«Em toda a minha vida no Ultramar Português sempre verifiquei fora de qualquer dúvida, que podia haver compreensão e amor entre as raças. O pensar negro - o fanatismo pró-negro e anti-branco - de alguns extremistas antes do 25 de Abril de 1974, tornou-se muito diferente nos demagogos do pensamento negro, dos coléricos extremistas, dos nacionalistas do "pé descalço", das massas ululantes e cruéis do "poder popular", açuladas pelos slogans importados, bombásticos, mas vazios de conteúdo e calor humano. Relembro os dizeres de um negro americano: "Se há uma dívida com o negro do passado, ele também tem uma dívida. Essa dívida é para com os homens que viveram antes dele, para com aqueles que o ajudaram pessoalmente e para com os muitos que o ajudaram tomando posições quando era preciso e não se negando a comprometer-se. Deve-se-lhes não ceder à violência e à cólera, deve-se isso a uma porção de homens que ainda não nasceram. Deve-se a si mesmo ser um homem, um ser humano, em primeiro e último lugar, senão sempre". E tudo isto derruiu ante a invasão dos interesses "imperialistas". Foram eles - e não o esqueçamos - os responsáveis pela violência e pela guerra psicológica de desmoralização dos "brancos". E tudo serviu para que tantos fossem acusados de tudo, amesquinhados, ridicularizados, para colocá-los em condições de não poderem defender os supremos bens da vida, a começar pelo maior de todos eles, que é o da Liberdade.
Angola era para nós uma catedral de Devoção e Amor. Era uma floração de Portugal. Era a nave sagrada onde reboavam os cânticos do Trabalho e do Progresso. E os partidários dessa teoria que massacrava e escravizava o homem tudo derruíram. Só deixaram ruínas e o ferfilhar do ódio.
Não queria que este "livro" fosse um lamento. Antes se convertesse em hino! O herói ou o pusilânime, o réprobo ou o santo, o missionário ou o agitador, a virgem até ao sacrifício ou a mulher que se vende ao que lhe paga, o homem sem ideias ou o pensador, o patriota ou o cidadão do mundo, ninguém é grande e pequeno neste "novo e mísero mundo que nos criaram. Rasgaram a História, o presente e o futuro, com o gesto de Lutero quando rasga a Bula pontifícia na Catedral de Mittenberg! Não, a "revolução" não será julgada, mas sim, os homens que a adulteraram. E o traído Povo Português?
Creio que bem podemos parafrasear um filósofo de Paraíba: "Português não bate palmas no meio do Governo. Português só bate palmas no começo e no fim. No começo, de esperança. No fim, de pena".
Por mim, com este "livro", bato palmas, não só de pena, mas de nojo! E os portugueses do verdadeiro Portugal de sempre? Todavia, os portugueses renegados, os que se riem das desgraças que criaram, continuam por aí impantes de vaidade, orgulhosos da sua obra e, certamente, agarrados à ideia de que "Deus estava com a mania das grandezas quando os criou". Não Deus, mas o Diabo!».
Pompílio da Cruz («Angola: Os Vivos e os Mortos»).
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