tradição europeia com Homero. A tradição não ensina a construir um computador. Revela os princípios de perpétuas regenerações. Saber que se é filho de Ulisses e Penélope e não de Maomé, Abraão ou Buda, não é indiferente."
Essa consciência favoreceu a espectacular modernização da China pelo regresso a Confúcio. Para os europeus, é um mistério perturbante. Impregnados por uma visão teleológica da história, pela cultura do progresso, pelo desprezo pelo passado e pela sua ausência de memória longa, encontram-se desamparados perante o descomunal movimento mundial de retorno identitário que vêem facilmente como uma regressão. Na sua cegueira, procuram soluções técnicas (políticas, económicas, organizacionais) para uma crise de civilização que é espiritual. (...) Desnorteados pela falta de memória identitária e pela sua terrível derrota histórica do século de 1914, não têm agora outra opção que não seja a de recorrer à fonte de energia espiritual donde surgiu o impulso inicial da sua civilização há vários milénios. Impregnar-se da exegese de Homero, para os europeus, de Confúcio para os chineses, de Maomé para os muçulmanos, é viver na companhia de modelos que alimentaram a parte mais autêntica das respectivas civilizações. Não é voltar para trás, é reactualizar os princípios vivos de um específico ideal de vida.
Os homens só existem pelo que os distingue: clã, linhagem, história, cultura, tradição. Não há uma resposta universal às questões da existência e do comportamento. Cada povo dá as suas respostas, sem as quais os indivíduos, homens ou mulheres, privados de identidade e de modelos, são precipitados numa perturbação sem fundo. Como as plantas, os homens não podem prescindir de raízes. Mas as suas raízes não são apenas as da hereditariedade, às quais se pode ser infiel; são também as do espírito, isto é, da tradição que cabe a cada qual reencontrar."
Dominique Venner
"A verdade, a decisão, o empreendimento, saem do menor número; o assentimento, a aceitação, da maioria. É às minorias que pertencem a virtude, a audácia, a posse e a concepção." Charles Maurras
sábado, 27 de fevereiro de 2021
A tradição como futuro.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
Entrevista com Roger Scruton.
«Um bom número de intelectuais ingleses interpretou a onda de vandalismo em Londres e arredores como atos de jovens niilistas sem maiores repercussões. O senhor concorda?
Acho essa explicação muito simplista. Muitos desses desordeiros são realmente niilistas, que não acreditam em nada e não se identificam com nenhuma instituição, crença ou tradição capaz de fazer florescer em cada um deles o senso de responsabilidade e o respeito pelo próximo. Alguns não têm emprego. Mas, na maior parte dos casos, eles agiram por uma escolha deliberada. Desemprego e niilismo sempre existiram. Ninguém mencionou como uma das causas da baderna a deformação causada nesses jovens pelas políticas do estado do bem-estar social. Diversos estudos mostram com clareza a vinculação desses programas assistencialistas com a proliferação de uma classe baixa ressentida, raivosa e dependente. Não quero ser leviano e culpar apenas as políticas socialistas pelos tumultos. As pessoas promovem arruaças por inúmeras razões. Entre os jovens, a revolta é uma condição inerente, um padrão de comportamento. Mas é preciso um pouco mais de honestidade intelectual para buscar uma resposta mais concreta sobre o que ocorreu em Londres. Por debaixo do verniz civilizatório, todo homem tem dentro de si um animal à espreita. Infelizmente, se esse verniz for arrancado, o animal vai mostrar a sua cara. A promessa de concessão de direitos sem a obrigatoriedade de deveres e de recompensas sem méritos foi o que arrancou o verniz nessa recente eclosão de episódios de vandalismo na Inglaterra.
Os distúrbios em Londres e os protestos no Cairo, em Atenas, em Madri e em Tel-Aviv são um mesmo “grito dos excluídos”?
Sou cético em relação à ideia de que os protestos que eclodiram em diversos pontos do mundo têm a ver com exclusão, com o suposto aumento no número de pobres ou com concentração de renda. Os baderneiros de Londres são, pelos padrões do século XVIII, ricos. Desculpe-me, mas é resultado de exclusão depredar uma cidade porque você tem só um carro, um apartamento pequeno pelo qual não paga aluguel, recebe mesada do governo sem ter de fazer nada para embolsá-la, compra três cervejas, mas gostaria de beber quatro, e acha que ter apenas um televisor em casa é pouco? Não. Ver exclusão nesses episódios só faz sentido na cabeça de um professor de sociologia. É um absurdo também comparar os tumultos de Londres com os eventos no Oriente Médio. Os jovens do Egito exigiam algo do governo. Os jovens ingleses não dão a mínima para o governo ou para as instituições.
No seu último livro, o senhor afirma que o otimismo é mais nocivo para os indivíduos e para as nações do que o pessimismo. Como o otimismo pode ser tão prejudicial?
Não falo do otimismo como virtude, nem da esperança ou da fé, que servem para a elevação espiritual do indivíduo e fomentam inovações e avanços. O otimismo prejudicial é o desmedido ou, como disse o filósofo Arthur Schopenhauer, o otimismo mal-intencionado, inescrupuloso. É o tipo de pensamento que está por trás de todas as tentativas radicais de transformar o mundo, de superar as dificuldades e perturbações típicas da humanidade por meio de um ajuste em larga escala, de uma solução ingênua e utópica, como o comunismo, o fascismo e o nazismo. Otimismo e utopia em excesso geralmente acabam em nada, ou, pior, dão em totalitarismo. Lenin, Hitler e Mao pertencem a essa categoria de otimistas inescrupulosos. A crise financeira e institucional da Europa é a mais recente consequência do pensamento utópico e do otimismo exagerado que são a base, o fundamento e a força propulsora da União Europeia.
Pode-se reduzir a União Europeia apenas a uma manifestação de otimismo utópico e insensato?
É uma ilusão, se não uma loucura, acreditar que os alemães e os gregos podem pertencer à mesma organização e se adequar às mesmas normas financeiras. Como impor a mesma moeda, o mesmo sistema e o mesmo modo de vida ao alemão trabalhador, cumpridor das leis, respeitador da hierarquia, e ao grego fanfarrão e avesso às normas? Arrisco-me a dizer que a União Europeia é um fracasso porque contém as insanidades institucionais do velho experimento comunista. Assim como o comunismo soviético, a União Europeia é um objetivo inalcançável, pois foi escolhido pela sua pureza, que exige que todas as diferenças sejam atenuadas, os conflitos superados, e no qual a humanidade deve se encontrar como que sob uma unidade metafísica que jamais pode ser questionada ou posta à prova.
