sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Alpoim Calvão, um homem que honrou a Pátria.

 

Um jogo brutal, homens com H grande, homens que tudo deram em prol da sua pátria, defendendo o seu país até às últimas consequências, realmente os últimos verdadeiros guerreiros defensores dos nossos valores da nossa identidade, da nossa forma de ser e estar no mundo

Aqui fica um pequeno agradecimento a umas dessas figuras, o nosso grande comandante Guilherme Almor de Alpoim Calvão.

«Uma análise da situação, indicava-me, sem margem para dúvidas, que o Partido Comunista Português estava numa fase iminente de assalto ao Poder.

Só quem não conhecesse a actuação dos partidos comunistas no Mundo, a firmeza da linha estratégica que a Internacional Comunista tem transmitido aos partidos seus filiados para a conquista do Poder, poderia admitir que o PCP entraria no jogo democrático de eleições, dentro da nova política nacional.

O PCP, de acordo com a sua essência, procuraria, por todos os meios, assaltar o Poder, a todos os níveis, desde as autarquias locais, até aos mais altos postos do Governo.

E assim aconteceu. Com o PCP a liderar um plano coadjuvado pelo seu "submarino" (como lhe chamávamos) o MDP/CDE.

Angustiou-me a impotência para impedir o desastre tanto mais grave quanto ele distorcia, completamente, o Programa do MFA, em especial no que respeitava à descolonização - com os vergonhosos acordos de Lusaka e o abandono da Guiné.

A nomeação do tenente-coronel Fabião, graduado em brigadeiro, para esta Província, ainda me alimentou a esperança de que não se perdesse de toda a dignidade.

À Guiné ligavam-me estreitos laços sentimentais, de amizade pelas suas gentes que não foram poupadas. Antes, com uma baixeza espantosa, a independência obedeceu a trâmites que deslustram tanto os descolonizadores, como os novos conturbenais do Poder.


A descolonização será, sempre, uma das páginas mais degradantes da História de Portugal.

Os seus fautores afirmam que fizeram a descolonização possível. Mentem: fizeram a descolonização que lhes impuseram os seus mentores soviéticos, pelos construtores da estratégia de Moscovo, à qual era indispensável a destruição da África ao Sul do Equador, onde possuíamos importantíssima posição, que contrariava os intentos dos dirigentes comunistas. A barreira que lhes opunha a maior parte dos países dessa região africana, levava a Rússia a procurar, ali, um equilíbrio de forças.

Pela comunicação de Angola e de Moçambique, com o auxílio da República Popular do Congo e da Tanzânia, praticamente na sua órbita, poderia inverter esse equilíbrio de forças em seu favor, porque as duas Províncias portuguesas cortavam ao meio o Sul da África e atiravam a Rodésia e a União Sul-Africana para um isolamento cada vez maior. Teria a possibilidade de derrubar os regimes zambiano e do Malawi. E o Zaire, que é uma fonte de riqueza para os países imperialistas, seria presa fácil para os apetites soviéticos.

Portanto, manipulando os ideais - os chamados ideais - do 25 de Abril, tal como foram apresentados à Nação, os comunistas alcançaram uma esplêndida vitória.

Nem todos os que viveram o Poder real, no processo pós 25 de Abril, terão culpas na "descolonização exemplar" (um lugar comum, que peço me perdoem). Mas coube a alguns inteira responsabilidade nessa política de inspiração marxista-leninista.

A política dos portugueses em Angola, em Moçambique e na Guiné era, nos últimos anos, de integração dos nativos nos centros de decisão, fosse administrativa ou militar.

Mais de metade das Forças Armadas no Ultramar eram integradas por naturais dessas províncias. E foram esses os primeiros traídos. Homens que, durante anos, se bateram contra o inimigo comum (insisto na designação de inimigo, não de nacionalista, porque, como ficou provado, a tónica de todos os movimentos de libertação que adquiriram o Poder foi o marxismo-leninismo), tombaram mortos. Na melhor das hipóteses, tiveram de se exilar, para salvar a vida. Todavia, muitos, muitíssimos, foram - simplesmente - executados, passados pelas armas.


O sangue desses homens clama justiça. Desse sangue são responsáveis os descolonizadores, nos termos em que cederam, em que entregaram, sem consciência, sem piedade, sem humanidade - cobardemente - as vidas e os bens de compatriotas que lhes tinham defendido a fazenda.

As etnias europeias, com sucessivas gerações em África, muito mais ligadas a ela do que ao torrão europeu, não escaparam à sorte das vítimas.

Relembro Angola, onde o major Pezarat Correia, desarmou os "brancos", para que não se intrometessem ou para que não pesassem no prato das negociações.

Instilou-se o terror. Os abusos, a brutalidade, a insegurança, assustaram tão fortemente as pessoas que as obrigaram às decisões extremas: o abandono da terra onde nasceram, viveram, criaram os filhos, trabalharam; a terra onde geraram riqueza, onde geraram a riqueza de outros.

