quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Miguel Torga, uma outra abordagem.



Em relação a uma publicação de minha autoria na página União Nacional.

Resposta a uns quantos pseudo-esquerdistas, que há um par de dias se indignaram e reagiram contra uma publicação de minha autoria nesta página, na qual se utilizava um texto de Miguel Torga, como tal resolvi por bem mostrar-lhes o quanto desfasados e alienados andam em relação aos grandes vultos da nossa cultura. Não será porém que, por em tempos alguns desses grandes vultos e individualidades terem terem militado ou simpatizado nas hostes da dita "esquerda", que lhes dará o direito de se apoderarem e usarem a figura dos mesmos, como se eles não tivessem mudado radicalmente de opinião, o que no caso em epígrafe, demonstra o quão honesto e consciente foi o nosso grande Miguel Torga.
Para terminar, esta é apenas mais uma razão para considerar a grande maioria dos complexados de esquerda verdadeiros empenados mentais e gente incapaz de fazer leitura diversa daquela que o partido lhes impõe, as tais "cassete", posto isto, temos pena...
Miguel Torga não pertence à "esquerda", nem à "direita", Miguel Torga pertence ao património imaterial da Nação Portuguesa.

Alexandre Sarmento




«Eleições sérias, finalmente. E foi nestes cinquenta anos de exílio na pátria a maior consolação cívica que tive. Era comovedor ver a convicção, a compostura, o aprumo, a dignidade assumida pela multidão de eleitores a caminhar para as urnas, cada qual compenetrado de ser portador de uma riqueza preciosa e vulnerável: o seu voto, a sua opinião, a sua determinação. Parecia um povo transfigurado, ao mesmo tempo consciente da transcendência do acto que ia praticar e ciente da ambiguidade circunstancial que o permitia. O que faz o aceno da liberdade, e como é angustioso o risco de a perder! Assim os nossos corifeus saibam tirar do facto as devidas conclusões. Mas duvido. Nunca aqui os dirigentes respeitaram a vontade popular, mesmo quando aparentam promovê-la. No fundo, não querem governar uma sociedade de homens livres, mas uma sociedade de cúmplices que não desminta a degradação deles.»
Coimbra, 25 de Abril de 1975



«O que são as vidas! Chegado ao termo da minha, é que vejo como gastei os anos a correr atrás de foguetes doutra romaria. O que eu me desesperei por coisas perfeitamente vãs, a energia que gastei a cumprir deveres absurdos! Escrever era fundamentalmente o que me importava. E foi à escrita que dei menos horas e as mais cansadas. A maior parte do tempo perdi-o a ser médico, chefe de família, cidadão. Um médico apenas escrupuloso, um chefe de família apenas cumpridor, um cidadão apenas honrado. Em cursivo é que punha a paixão e a esperança. Mas roubei à caneta os melhores momentos, e fiz os versos quase às escondidas, como quem pratica vícios secretos. Em vez de me entregar de corpo e alma à vocação, servi-a como Deus é servido. E agora pego-lhe com um trapo quente. Nem posso voltar atrás, nem arrepiar caminho. É tarde demais para tudo. Até para morrer.»
Coimbra, 25 de Abril 1977



«A pátria assiste pasmada, com a epiderme coberta de chavões, a esta orgia verbal, a ver cada um apenas ocupado em conferir o seu radicalismo pelo do vizinho. Quem se desvia do rigor sumário da cartilha fica logo excomungado»
«Apetece fugir, deixar de vez esta pátria que mais ninguém sabe reconhecer gramatical, cívica e humanamente...»
Miguel Torga (pensamentos decorrentes do estado da nação a seguir ao 25 de Abril)



«Há uma coisa que eu nunca poderei perdoar aos políticos: é deixarem sistematicamente sem argumentos a minha esperança»
Miguel Torga em 1985


«A liberdade é uma penosa conquista da solidão.»


«Para que uma ditadura não desse lugar a outra ditadura». Enfrentou, na altura, os intelectuais pró-comunistas que preferiam a "construção do socialismo" à edificação da democracia. «É necessário interromper, sem demora, esta corrida leviana que nos leva à perdição.»
Miguel Torga, in A Capital, a 6 de Março de 1975.


«É uma tristeza verificar que a política se faz na praça pública com demagogia e nos bastidores com maquinações.»
 Miguel Torga, in Diário (14 de Setembro de 1977).



«Miguel Torga publicou mais um belo volume, o XII, do seu Diário. Abrange ele o período precedeu e sucedeu ao 25 de Abril de 1974.
As observações e comentários que o compõem são o espelho de uma profunda decepção. Homem que sempre foi da "esquerda", da "velha esquerda", alimentou até àquela data a ilusão de que a "esquerda" continha os valores e princípios de liberdade e de individualismo que prestigiaram, justamente, a esquerda liberal do século passado. Com o 25 de Abril e o que se lhe seguiu, Miguel Torga, como muito mais gente, verificou com amargura e espanto que a "nova esquerda" ou, simplesmente, a "esquerda" nada tinha que ver com os princípios da liberdade: é uma organização de "massas" com uma doutrina totalitária, demagógica, terrivelmente estatista e censória, poderosamente controladora de toda a vida pública e privada, eleitoralmente esmagadora e profundamente injusta.»
Orlando Vitorino in "Manual de Teoria Política Aplicada"

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