Apesar do colapso do comunismo e de outras tragédias semelhantes, as pessoas continuam caindo por causas utópicas. Por quê?
O pensamento utópico sobrevive porque não se trata de uma ideia de fato, mas de um substituto de uma ideia, algo que serve de alívio para a difícil — e geralmente depressiva — tarefa de ver as coisas como elas são realmente. É uma forma de vício, um curto-circuito que afasta os indivíduos da razão e do questionamento racional e efetivo. O pensamento utópico nos remete diretamente para um objetivo, passando por cima da viabilidade do projeto. É fácil digeri-lo e se embeber do seu otimismo mal-intencionado e sem fundamento. O problema vem depois, quando a utopia termina em fiasco.
O ambientalismo é a grande utopia moderna?
Há dois tipos de ambientalista. O primeiro sonha com soluções amplas, inalcançáveis, cujo objetivo real não é promover o bem de ninguém nem do planeta, mas sim inflar o ego de seus criadores. O segundo é realista, segue o caminho conservador e reconhece que o que deve ser feito em prol do ambiente é difícil, atinge um número limitado de pessoas ou de lugares e exige sacrifícios reais. O problema é que a questão ambiental foi parar nas mãos erradas. A esquerda transformou a proteção do meio ambiente em uma causa, em um movimento que necessita de intervenções estatais, em um assunto no qual há culpados e vítimas. No caso, os culpados são os capitalistas e a vítima é o planeta. A esquerda adora o culto à vítima.
Que tradição é essa?
É uma tradição esquerdista, que vem desde o século XIX e de Karl Marx, em particular. Consiste em julgar toda forma de sucesso humano a partir do fracasso dos outros. Com base nisso, engendrar um plano de salvação para os mais fracos. Esse é um dos motivos pelos quais os movimentos de esquerda continuam a fazer sucesso. Eles sempre oferecem uma causa justificável e uma vítima a ser resgatada. No século XIX, a esquerda pretendia salvar os proletários. Nos anos 60, a juventude. Depois, vieram as mulheres e, por último, os animais. Agora, eles pretendem resgatar o planeta, a maior de todas as vítimas que encontraram para justificar seus atos. Ora, as questões ambientais são reais e não podem ser enclausuradas na ideologia de esquerda. Temos o dever de cuidar do ambiente e sacrificar os nossos desejos para garantir um lar, um futuro para as próximas gerações. O problema é radicalizar a questão no bojo de um movimento com conotações até religiosas. Preservar o ambiente virou uma questão de fé. Está na hora de acabar com o pensamento de que a sociedade é um jogo de soma zero, segundo o qual se um ganhar o outro tem de perder. Com práticas ambientais sustentáveis, todos ganham.
Onde mais se revela essa ideia da “soma zero” das relações humanas?
Ela é o refrão central dos socialistas, é o principal inimigo da caridade, da gentileza e da justiça. Na política internacional, essa forma de pensar se expressa com toda a clareza no antiamericanismo. Os Estados Unidos, a maior economia do mundo, o maior poderio militar, se tornaram o alvo principal dos ressentidos, dos que se consideram fracassados por causa do sucesso alheio. O ataque às Torres Gêmeas, há dez anos, é uma mostra do que o ressentimento coletivo estimulado pela falácia da soma zero é capaz de causar.
Por que o senhor critica tanto a política de imigração dos países europeus?
A imigração em massa não é um assunto fácil. Basta escrevermos a palavra imigração para sermos mal interpretados. Não sou contra a imigração. Minha opinião é que os imigrantes só se adaptarão a um país se forem incorporados legal e culturalmente à nação que os recebe. Para que isso dê certo, os forasteiros precisam superar o sentimento de distância que eles possuem em relação ao novo país. Foi o que aconteceu nos Estados Unidos, no passado. Os países europeus fazem justamente o oposto ao incentivar o multiculturalismo: encorajam as comunidades de estrangeiros a manter sua cultura e identidade, a não se misturar. Dessa forma, os imigrantes passam a se definir como diferentes, afastados, excluídos da comunidade, o que só faz crescer as tensões entre os grupos étnicos. Os recentes tumultos em Londres devem-se, em parte, ao multiculturalismo.
Análises como essa sua visão têm sido atacadas por, potencialmente, fomentar atentados como o que traumatizou a Noruega, em julho.
O que é fazer parte de uma minoria no mundo acadêmico?
Eu acordei do meu delírio socialista durante os tumultos de maio de 1968, em Paris. No meio da destruição, das barricadas e das janelas quebradas, percebi que aqueles estudantes estavam intoxicados pelo simples desejo de destruir coisas e ideias, sem a mínima preocupação em colocar algo relevante no lugar. Foi difícil aceitar que meu futuro era me tornar um pária intelectual em meio à maioria esmagadora de esquerdistas. Em todo o mundo, as universidades têm uma declarada inclinação pela esquerda. É difícil explicar o motivo dessa propensão esquerdista, algo que persiste desde o Iluminismo. Na minha tentativa de desvendar esse mistério, cheguei à seguinte conclusão: quando uma pessoa começa a pensar sobre as grandes questões que afligem o homem e a sociedade, tende a aceitar as posições da esquerda, pois elas parecem oferecer soluções. Ao pensar além, ao se aprofundar, a pessoa aprende a duvidar e rejeita o argumento esquerdista. Nas universidades muita gente pensa, mas poucas refletem profundamente.
O que é um conservador?
É alguém que considera a liberdade um valor, um objetivo, mas não chama isso de um ideal. O conservador reflete sobre coisas reais e sabe que a liberdade verdadeira é obtida sob leis e regras, pois sem instituições não há liberdade, mas selvageria.»
Entrevista publicada na Revista Veja em 21/09/2011
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021
A morte de Humberto Delgado, a armadilha comunista.
Aqui fica o depoimento de Maria Armanda Falcão, mais conhecida pelo pseudónimo de Vera Lagoa, relativamente ao assassinato de Humberto Delgado e a tudo que o rodeava em termos de interesses políticos, neste caso na esquerda.
«Em Janeiro de 1964, realizava-se a II Conferência da Frente Patriótica, e o General [Delgado], agora presente, conseguiu impor a constituição da Junta Revolucionária Portuguesa e do Comando Operacional.
Do que consta das suas resoluções, oferecemos a seguir um extracto. Nelas, proclamava-se a urgência absoluta de produzir a luta a curto prazo. Foram seus signatários os membros da II Conferência da Frente Patriótica, os seus dirigentes, o General Humberto Delgado, o secretário do Partido Comunista Português, Álvaro Cunhal, e o prof. Rui Luís Gomes.
