sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Mais uma vigarice dos paladinos da liberdade e democracia!!!

 



«Em 1946, terminada a guerra mundial, realizou-se o Acordo de B. Woods e até 1971, durante vinte e cinco anos, viveu-se um período de "crescimento económico sem precedentes" que justificou deixarem-se esquecidas as sombrias perspectivas do teorizador austríaco [von Mises].

O Acordo conservava a referência das moedas ao padrão-ouro, mas tratava-se de uma referência ameaçada e, na realidade, já destruída pela política económica adoptada por F. D. Roosevelt a partir de 1933 quando proibiu o entesouramento do ouro e estabeleceu a obrigação de todos, incluindo os bancos, o entregarem ao Estado a um preço que era fixado todos os dias pelo próprio Presidente dos EUA da forma mais arbitrária e leviana. Reside aqui mais um exemplo da indiferença dos Governos pelos interesses da economia e das populações. Transcrevendo uma página do "Diário", de H. Morgenthau, na época secretário do Tesouro ou ministro das Finanças, dos EUA, Paul Bareau conta-nos que "numa ocasião, quando Morgenthau e o presidente estavam estudando o preço do ouro para esse dia, Roosevelt propôs um aumento de 21%, justificando-o assim: é um número de sorte, três vezes sete...". As consequências de tanta leviandade levaram o Congresso ou o Parlamento americano a retirar ao Presidente o poder de alterar o preço do ouro e a fixá-lo por lei em 35 dólares a onça. Tratava-se, igualmente, de uma prepotência do Estado, pois só o mercado está em condições de determinar o preço das mercadorias. Fixado pelo Estado, o preço do ouro não podia corresponder à mobilidade das transacções. Era, porém, um acto político que consagrava orgulhosamente a "inviolabilidade do dólar" e já reflectia a opinião keynesiana de que o padrão-ouro é "remanescente de uma era de barbárie". Criou-se deste modo a anarquia financeira, em grande parte responsável pela Segunda Guerra Mundial, e foi em tais condições de falsificação do preço da moeda que, terminada a guerra, o Acordo de Bretton Woods se propôs estabelecer uma certa ordem criando o "sistema monetário internacional" ainda hoje existente. O FMI que, com o Banco Mundial e o GATT, saiu daquele Acordo, destinava-se a constituir com as quotas dos diversos países nele reunidos, um fundo financeiro para ocorrer às exigências do comércio internacional. Ora aconteceu que aquelas quotas se mostraram inferiores aos recursos necessários e as reservas que elas constituíam tiveram de ser reforçadas com suplementos que foram, quase exclusivamente, de dólares americanos. "Quase sem disso se aperceber - escreve P. Bareau - o mundo transitou do padrão-ouro ao padrão-dólar". Aproveitando tal situação e movidos por imperativos nacionalistas, os EUA emitiram tais quantidades de moeda que o dólar deixou de ser escasso, deixou de ser estável e deixou de merecer confiança. Mas como ainda se mantinha, em parte, convertível em ouro e como os EUA detinham a maior reserva de ouro do mundo, conseguia ir concitando, para ele e para o sistema de B. Woods, uma certa confiança. Ora, em 1971, o Presidente Richard Nixon "suspendia até essa restrita e parcial convertibilidade que restava", numa decisão que acompanhou de uma exclamação decerto abusiva, ai dele!, a Milton Friedman: "Agora sim, agora é que somos todos keynesianos!". Paul Bareau comenta: "Aqui desceu o pano sobre o Acordo de Bretton Woods"».

Orlando Vitorino («Exaltação da Filosofia Derrotada»).

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