sábado, 18 de abril de 2020

Mestre João Núncio, um grande português.


João Branco Núncio, uma figura incontornável da nossa tauromaquia, um grande português, um grande empresário, um homem exemplar, um grande ser humano. Infelizmente morreu por um único motivo, a sede de destruição e o apagar de tudo aquilo que foi marcante e positivo que se fez no passado deste país até ao dia da fatídica e vergonhosa revolução.




"Dos muitos casos de violência, de roubo, de confisco da propriedade privada, ocorridos no Alentejo, alguns há que não podem ser facilmente esquecidos. Encontra-se nesta circunstância, o assalto à residência de mestre João Branco Núncio, já depois de lhe terem extorquido as suas bens exploradas empresas agrícolas e o seu semental de gado bravo. Dando vazão a ódios recalcados, a vinganças que se achavam adormecidas, manipulados politicamente, tomam-lhe alguns trabalhadores a casa de assalto, depradando-a pela forma mais selvática que se pode imaginar. A pretexto (aparece sempre um pretexto) da equívoca explosão de um engenho no Centro da Reforma Agrária, de Alcácer do Sal, indivíduos, na sua maioria estranhos à vila, para o efeito devidamente instrumentalizados, assaltam-lhe a residência particular, o que lhe restava, e à numerosa prole ainda a seu cargo. A pau e à navalha, destroem-lhe peças de mobiliário, o seu pequeno museu de recordações tauromáquicas, praticamente desfeito numa fúria selvagem, a que não foi poupado sequer um retrato a óleo, da autoria de Eduardo Malta, da figura em corpo inteiro do nosso maior mestre de toureio equestre de todos os tempos, o qual foi furiosamente golpeado à navalhada. A cabeça embalsamada do seu primeiro touro, como debutante, foi destruída à paulada, com ferocidade...

Praticamente sem recursos com que valer à família numerosa ainda a suas expensas - como era o caso do seu filho e jovem cavaleiro José Núncio, inválido, como se sabe, em consequência de grave queda quando montava a cavalo - mestre João fora de alongada até à Golegã, hospedando-se em casa de seu cunhado Patrício Cecílio. Das suas montadas, de alta escola e apuro, apenas uma lhe ficou. Com ela se estava treinando, na esperança moça dos seus mais de 70 anos de voltar aos redondéis e amealhar uns tostões para não morrer à míngua. No entanto, não resistiria à dolorosa situação em que se achava. Um colapso cardíaco, surpreende-o a viver essa fagueira esperança de um regresso que, por desígnio de Deus, não se viria a consumar. Ficou de mestre Núncio, um nome honrado, uma grande simpatia humana e uma saudade que o tempo jamais apagará. Morto pelo ódio e não pelo amor dos homens!"


João M. da Costa Figueira

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