"... Portugal atravessa a MAIOR e MAIS GRAVE crise da sua longa história; a situação económica agravou-se; grandes sacrifícios são impostos à população trabalhadora; as classes médias, os pequenos e médios industriais, os pequenos e médios comerciantes, os pequenos e médios agricultores, pagam pesados impostos; a dependência crescente da economia nacional aos interesses estrangeiros, por concessões negociadas em troca de investimentos e empréstimos que põem em PERIGO a independência nacional e que tomam o aspecto grave da utilização do território português por forças militares de outros países; a conferência... concordou em APRESSAR o processo revolucionário... Para a preparação NO MAIS CURTO PRAZO das condições insurreccionais; a situação do país é EXTREMAMENTE GRAVE; os compromissos aceites pelo governo fascista... põem em PERIGO a independência nacional e o futuro do País".
"(...) Em conclusão, verifica-se que, quer os dirigentes da Frente Portuguesa, quer os da Frente Patriótica, reconhecem nos comunicados e resoluções da I e II Conferências, de que todos foram responsáveis e signatários, a urgência duma acção revolucionária, invocando até razões de salvação nacional e outras de extrema gravidade".
Mas, logo em 27/1/964, em entrevista concedida ao jornal francês L'Humanité, reproduzida no Portugal Democrático n.º 81, de Março, de 64, Álvaro Cunhal declarava não existirem, na realidade, condições para o desencadeamento dessa luta, devendo o Partido prosseguir no seu trabalho de 'catequização' e organização de massas. O Secretário-Geral do PCP traía, assim, a proclamação e as resoluções de que pouco antes fora signatário.
Mas, mesmo à luz dessa traição, alguma coisa continuava errada.
Como aceitar-se que Álvaro Cunhal se tivesse disposto a apresentar-se, publicamente, como um homem de duas caras, traidor das suas próprias resoluções?
Só uma razão de bastante força, ou de interesse bastante, o levaria a isso. Mas o quê?
O plano imediato do Partido Comunista Português consistia, em linhas gerais, em inutilizar, para a acção, o General Humberto Delgado, impedindo-o de levar a cabo a derrubada do fascismo, por forma a que, no interior do país, fossem, ao longo dos anos, criando as condições necessárias à sucessão inevitável da ditadura salazarista, pela cunhalista.
Um tal programa deveria ser levado a efeito com um mínimo de consequências e repercussão. Era, contudo, necessário realizá-lo antes que fosse demasiado tarde; em teoria, antes de 1965, ano em que se realizariam as eleições presidencial e para deputados.
Enquanto o General Humberto Delgado se manteve pelo Brasil, o Partido limitou-se a sabotar, uma após outra, as suas tentativas de promoção de acções armadas, quer elas tivessem o objectivo de criar um clima revolucionário, quer o de produzir a queda do governo salazarista. E foi assim que a revolta de Beja se perdeu, antecipadamente, em Lisboa e Marrocos; que, posteriormente, um elemento ligado ao Partido deu descaminho duma remessa inicial de material de guerra, que o General fizera chegar ao interior para, em consequência do malogro da operação de Beja, aproveitar o clima que dela resultou, por forma a levar ao desenvolvimento dum processo revolucionário; que as grandes manifestações académicas e populares, que se estenderam pelo primeiro semestre de 1962, viriam a quebrar pela acção pacifista dos agentes do Partido, empenhados na defesa das acções legais e semi-legais, que o Povo Português [?] repudiava, por inúteis e revolucionariamente ultrapassadas.
Mas a revolta de Beja, em consequência do clima post-eleitoral de 1961, a envergadura, a frequência e o carácter, das manifestações de 1962, foram o sinal de alarme, quer para o governo, quer para a direcção do Partido. Um e outro, viram no ano eleitoral de 1965 um grave período de crise, no qual poderiam jogar-se forças e circunstâncias, que levassem à queda da ditadura. Daí resultou que, ambos, circunstancialmente irmanados, não hesitariam em conjugar a sua acção contra o General, sem que para tanto fosse necessário qualquer acordo contratual.
Assim, o Partido Comunista Português, através da fachada da Frente Patriótica e a pretexto da formação duma frente unitária, chamou a si, em Janeiro de 1964, o General Humberto Delgado, na intenção de o controlar e de, por qualquer forma, o impedir de preparar convenientemente a acção a desenvolver em 1965.
(...) Recebido com honras de Chefe de Estado e instalado no Palácio Presidencial (Palais du Peuple, Villa 3) Humberto Delgado e Ben Bella habituaram-se a conversar e a passear pelos jardins nas horas de lazer do Presidente. Dessas longas conversas surgiu o oferecimento para uma ajuda concreta à Oposição Portuguesa: convidado a definir-se, o General, dentro da amplitude que perspectivara, apresentou-lhe um plano, que foi aceite sem limitações nem reservas. O Presidente argelino punha, imediatamente, à disposição de Humberto Delgado, fundos, instrutores, instalações, alimentação, armamento e transporte, para um total de 600 homens, a mobilizar pelo General; mais se oferecia para uma ajuda complementar posterior, que poderia incluir o empréstimo de aviões militares.
(...) Demonstrarei que o desastre de Badajoz resultou da conjugação dos esforços da Frente Patriótica e da PIDE, coordenados num longo plano de acção, de conluio com o PC e o "grupo" Mário Soares, objectivamente destinado à eliminação do General.
Demonstrarei que aqueles que o traíram são precisamente os mesmos - todos eles hoje guindados ao Poder, nas altas posições políticas e administrativas deste País devastado - que agora, face à espontaneidade das manifestações do sentimento popular e às homenagens do Povo Português ao seu ídolo morto, se desfazem em elogios à própria vítima.
Depois de a terem traído.
Depois de a terem insultado, vilipendiado.
Depois de terem preparado e perpetrado o seu assassínio.
Mais coerente, apenas Álvaro Cunhal se tem mostrado moderado ao participar nessa farsa ridícula, enquanto Mário Soares, na ânsia de poder ainda prolongá-la, dominá-la para a própria salvação, promete, para próximo, justiça - a SUA JUSTIÇA.
Mário Soares o anunciou: "Soou a hora da Verdade".
No seu discurso televisionado - brevemente, com assustada celeridade - ainda arriscou dois curtíssimos períodos, perdidos num oceano verboso:
"Os Pides começarão a ser julgados. O Julgamento do General Humberto Delgado far-se-á igualmente ainda este ano".