Num instante, uma tragédia de que só se pode encontrar comparações no Cambodja e na Rússia, centenas de milhares de seres humanos tiveram de despegar dos lares e haveres, para procurar refúgio - precaríssimo refúgio - no minúsculo rectângulo do Portugal ibérico, vieram sem culpa própria, engrossar a onda de desempregados que os excessos revolucionários, a falsa liberdade pela violência, a luta de classes tinham causado, a destruir a débil economia do País.

Duas fases de uma única manobra: a entrega dos territórios africanos e o aumento do desemprego, que a chegada dos refugiados provocou. O embrião, o ovo de um problema de que não se descortina o resultado: quase dois milhões de desocupados, numa população activa que pouco excede o dobro desse número.

É para mim, básico e evidente, que a destruição do Ultramar (entregando-o aos lacaios marxistas-leninistas) e a vinda, para Portugal, de uma trágica multidão, psicológica, e fisicamente chocada, em "stress", serão os fulcros de agitações sociais, de imprevisiveis consequências.

Os refugiados têm que lutar contra a fome, pelo mais elementar instinto de sobrevivência. Têm de defender os filhos de pungentes privações. Têm de recuperar a dignidade que lhes roubaram.

De um só golpe, a estratégia soviética vencera em dois campos de batalha.

(...) Começámos a segunda fase, de planeamento e, concomitantemente, pensámos no problema da implantação no terreno.

Durante o consulado gonçalvista, víamos, como única opção possível, a luta armada, para a qual necessitávamos de um serviço de informações.

O major de Artilharia, Morais Jorge, encarregou-se do sector, montando uma rede, a RAI-Rede de Acção Interna.

Morais Jorge cumpriu, excelentemente, a sua missão, até ao dia em que, talvez por fadiga, talvez por excesso de zelo, deu origem a dissensões, que poderiam comprometer quanto fizéramos anteriormente.

Tanto pelo resultado das eleições do 15 de Abril de 1975, como pelo conhecimento prático que tínhamos das potencialidades do PCP, estávamos seguros de que os comunistas concentravam as suas forças essencialmente na cintura industrial de Lisboa e no Alentejo.


O MDLP, anti-marxista, anti-comunista, deveria implantar-se no Norte do País, penetrando, a partir de lá, para as zonas de infiltração PC.

Como não travávamos batalhas partidárias, fomos aceites com facilidade. A Igreja, de tradições liberais e os núcleos de refugiados, os oprimidos - o Povo - abriram-nos os braços. Estavam connosco, eram dos nossos. Não abdicaram da liberdade que lhes roubavam.

O berço da nacionalidade reclamava o seu lugar na História, como tantas vezes o fizera no passado. As grandes batalhas liberais, o cerrar de dentes contra a opressão, tinham, a Norte, um exército pronto para o combate. Na fundação da nacionalidade, em 1143. No gonçalvismo, em 1975.

Precisavam, apenas, de um elemento aglutinador, que foi o MDLP. A Maria da Fonte, "de saco ao ombro e foice na mão", renascera, 130 anos depois, A Póvoa de Lanhoso, perdida entre verduras era símbolo, a galvanizar Trás-os-Montes, o Minho, a região duriense.

Oficiais do MDLP instruíram grupos de milícias ao nível de freguesias, apesar das dificuldades e dos perigos a que não podem escapar os movimentos clandestinos.

Foi em Agosto que nos unimos aos grupos da Maria da Fonte. Espontaneamente. Com a espontaneidade com que os nortenhos se rebelaram contra a loucuras gonçalvistas.

De mínima justiça é dizê-lo: o verdadeiro herói do Agosto de 1975 foi o povo do Norte. A ele - e só a ele - se devem as homenagens.

A unidade dos nortenhos, com o seu sentido de democracia em liberdade, e o MDLP, tiveram a clareza dos ideais que se confundem.

O plano de 13 de Abril entrara na terceira fase: o da subversão. Contra o regime gonçalvista, que tivemos o prazer de ver cair, mau grado preferíssemos que durasse até que a Europa Ocidental se apercebesse do perigo que defrontava na Península Ibérica.


Era imperioso que a Europa compreendesse que a campanha de Mário Soares, nas eleições de 1975, sob a capa do anti-comunismo, não excedia o âmbito de uma fraude, de um conjunto de truques, quais escudos de papelão a oporem-se a lanças de duro aço. O PCP ordenava, dominava, contra a vontade popular, expressa nas eleições. A assembleia de Tancos, ao derrubar Vasco Gonçalves, limitou-se a "dobrar a espinha", perante os levantamentos do Norte».

Alpoim Calvão («De Conakry ao MDLP»).

6 comentários:

  1. " O militar são mais tretas que verdades.
    O homem foi um homem sem principios de moralidade.
    O homem politicamente foi um fascista.

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    1. António de Oliveira9 de maio de 2021 às 01:57

      Ó "Unknown"! Não digas palermmices!

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    2. Mas qual "fascista"?? Os fascistas do Dr. Francisco Rolão Preto estavam no exílio. Numca Salazar os deixou influenciar a política portuguesa.

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  2. Uma leitura correcta do que se passou no "verão quente"!!!
    Subscrevo na íntegra!!!

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