quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

A morte de Humberto Delgado, a armadilha comunista.

 

Aqui fica o depoimento de Maria Armanda Falcão, mais conhecida pelo pseudónimo de Vera Lagoa, relativamente ao assassinato de Humberto Delgado e a tudo que o rodeava em termos de interesses políticos, neste caso na esquerda.

«Em Janeiro de 1964, realizava-se a II Conferência da Frente Patriótica, e o General [Delgado], agora presente, conseguiu impor a constituição da Junta Revolucionária Portuguesa e do Comando Operacional.

Do que consta das suas resoluções, oferecemos a seguir um extracto. Nelas, proclamava-se a urgência absoluta de produzir a luta a curto prazo. Foram seus signatários os membros da II Conferência da Frente Patriótica, os seus dirigentes, o General Humberto Delgado, o secretário do Partido Comunista Português, Álvaro Cunhal, e o prof. Rui Luís Gomes.


"... Portugal atravessa a MAIOR e MAIS GRAVE crise da sua longa história; a situação económica agravou-se; grandes sacrifícios são impostos à população trabalhadora; as classes médias, os pequenos e médios industriais, os pequenos e médios comerciantes, os pequenos e médios agricultores, pagam pesados impostos; a dependência crescente da economia nacional aos interesses estrangeiros, por concessões negociadas em troca de investimentos e empréstimos que põem em PERIGO a independência nacional e que tomam o aspecto grave da utilização do território português por forças militares de outros países; a conferência... concordou em APRESSAR o processo revolucionário... Para a preparação NO MAIS CURTO PRAZO das condições insurreccionais; a situação do país é EXTREMAMENTE GRAVE; os compromissos aceites pelo governo fascista... põem em PERIGO a independência nacional e o futuro do País".

"(...) Em conclusão, verifica-se que, quer os dirigentes da Frente Portuguesa, quer os da Frente Patriótica, reconhecem nos comunicados e resoluções da I e II Conferências, de que todos foram responsáveis e signatários, a urgência duma acção revolucionária, invocando até razões de salvação nacional e outras de extrema gravidade".

Mas, logo em 27/1/964, em entrevista concedida ao jornal francês L'Humanité, reproduzida no Portugal Democrático n.º 81, de Março, de 64, Álvaro Cunhal declarava não existirem, na realidade, condições para o desencadeamento dessa luta, devendo o Partido prosseguir no seu trabalho de 'catequização' e organização de massas. O Secretário-Geral do PCP traía, assim, a proclamação e as resoluções de que pouco antes fora signatário.


Mas, mesmo à luz dessa traição, alguma coisa continuava errada.

Como aceitar-se que Álvaro Cunhal se tivesse disposto a apresentar-se, publicamente, como um homem de duas caras, traidor das suas próprias resoluções?

Só uma razão de bastante força, ou de interesse bastante, o levaria a isso. Mas o quê?

O plano imediato do Partido Comunista Português consistia, em linhas gerais, em inutilizar, para a acção, o General Humberto Delgado, impedindo-o de levar a cabo a derrubada do fascismo, por forma a que, no interior do país, fossem, ao longo dos anos, criando as condições necessárias à sucessão inevitável da ditadura salazarista, pela cunhalista.

Um tal programa deveria ser levado a efeito com um mínimo de consequências e repercussão. Era, contudo, necessário realizá-lo antes que fosse demasiado tarde; em teoria, antes de 1965, ano em que se realizariam as eleições presidencial e para deputados.

Enquanto o General Humberto Delgado se manteve pelo Brasil, o Partido limitou-se a sabotar, uma após outra, as suas tentativas de promoção de acções armadas, quer elas tivessem o objectivo de criar um clima revolucionário, quer o de produzir a queda do governo salazarista. E foi assim que a revolta de Beja se perdeu, antecipadamente, em Lisboa e Marrocos; que, posteriormente, um elemento ligado ao Partido deu descaminho duma remessa inicial de material de guerra, que o General fizera chegar ao interior para, em consequência do malogro da operação de Beja, aproveitar o clima que dela resultou, por forma a levar ao desenvolvimento dum processo revolucionário; que as grandes manifestações académicas e populares, que se estenderam pelo primeiro semestre de 1962, viriam a quebrar pela acção pacifista dos agentes do Partido, empenhados na defesa das acções legais e semi-legais, que o Povo Português [?] repudiava, por inúteis e revolucionariamente ultrapassadas.


Mas a revolta de Beja, em consequência do clima post-eleitoral de 1961, a envergadura, a frequência e o carácter, das manifestações de 1962, foram o sinal de alarme, quer para o governo, quer para a direcção do Partido. Um e outro, viram no ano eleitoral de 1965 um grave período de crise, no qual poderiam jogar-se forças e circunstâncias, que levassem à queda da ditadura. Daí resultou que, ambos, circunstancialmente irmanados, não hesitariam em conjugar a sua acção contra o General, sem que para tanto fosse necessário qualquer acordo contratual.

Assim, o Partido Comunista Português, através da fachada da Frente Patriótica e a pretexto da formação duma frente unitária, chamou a si, em Janeiro de 1964, o General Humberto Delgado, na intenção de o controlar e de, por qualquer forma, o impedir de preparar convenientemente a acção a desenvolver em 1965.