Mortos Amadeu Cabral, Pedro Soares, Arrigo Repeto, Dr. Bisogno, Dr. Robles e Fernando Oneto, poucas ou nenhumas testemunhas restam para acusá-lo. Conta agora com a cobardia humana generalizada neste País. Se algo há em que Cunhal o apoie secreta e tenazmente é na manutenção do silêncio, na ocultação da Verdade sobre o assassínio de Delgado.
Contudo, a Espada de Dâmocles mantém-se suspensa sobre a sua cabeça e as dos seus acólitos do hediondo crime perpetrado a distância.
(...) que melhor expediente de dissimulação pode ter um criminoso na iminência de ser desmascarado, do que imiscuir-se entre os parentes da vítima, transportando o caixão sobre os ombros, carpindo em uníssono sobre a campa, comungando, embora teatralmente, da mesma dor e indignação?
Um actor, um advogado pode fazê-lo - sabe fazê-lo.
Mário Soares insinuou-se, arteiramente, advogado da vítima, infiltrou-se no seu meio - o melhor baluarte contra a suspeita - e multiplicou declarações à imprensa, apontando furiosamente os assassinos da PIDE, exigindo a justa punição.
Era-lhe pois imprescindível indigitar hipotéticos culpados; acusar inocentes; alastrar a Dúvida por mais vasto campo.
Para tal escolheu, por "bodes-expiatórios" Mário de Carvalho, Ernesto Bisogno e Henrique Cerqueira.
(...) O inquérito à Oposição não se fez. E pululam por aí indivíduos que foram os "donos" da Oposição Tradicional; que, permanentemente, colaboraram com a PIDE. Uns, para eliminarem concorrentes incómodos, como Álvaro Cunhal. O secretário do PCP, sempre que alguém lhe fazia sombra no Comité Central, acusava-o de ladrão e denunciava-o à PIDE - como a Francisco Martins Rodrigues... Outros, por ambição e vaidade pessoal, como Mário Soares, primeira "cimeira" da política nacional, que nunca fez fosse o que fosse contra o regime anterior, desde que para isso tivesse de arriscar a pele, conquanto sempre lograsse manobrar em proveito próprio. O seu papel, como advogado da família Delgado, teve essa finalidade exclusiva. Exilado em São Tomé, fruía de um ordenado de dezenas de contos do Grupo CUF; exilado em Paris, tinha-o do Grupo Bulhosa - dois grupos financeiros ligados ao salazarismo, que nunca pagariam ao "inimigo" do governo fascista, sem o acordo tácito deste.»
Caso para relembrar aquele adágio popular, "Uns comem os figos e a outros rebenta-lhes a boca!!!".
O traidor!!!
Parte da história de um traidor, o coveiro da nação, e vá-se lá saber o porquê ainda é aclamado como símbolo da liberdade e democracia, mas afinal qual liberdade e qual democracia, deixo a resposta em aberto...
Em Portugal, traidores houve, algumas vezes!!!
Demasiadas, sem dúvida!!!
«Aconteceu então o que ficou conhecido por descolonização, de que Mário Soares, por convicção ou por ordens do PCP, foi um dos maiores responsáveis e autores. Como já acontecera antes, e que lhe valera uns tantos anos atrás das grades, colara-se mais uma vez ao PC de Álvaro Cunhal com o qual teria conjuntamente planeado a estratégia a cumprir logo a seguir ao pseudo-golpe militar do 25 de Abril. E não perdeu tempo pois havia uma fita do tempo a cumprir. Enquanto no primeiro 1.º de Maio vociferava ao lado de Cunhal que era imperioso acabar rapidamente com a vergonhosa guerra colonial, logo no dia seguinte marchava rumo às capitais europeias para explicar aos vários governos a situação em Portugal e no Ultramar na sequência do 25 de Abril. Afirmou que ia cumprir instruções do General Spínola, com o qual tinha estado reunido cerca de meia-hora!!! Não sei que directiva podia ter recebido pois, nem Spínola, nem muitos elementos do golpe, tinham a ideia rigorosa sobre os fundamentos, a génese do movimento e sua provável evolução. Acredita-se que soubessem do que gostariam que viesse a passar-se para darmos o tal salto para a frente com que todos sonhávamos, mas todos pareciam um pouco atordoados. Mário Soares, sentindo-se excessivamente dependente da estrutura do PCP, tinha fundado o seu próprio partido em Maio de 1973, para ver se conseguia um pouco mais de autonomia e, sobretudo, projecção ou protagonismo não só no espectro nacional como europeu. Na Alemanha reúne-se com meia dúzia de exilados políticos e leva a efeito o que se chamou de Congresso da AES (Associação de Esquerda Socialista), da qual era co-Fundador. Dali saiu, com pompa e circunstância, o partido socialista português, do qual Mário Soares era secretário-geral. E nesta função segue para a Europa, fazendo uma primeira escala em Bruxelas. Aqui encontra-se por mero acaso ou coincidência com Agostinho Neto que, por acaso, tinha decidido vir à Europa à procura de apoios. O homem do MPLA, derrotado politica e militarmente, parecia ressuscitar da longa agonia em que estava mergulhado. Ignora-se o teor da conversa entre os dois "lutadores antifascistas". Mário Soares sempre afirmou que não revelaria o teor da conversação havida entre ambos. No entanto, Agostinho Neto, sem qualquer projecção tanto a nível europeu como angolano, no dia seguinte, através de comunicados, incita os naturais de Angola a lutarem com toda a determinação contra o domínio e a opressão levados a cabo na sua terra, que sem qualquer benefício para o seu povo continuava a ser espoliado pelo colonizador. O que leva Agostinho Neto, que não dava sinais de vida desde 1971 e estava no Canadá aquando do 25 de Abril, a pedir ajuda aos angolanos para prosseguir a sua luta? Vem para Bruxelas, não se conhece a mando de quem e, após a conversa com Mário Soares, incentiva o povo angolano a pegar em armas e a expulsar o colonizador. Cheira a recado do nosso "mensageiro". Primeiro Acto de uma trágica odisseia que se vai arrastar por mais alguns meses, que perdura até hoje e jamais se apagará da memória dos portugueses e dos povos que a sofreram na pele.
