sexta-feira, 24 de abril de 2020

A revolução da vergonha.


A imagem pode conter: texto que diz "25 de Abril A REVOLUÇÃO DA VERGONHA"

(...)Oito séculos de História foram pó, moídos nas lages da inconsciência e da má-fé. Desmobilizou-se o povo, em cantatas bombásticas, mas ocas para a prática da democracia. Momento a momento, o Programa do MFA se modificou e levedou por quiméricos arranjos (ou desarranjos) de gabinete, que não se estribavam nas tradições, nos costumes, nas aspirações dos portugueses. Ao invés, desprezando-os, prevaleceram o partidarismo desagregador, o desabrochar da inveja, o florescer da incongruência e do arrivismo, que os mesquinhos hortelãos do voto cultivaram como plantas, no jardim da desgraça. Sem que os atormentassem escrúpulos da consciência que não têm; sem se incomodarem a explicar o desrespeito pela primeira proclamação do MFA, em que se garantia a unidade interterritorial da Nação [para enganar os parvos, os tolos e os idiotas

O 25 de Abril, cópia da Primavera de Praga, não foi, em rigor, uma revolução. Certo é que os oficiais que se abalançaram a derrubar o antigo regime tiveram a decisão e a força das armas para vencer. No entanto, logo, incompetentes e ingénuos, manipulados pelos estrategas comunistas, se deixaram despojar da "sua" revolução. Que admira, em consequência, que tenha aparecido, como de geração espontânea, os chamados progressistas, eufemismo que serviu de capa a desvairados e oportunistas? Que admira, em consequência, que, no mare magnum da nossa sonolência política, tenham surgido, como cogumelos após chuvada em terra fértil, tantas vítimas, muitos torturados, demasiados perseguidos, numerosos envelhecidos pela Polícia política da "deposta senhora"? A procissão dos antifascistas foi tão majestosa, que não pode ter sido verdadeira.

Importa desmistificar o 25 de Abril, em que os aptos cederam o passo aos incapazes, em que, desiludidos, muitíssimos bons cidadãos preferiram o refúgio no estrangeiro, contribuindo para o desafogo alheio, a sujeitarem-se ao fluxo e ao refluxo das marés dos humores de garotos, de ladrões, ou de bêbados.

Os beirões - os rudes homens da Beira-Baixa - têm um rifão: "Quem parte e reparte e não guarda a melhor parte, ou é parvo ou não tem arte". Desfazendo no adágio, a esmagadora maioria dos "fabricantes" do 25 de Abril foi parva, mas teve arte. A diabólica arte de consumir em cinzas, no espaço de semanas, a obra secular dos Portugueses. Semeando divisões e inimizades, que nem os rudes e honestos homens da Beira-Baixa serão capazes de anular, porque a honestidade e a rectidão de carácter não bastam para apagar incêndios, nem para minorar crises de autoridade, nem para ressuscitar os mortos, nem para convencer ao regresso os que fazem falta (remendões de sapatos estragados) a um país carente de tudo - até do mais singelo bom-senso...

Importa desmistificar o 25 de Abril... por culpa dos que seguravam as rédeas do Poder, o povo português, generoso, equilibrado, trabalhador, imbuído de religiosidade, apegado a antiquíssimas tradições - abertos os diques da opressão - confundiu liberdade com licenciosidade; despolitizado, não sabia - não podia saber -, na sua transbordante alegria, que se transviava nos esconsos da indisciplina, da anarquia e do caos. Portanto, que se afastava da institucionalização da verdadeira democracia.

O histerismo colectivo apresentou aos maus observadores uma falsa imagem dos portugueses. Basta-nos pensar no relançamento de uma economia fraca, ainda mais debilitada pela alta de salários que deslumbrou as camadas laborais (e de que se aproveitaram os espertos, os menos aptos e os preguiçosos), no entanto sem a contrapartida de uma subida de produção). Males agravados pela redução do espaço territorial do País; pela pobreza dos solos; pela quase inexistência de um parque industrial, sobretudo competitivo a nível internacional; pela perda das matérias-primas do Ultramar e dos mercados desses territórios africanos. Produtividade, custos e salários estão intimamente ligados. Desprezar esta realidade é política de insensatos e de loucos.

Pompílio da Cruz («Angola: Os Vivos e os Mortos»).

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