(...) Recebido com honras de Chefe de Estado e instalado no Palácio Presidencial (Palais du Peuple, Villa 3) Humberto Delgado e Ben Bella habituaram-se a conversar e a passear pelos jardins nas horas de lazer do Presidente. Dessas longas conversas surgiu o oferecimento para uma ajuda concreta à Oposição Portuguesa: convidado a definir-se, o General, dentro da amplitude que perspectivara, apresentou-lhe um plano, que foi aceite sem limitações nem reservas. O Presidente argelino punha, imediatamente, à disposição de Humberto Delgado, fundos, instrutores, instalações, alimentação, armamento e transporte, para um total de 600 homens, a mobilizar pelo General; mais se oferecia para uma ajuda complementar posterior, que poderia incluir o empréstimo de aviões militares.

(...) Demonstrarei que o desastre de Badajoz resultou da conjugação dos esforços da Frente Patriótica e da PIDE, coordenados num longo plano de acção, de conluio com o PC e o "grupo" Mário Soares, objectivamente destinado à eliminação do General.

Demonstrarei que aqueles que o traíram são precisamente os mesmos - todos eles hoje guindados ao Poder, nas altas posições políticas e administrativas deste País devastado - que agora, face à espontaneidade das manifestações do sentimento popular e às homenagens do Povo Português ao seu ídolo morto, se desfazem em elogios à própria vítima.

Depois de a terem traído.

Depois de a terem insultado, vilipendiado.

Depois de terem preparado e perpetrado o seu assassínio.

Mais coerente, apenas Álvaro Cunhal se tem mostrado moderado ao participar nessa farsa ridícula, enquanto Mário Soares, na ânsia de poder ainda prolongá-la, dominá-la para a própria salvação, promete, para próximo, justiça - a SUA JUSTIÇA.


Mário Soares o anunciou: "Soou a hora da Verdade".

No seu discurso televisionado - brevemente, com assustada celeridade - ainda arriscou dois curtíssimos períodos, perdidos num oceano verboso:

"Os Pides começarão a ser julgados. O Julgamento do General Humberto Delgado far-se-á igualmente ainda este ano".

Mortos Amadeu Cabral, Pedro Soares, Arrigo Repeto, Dr. Bisogno, Dr. Robles e Fernando Oneto, poucas ou nenhumas testemunhas restam para acusá-lo. Conta agora com a cobardia humana generalizada neste País. Se algo há em que Cunhal o apoie secreta e tenazmente é na manutenção do silêncio, na ocultação da Verdade sobre o assassínio de Delgado.

Contudo, a Espada de Dâmocles mantém-se suspensa sobre a sua cabeça e as dos seus acólitos do hediondo crime perpetrado a distância.

(...) que melhor expediente de dissimulação pode ter um criminoso na iminência de ser desmascarado, do que imiscuir-se entre os parentes da vítima, transportando o caixão sobre os ombros, carpindo em uníssono sobre a campa, comungando, embora teatralmente, da mesma dor e indignação?

Um actor, um advogado pode fazê-lo - sabe fazê-lo.

Mário Soares insinuou-se, arteiramente, advogado da vítima, infiltrou-se no seu meio - o melhor baluarte contra a suspeita - e multiplicou declarações à imprensa, apontando furiosamente os assassinos da PIDE, exigindo a justa punição.


Mas não bastava. Tornava-se-lhe igualmente imperioso justificar a origem da denúncia que acicatara a matilha pidesca. Só assim poderia sacudir as lamacentas suspeitas que o envolviam, incriminando globalmente com ele todo o seu Movimento.

Era-lhe pois imprescindível indigitar hipotéticos culpados; acusar inocentes; alastrar a Dúvida por mais vasto campo.

Para tal escolheu, por "bodes-expiatórios" Mário de Carvalho, Ernesto Bisogno e Henrique Cerqueira.


(...) O inquérito à Oposição não se fez. E pululam por aí indivíduos que foram os "donos" da Oposição Tradicional; que, permanentemente, colaboraram com a PIDE. Uns, para eliminarem concorrentes incómodos, como Álvaro Cunhal. O secretário do PCP, sempre que alguém lhe fazia sombra no Comité Central, acusava-o de ladrão e denunciava-o à PIDE - como a Francisco Martins Rodrigues... Outros, por ambição e vaidade pessoal, como Mário Soares, primeira "cimeira" da política nacional, que nunca fez fosse o que fosse contra o regime anterior, desde que para isso tivesse de arriscar a pele, conquanto sempre lograsse manobrar em proveito próprio. O seu papel, como advogado da família Delgado, teve essa finalidade exclusiva. Exilado em São Tomé, fruía de um ordenado de dezenas de contos do Grupo CUF; exilado em Paris, tinha-o do Grupo Bulhosa - dois grupos financeiros ligados ao salazarismo, que nunca pagariam ao "inimigo" do governo fascista, sem o acordo tácito deste.»

Caso para relembrar aquele adágio popular, "Uns comem os figos e a outros rebenta-lhes a boca!!!".

5 comentários:

  1. Dificilmente se encontraria no século XX maior "troca tintas" traidor e que mais beneficios amealhasse para o seu cu que Soares!

    ResponderEliminar
  2. Mário Soares também teve responsabilidades na morte de Sá Carneiro. A esquerda no seu melhor.

    ResponderEliminar
  3. Humberto Delgado também foi terrorista da DRIL

    ResponderEliminar
  4. Nunca entendi como o general Humberto Delgado se deixou enganar duma maneira "ingénua" tendo ele altas notas na sua formação militar. Dá a impressão que não serviria para orientar o País. Também não entendo como o pide Rosa Casaco morreu de velho com tantos revolucionários a cometerem crimes contra os "fachistas".

    ResponderEliminar

O Molusco...

Para bom entendedor... «(...) A ambiguidade da figura de Caetano, de acordo com o The New York Times, tinha ficado bem demonstrada na sua at...