Na sequência do golpe, Spínola ascende a Presidente da República e forma o primeiro governo provisório. Contra a vontade do PCP, Palma Carlos é o primeiro-ministro, mas sem liberdade para escolher os elementos do seu elenco ministerial. A comissão coordenadora do MFA, com Vasco Gonçalves à cabeça, segue as instruções do PCP que, de facto, é a sede do poder neste país desgovernado. Pereira de Moura, ex-comunista, contra a vontade de Spínola, assume a pasta da Educação onde irá ter lugar uma outra revolução. Todos nos recordamos das passagens administrativas. Conheci um jovem que em 1973 tinha reprovado no 5.º ano do liceu e que em Outubro de 1974 entrou para a Universidade de Coimbra!!! Recorde-se ainda um outro ministro, Capitão Costa Martins, da Força Aérea, que servira comigo na 3.ª Rep. do EMFA, onde não mostrara um mínimo de capacidade para o desempenho das suas funções, que foi chamado para a pasta do Trabalho onde teve como Secretário de Estado o Dr. Carlos Carvalhas o qual, logicamente, organizou o ministério e procedeu à respectiva purga.
Mário Soares, com toda a naturalidade, assume a pasta dos Estrangeiros enquanto Cunhal só é Ministro de Estado. Começam a rolar cabeças em todo o tecido nacional. Uns são demitidos, outros seguem para a prisão sem qualquer nota de culpa. Recorde-se que Kaúlza de Arriaga esteve enclausurado dezoito meses porque se negou a sair sem conhecer os crimes de que era acusado. Muitas outras figuras públicas foram metidas nas prisões sem que, a qualquer delas tenha sido elaborada nota de culpa. Espantoso! Foram enjaulados sem ninguém saber os crimes que tinham cometido. Casos como este foram às centenas, senão milhares. Portugal foi decapitado e os notáveis que foram saindo, substituídos por elementos preparados e instruídos pelo PCP.
Mas Mário Soares tem uma importantíssima missão a cumprir: a descolonização.
(...) Sabe-se [que a Fundação Mário Soares] não foi feita com dinheiros seus, mas com dinheiros públicos. O Governo, de uma só vez, deu-lhe mais de 500.000 contos e a Câmara de Lisboa, presidida pelo filho, deu-lhe um prédio no valor de centenas de milhares de contos.
(...) O percurso de Mário Soares é, no rebentar da revolução, descrito por ele próprio nos seguintes termos:
"No dia 24 de Abril estava em Bona e tinha um encontro previsto com elementos da fundação Hebert para os sensibilizar para o facto de estar-se a preparar uma revolução em Portugal. Eram as minhas informações e era, sobretudo, a minha própria apreciação da realidade, tal como a escrevera no jornal "Le Monde", num artigo publicado a seguir ao 16 de Março, onde comentara a revolta dos Capitães das Caldas da Rainha e "avisava" que esse movimento de descontentamento militar iria ter seguimento. A análise que fazia da situação é que era inevitável haver uma revolta das Forças Armadas que "não suportavam mais o peso da guerra colonial e a sucessão de comissões de serviço" no chamado Ultramar. Era já esta a minha apreciação quando se criou o partido socialista. Desembarquei na manhã do dia 28. Era um domingo, o que me proporcionou grandes manifestações populares desde a fronteira. E da estação fui directamente falar com o General Spínola. Dos militares do 25 de Abril conhecia apenas o Melo Antunes. Estivera na última campanha eleitoral em que participara, em Outubro de 1969. Encontrei-o uma ou duas vezes, foi ao meu escritório, falámos. Tratava-se de um militar no activo, um homem decidido que enfrentava os problemas e colocava as questões. No dia 1 de Maio viajei logo após o comício e a pedido de Spínola, para Paris, onde, para além de ver François Miterrand, me avistei também com o Presidente Senghor com quem apalavrei o encontro de Dakar. Em Bruxelas avistei-me com elementos do partido socialista e do governo Belga, Henri Simonet, por exemplo, e com Agostinho Neto. Em Londres estive no N.º 10, Downing Street, com o primeiro-ministro, Harold Wilson, e o ministro dos Negócios Estrangeiros".
Nesta sua história, Mário Soares não fez nem faz a mínima referência aos seus encontros com Cunhal e Boris Ponomariov em Praga, Paris e Londres, onde também teria estado Melo Antunes, o pseudo-cérebro da revolução dos cravos. Aí, nesses encontros, lhe foram transmitidas ordens concretas que teria de levar a efeito logo após a queda do governo que estava podre e nem pretendia continuar mais em funções.
Só Soares, Cunhal, Melo Antunes e Vasco Gonçalves sabiam da revolução tal como fora planeada pela União Soviética no período da Guerra Fria, quando os EUA se encontravam enterrados no Vietname. E aconteceu o 25 de Abril, com toda uma encenação para lhe dar um carácter de golpe militar quando no fim foi uma segunda edição do golpe comunista de 1948 em Praga. O grande "democrata" e anti-fascista Soares lança-se numa batalha frenética pela conquista do poder. A sua actividade desenvolve-se a um ritmo alucinante em vários sectores, em especial na descolonização, enquanto os verdadeiros senhores do poder nos tempos subsequentes à revolução se mantêm, aparentemente, na sombra, mas criando o aparelho que há-de conduzir o país ao caos completo, do económico ao educacional, do trabalho à justiça, etc., etc. Foi toda uma máquina complexa, mas extraordinariamente eficaz, que se vem arrastando até aos nossos dias, paralisando os centros vitais da actividade positiva e do progresso do país.
(...) Soares fica finalmente com a porta aberta para satisfazer as suas ambições pessoais. Após onze anos em funções governativas, limitou-se, quase exclusivamente, a estender a mão à caridade alheia da OCDE e do FMI, para conseguir os empréstimos que evitassem o descalabro económico e financeiro do país, que dá pelo nome de falência. E os milhões chegaram para tapar os buracos que ele próprio ajudara a abrir, embriagado pelo poder que lhe caíra nas mãos, levantando bem alto as bandeiras da democracia e liberdade que só serviam para os outros.
(...) Populista, demagogo e duma ambição desmedida, o poder mais alto do Estado cai-lhe finalmente nas mãos. (...) Mário Soares (...) retoma o caminho do esbanjamento e da promoção pessoal, consolidando a construção do "trono dourado" que idealizou para si e família.
(...) Só no seu último mandato, Soares fez mais de 100 viagens ao estrangeiro, mais do que as 87 que Sampaio totalizava em apenas oito anos de Belém. Quando Soares levava os mesmos oito anos de presidência, já averbava no bornal 111 viagens oficiais, mais 27 do que Sampaio. (...) Soares gostava de viajar com pompa e circunstância ao contrário de Sampaio que fez visitas mais curtas e com menor comitiva. As viagens de Soares não pretendiam essencialmente benefícios para Portugal, mas prestígio para o líder na sua desmesurada ambição pelo triunfo fácil e à custa dos contribuintes.
(...) Este chegou ao ponto de alugar um avião Jumbo para transportar os seus mais de 200 convidados, passeando-se pelo Extremo Oriente: China, Japão, Macau, Hong-Kong, Tailândia, durante cerca de 15 dias. Quanto terá custado ao erário público este louco desvario e quais os proveitos que trouxe a Portugal? Seria um exercício interessante e talvez não muito complicado de fazer.
(...) As críticas às suas constantes andanças pelo mundo nunca o preocuparam. Foi ele que disse um dia, numa referência directa ao então presidente da Câmara de Lisboa, João Soares: "O meu filho trata das ruas, eu trato dos passeios..."».
GENERAL SILVA CARDOSO («25 DE ABRIL DE 1974. A REVOLUÇÃO DA PERFÍDIA»).
terça-feira, 23 de fevereiro de 2021
O paradigma da inconsequência!!!
Tudo o que de catastrófico sucedeu depois do 25 de Abril era contudo de prever, porque não se pode melhorar qualitativamente um país por uma revolução com cravos mas sem ideias, ou apenas (o que é o mesmo) com ideias feitas, convencionais, com ideias que não nasceram livre e espontaneamente do próprio povo, no sentido lato da palavra, isto é, que não promanaram da sua língua e da sua cultura, da sua história, e da sua problemática concreta, da criatividade e da actividade mental dos seus filósofos, escritores e artistas.
Não sendo possível a acção política sem pensamento político e não havendo entre nós, ao nível das classes dominantes e da universidade, nem pensamento político, nem pensamento filosófico capaz de o fundamentar, o resultado inevitável tinha de ser, ou a entrega do país e quem pensasse por ele (o que veio a suceder logo após o 28 de Setembro com o acesso de Vasco Gonçalves e com o domínio crescente do aparelho comunista) ou a proliferação de um pseudo-pensamento de cartilha, que, através dos diversos activismos grande ou pequeno-partidários, outra coisa não tinha ao seu alcance fazer do que tentar reproduzir no Portugal de hoje os seus diversos cenários de eleição: a Rússia dos anos 20, a França dos anos 30, a Jugoslávia dos anos 40, a Argélia dos anos 50, a China dos anos 60, etc., etc., etc., ou seja, anacronismos dentro de anatopismos, que não podem levar a parte nenhuma.
A própria «descolonização» que viemos a fazer para mal dos nossos pecados não foi mais do que um ersatz trafulha dos cenários das descolonizações inglesa ou francesa, com a diferença de que a Inglaterra ou a França souberam construir, ao mesmo tempo, a Commonwealth e a Union Française, enquanto nós tudo abandonámos sem contrapartida e sem honra, permitindo o êxodo vergonhoso de um milhão de portugueses metropolitanos, africanos ou timorenses.
António Quadros
A Revolução capitalista russa!!!
Mais uma pequena amostra do verdadeiro mundo do qual fazemos parte...
«(...) Trotsky não era pró-Rússia, ou pró-Aliados, ou pró-Alemanha, como muitos pretenderam que ele fosse. Trostky era pela revolução mundial, pela ditadura mundial; ele era, numa palavra, um internacionalista. Bolchevistas e banqueiros têm, de facto, este denominador comum: internacionalismo. Revolução e finança internacional não se opõem quando perseguem a instauração de uma autoridade centralizada. A finança internacional prefere lidar com governos centralizados. A última coisa que a comunidade financeira quer é a economia liberal e o poder disperso ou descentralizado.
Isto é, por conseguinte, uma explicação por de mais evidente. Este grupo de banqueiros e promotores não era bolchevista, ou comunista, ou socialista, ou democrata, e nem sequer americano. Estes homens queriam acima de tudo mercados, de preferência mercados internacionais captivos e, desse modo, o respectivo monopólio como o fim último a atingir. Eles queriam mercados que pudessem ser explorados em termos monopolistas e sem jamais temerem qualquer espécie de competição da parte dos russos, alemães ou de quem quer que fosse, incluindo os homens de negócios americanos que não pertenciam ao seu círculo. Este grupo restrito era apolítico e amoral. Em 1917, tinha um único objectivo em mente: um mercado captivo na Rússia, garantido e intelectualmente protegido por uma liga destinada a garantir a paz.
Na realidade, Wall Street alcançou este objectivo. As firmas americanas controladas por este sindicato foram mais tarde chamadas à construção da União Soviética, de modo que hoje têm o seu caminho assegurado para trazer o complexo industrial e militar soviético para a era do computador.
Actualmente, um tal objectivo continua na ordem do dia. John D. Rockefeller expõe esse mesmo objectivo no seu livro A Segunda Revolução Americana, que ostenta uma estrela de cinco pontas na folha de rosto. O livro contém uma clara defesa a favor do humanismo, isto é, apela para a única prioridade que consiste em trabalharmos para os outros. Por outras palavras, apela para o colectivismo. Humanismo é colectivismo. É realmente notório que os Rockefellers, que vêm propondo há um século esta ideia humanitária, não tenham entregue ou passado a sua propriedade para mãos alheias. Presumivelmente, está implícito na sua recomendação que todos nós trabalharemos para os Rockefellers. O livro de J. D. Rockefeller promove o colectivismo sob o disfarce do "conservadorismo moderado" e do "bem comum". Trata-se, de facto, de um desígnio que se propõe perpetuar o apoio inicial dos Morgan-Rockefeller a favor de iniciativas colectivistas e da subversão massiva dos direitos individuais».
Antony C.Sutton («Wall Street e a Revolução Bolchevik»).
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021
Tudo bons rapazes, maçonaria!!!
Por aqui se percebe o porquê do estado miserável deste país, a corrupção e o compadrio imperam, tudo a coberto do manto da (in)Justiça, também dominada pelos "pedreiros". Será também esta uma das razões pelas quais querem a toda a força manipular ou ocultar os resultados desastrosos da Primeira Republica e a forma como o Estado Novo de Salazar repôs a ordem pública e as finanças!!!
Só não vê quem não quer, agem às claras, absolutamente impunes, legislam em causa própria e criam leis para se defender do povo, eis o retrato vergonhoso de uma pseudo-elite criminosa que se apoderou do poder neste país!!!
A Maçonaria durante o Estado Novo
Com a implantação do Estado Novo, o deputado José Cabral, então director-geral dos serviços prisionais, apresentou em 19 de Janeiro de 1935 na Assembleia Nacional um Projecto de Lei visando a extinção das associações secretas. O projecto adoptava uma definição de associação secreta que tinha em vista atingir a Maçonaria e a Carbonária, sendo que esta última provavelmente já não existiria.
Surgiu assim a Lei n.º 1901, de 21 de Maio de 1935, que ilegalizou e dissolveu as sociedades secretas em Portugal.
O Projecto de Lei também previa sanções aos que pertencessem a qualquer tipo de associação secreta independente das finalidades da organização.
A Maçonaria no pós 25 de Abril
Alguns meses depois do 25 de Abril de 1974, a 7 de Novembro, é publicado o Decreto-Lei n.º 594/74 que revoga expressamente a Lei n.º 1901, de 21 de Maio de 1935, legalizando as sociedades secretas.
Os bens confiscados durante a Ditadura foram devolvidos às sociedades então extintas.
... 'A verdade é que as lojas maçónicas, incluindo o Supremo Tribunal Administrativo e a Relação de Lisboa, deixaram-se infiltrar pelo jesuitismo e profanos de avental, que constituíram uma máfia que opera nos tribunais portugueses'. Costa Pimenta diz ainda que há 'um grupo de indivíduos incluindo juízes, magistrados do MP, ministros, advogados, banqueiros, empresários, embaixadores, autarcas, homens do teatro, do cinema e da televisão, que distribuem sentenças entre si em benefício dos seus irmãos."
Tânia Laranjo, in Correio da Manhã
"O sistema de justiça português é constituído por lojas maçónicas e controlado pela maçonaria", afirma José da Costa Pimenta, em carta para a actual ministra da Justiça e os protagonistas do sector, citada pelo Diário de Notícias.
O ex-juiz diz ainda que a maçonaria "além de controlar as decisões dos processos - incluindo os casos da Universidade Moderna, Portucale, Casa Pia, Apito Dourado e Isaltino Morais -, controla igualmente a carreira dos juízes e dos magistrados do Ministério Público e dos altos funcionários do Estado."
Ex juiz, in Diário Económico
sábado, 20 de fevereiro de 2021
Um modelo em decadência, o ocidental!!!
Alexander Soljenítsin
in "O Declínio da Coragem", Discursos de Harvard, Junho 1978, Lisboa, Ed. Rolim.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021
Mais um dos coveiros da Nação!!!
«(...) A ambiguidade da figura de Caetano, de acordo com o The New York Times, tinha ficado bem demonstrada na sua atitude em duas situações distintas. Em 1962, Caetano demitira-se do cargo de reitor da Universidade de Lisboa, pouco depois de a polícia ter invadido a Universidade e "prendido estudantes que se manifestavam". No entanto, o mesmo Caetano escreveria, pouco depois, um artigo no qual defendeu punições "severas" para os estudantes que se haviam manifestado. Uma "ambiguidade semelhante" rodeava a carta que Caetano tinha escrito recentemente a Mário Soares, um "líder da oposição ao regime que se encontra exilado na ilha de São Tomé". Nessa carta, o futuro Presidente do Conselho defendeu a existência da legislação que justificava o exílio de Soares mas, por outro lado, manifestava ao seu "colega advogado" as suas "maiores simpatias pessoais e profissionais"».
Luís Nunes Rodrigues («A Sucessão de Salazar e os Estados Unidos», in Os Anos de Salazar, 25).
Alpoim Calvão, um homem que honrou a Pátria.
Um jogo brutal, homens com H grande, homens que tudo deram em prol da sua pátria, defendendo o seu país até às últimas consequências, realmente os últimos verdadeiros guerreiros defensores dos nossos valores da nossa identidade, da nossa forma de ser e estar no mundo
Aqui fica um pequeno agradecimento a umas dessas figuras, o nosso grande comandante Guilherme Almor de Alpoim Calvão.
«Uma análise da situação, indicava-me, sem margem para dúvidas, que o Partido Comunista Português estava numa fase iminente de assalto ao Poder.
Só quem não conhecesse a actuação dos partidos comunistas no Mundo, a firmeza da linha estratégica que a Internacional Comunista tem transmitido aos partidos seus filiados para a conquista do Poder, poderia admitir que o PCP entraria no jogo democrático de eleições, dentro da nova política nacional.
O PCP, de acordo com a sua essência, procuraria, por todos os meios, assaltar o Poder, a todos os níveis, desde as autarquias locais, até aos mais altos postos do Governo.
E assim aconteceu. Com o PCP a liderar um plano coadjuvado pelo seu "submarino" (como lhe chamávamos) o MDP/CDE.
Angustiou-me a impotência para impedir o desastre tanto mais grave quanto ele distorcia, completamente, o Programa do MFA, em especial no que respeitava à descolonização - com os vergonhosos acordos de Lusaka e o abandono da Guiné.
A nomeação do tenente-coronel Fabião, graduado em brigadeiro, para esta Província, ainda me alimentou a esperança de que não se perdesse de toda a dignidade.
À Guiné ligavam-me estreitos laços sentimentais, de amizade pelas suas gentes que não foram poupadas. Antes, com uma baixeza espantosa, a independência obedeceu a trâmites que deslustram tanto os descolonizadores, como os novos conturbenais do Poder.
Os seus fautores afirmam que fizeram a descolonização possível. Mentem: fizeram a descolonização que lhes impuseram os seus mentores soviéticos, pelos construtores da estratégia de Moscovo, à qual era indispensável a destruição da África ao Sul do Equador, onde possuíamos importantíssima posição, que contrariava os intentos dos dirigentes comunistas. A barreira que lhes opunha a maior parte dos países dessa região africana, levava a Rússia a procurar, ali, um equilíbrio de forças.
Pela comunicação de Angola e de Moçambique, com o auxílio da República Popular do Congo e da Tanzânia, praticamente na sua órbita, poderia inverter esse equilíbrio de forças em seu favor, porque as duas Províncias portuguesas cortavam ao meio o Sul da África e atiravam a Rodésia e a União Sul-Africana para um isolamento cada vez maior. Teria a possibilidade de derrubar os regimes zambiano e do Malawi. E o Zaire, que é uma fonte de riqueza para os países imperialistas, seria presa fácil para os apetites soviéticos.
Portanto, manipulando os ideais - os chamados ideais - do 25 de Abril, tal como foram apresentados à Nação, os comunistas alcançaram uma esplêndida vitória.
Nem todos os que viveram o Poder real, no processo pós 25 de Abril, terão culpas na "descolonização exemplar" (um lugar comum, que peço me perdoem). Mas coube a alguns inteira responsabilidade nessa política de inspiração marxista-leninista.
A política dos portugueses em Angola, em Moçambique e na Guiné era, nos últimos anos, de integração dos nativos nos centros de decisão, fosse administrativa ou militar.
Mais de metade das Forças Armadas no Ultramar eram integradas por naturais dessas províncias. E foram esses os primeiros traídos. Homens que, durante anos, se bateram contra o inimigo comum (insisto na designação de inimigo, não de nacionalista, porque, como ficou provado, a tónica de todos os movimentos de libertação que adquiriram o Poder foi o marxismo-leninismo), tombaram mortos. Na melhor das hipóteses, tiveram de se exilar, para salvar a vida. Todavia, muitos, muitíssimos, foram - simplesmente - executados, passados pelas armas.
O sangue desses homens clama justiça. Desse sangue são responsáveis os descolonizadores, nos termos em que cederam, em que entregaram, sem consciência, sem piedade, sem humanidade - cobardemente - as vidas e os bens de compatriotas que lhes tinham defendido a fazenda.
As etnias europeias, com sucessivas gerações em África, muito mais ligadas a ela do que ao torrão europeu, não escaparam à sorte das vítimas.
Relembro Angola, onde o major Pezarat Correia, desarmou os "brancos", para que não se intrometessem ou para que não pesassem no prato das negociações.
Instilou-se o terror. Os abusos, a brutalidade, a insegurança, assustaram tão fortemente as pessoas que as obrigaram às decisões extremas: o abandono da terra onde nasceram, viveram, criaram os filhos, trabalharam; a terra onde geraram riqueza, onde geraram a riqueza de outros.
Num instante, uma tragédia de que só se pode encontrar comparações no Cambodja e na Rússia, centenas de milhares de seres humanos tiveram de despegar dos lares e haveres, para procurar refúgio - precaríssimo refúgio - no minúsculo rectângulo do Portugal ibérico, vieram sem culpa própria, engrossar a onda de desempregados que os excessos revolucionários, a falsa liberdade pela violência, a luta de classes tinham causado, a destruir a débil economia do País.
Duas fases de uma única manobra: a entrega dos territórios africanos e o aumento do desemprego, que a chegada dos refugiados provocou. O embrião, o ovo de um problema de que não se descortina o resultado: quase dois milhões de desocupados, numa população activa que pouco excede o dobro desse número.
É para mim, básico e evidente, que a destruição do Ultramar (entregando-o aos lacaios marxistas-leninistas) e a vinda, para Portugal, de uma trágica multidão, psicológica, e fisicamente chocada, em "stress", serão os fulcros de agitações sociais, de imprevisiveis consequências.
Os refugiados têm que lutar contra a fome, pelo mais elementar instinto de sobrevivência. Têm de defender os filhos de pungentes privações. Têm de recuperar a dignidade que lhes roubaram.
De um só golpe, a estratégia soviética vencera em dois campos de batalha.
(...) Começámos a segunda fase, de planeamento e, concomitantemente, pensámos no problema da implantação no terreno.
Durante o consulado gonçalvista, víamos, como única opção possível, a luta armada, para a qual necessitávamos de um serviço de informações.
O major de Artilharia, Morais Jorge, encarregou-se do sector, montando uma rede, a RAI-Rede de Acção Interna.
Morais Jorge cumpriu, excelentemente, a sua missão, até ao dia em que, talvez por fadiga, talvez por excesso de zelo, deu origem a dissensões, que poderiam comprometer quanto fizéramos anteriormente.
Tanto pelo resultado das eleições do 15 de Abril de 1975, como pelo conhecimento prático que tínhamos das potencialidades do PCP, estávamos seguros de que os comunistas concentravam as suas forças essencialmente na cintura industrial de Lisboa e no Alentejo.
O MDLP, anti-marxista, anti-comunista, deveria implantar-se no Norte do País, penetrando, a partir de lá, para as zonas de infiltração PC.
Como não travávamos batalhas partidárias, fomos aceites com facilidade. A Igreja, de tradições liberais e os núcleos de refugiados, os oprimidos - o Povo - abriram-nos os braços. Estavam connosco, eram dos nossos. Não abdicaram da liberdade que lhes roubavam.
O berço da nacionalidade reclamava o seu lugar na História, como tantas vezes o fizera no passado. As grandes batalhas liberais, o cerrar de dentes contra a opressão, tinham, a Norte, um exército pronto para o combate. Na fundação da nacionalidade, em 1143. No gonçalvismo, em 1975.
Precisavam, apenas, de um elemento aglutinador, que foi o MDLP. A Maria da Fonte, "de saco ao ombro e foice na mão", renascera, 130 anos depois, A Póvoa de Lanhoso, perdida entre verduras era símbolo, a galvanizar Trás-os-Montes, o Minho, a região duriense.
Oficiais do MDLP instruíram grupos de milícias ao nível de freguesias, apesar das dificuldades e dos perigos a que não podem escapar os movimentos clandestinos.
Foi em Agosto que nos unimos aos grupos da Maria da Fonte. Espontaneamente. Com a espontaneidade com que os nortenhos se rebelaram contra a loucuras gonçalvistas.
De mínima justiça é dizê-lo: o verdadeiro herói do Agosto de 1975 foi o povo do Norte. A ele - e só a ele - se devem as homenagens.
A unidade dos nortenhos, com o seu sentido de democracia em liberdade, e o MDLP, tiveram a clareza dos ideais que se confundem.
O plano de 13 de Abril entrara na terceira fase: o da subversão. Contra o regime gonçalvista, que tivemos o prazer de ver cair, mau grado preferíssemos que durasse até que a Europa Ocidental se apercebesse do perigo que defrontava na Península Ibérica.
Era imperioso que a Europa compreendesse que a campanha de Mário Soares, nas eleições de 1975, sob a capa do anti-comunismo, não excedia o âmbito de uma fraude, de um conjunto de truques, quais escudos de papelão a oporem-se a lanças de duro aço. O PCP ordenava, dominava, contra a vontade popular, expressa nas eleições. A assembleia de Tancos, ao derrubar Vasco Gonçalves, limitou-se a "dobrar a espinha", perante os levantamentos do Norte».
Alpoim Calvão («De Conakry ao MDLP»).
O Elogio da Ignorância.
«Infelizmente, não há fome de saber como há fome de alimentos, e ao contrário do esfomeado que até ao último alento ainda procura a nutrição...