quarta-feira, 1 de julho de 2020

Episódios quase esquecidos da nossa história, o Remexido.


José Joaquim de Sousa Reis, o Remexido (1796 - 1838) - Genealogy


No país, decorria uma extenuante guerra civil, iniciada em 1828, resultante dos ódios criados pela maçonaria no apoio a D. Pedro de Alcântara (ex-Imperador do Brasil) e do povo português, na defesa da Monarquia e D'El Rei Dom Miguel I.

Ambos filhos de D. João VI, degladiavam-se na defesa de dois regimes antagónicos para Portugal, o Liberal (república democrática vitalícia e hereditária) e o Legitimista (monarquia tradicional portuguesa).

Grosso modo discutia-se a repartição dos três poderes: legislativo, executivo e judicial, sendo que, no regime legitimista, o monarca concentrava os três poderes (o que defendiam D. Miguel e o povo português).

Já no regime liberal o poder de elaborar e promulgar leis era entregue a uma ou várias assembleias, geralmente eleitas por sufrágio (maçónico), o judicial era entregue aos tribunais (maçonaria), enquanto ao Presidente Vitalício e Hereditário ficava reservado o poder executivo (regime defendido por D. Pedro, Grão-Mestre do GOB).

O longo debate iniciou-se em 1820. Seis anos depois, com a morte de D. João VI, a sucessão caberia a D. Pedro (o primogénito).

Contudo, dado que este havia pegado em armas contra a pátria e o rei seu pai, tornando-se Imperador do Brasil, perdera com essas acções todos os títulos de nobreza portugueses, bem como todos os direitos de sucessão ao trono português, para si e toda a sua descendência.
Dom Miguel é Aclamado nas Cortes de Lisboa de 1828. Dom Pedro é expulso do Brasil em 1831 por José Bonifácio e com as 80 toneladas de ouro devidas a Portugal pelo Tratado do Rio de Janeiro de 1825, parte para a Inglaterra, contratar mercenários, com os quais invadiria Portugal em 1832 (Desembarque do Mindelo) para fazer a guerra ao povo português e usurpar o trono para a sua filha Maria da Glória, princesa do Grão-Pará.

Todos estes acontecimentos levariam o país à guerra entre a maçonaria e mercenários estrangeiros por esta contratados, e o povo português, entre os anos de 1828 e 1834.

Durante estes anos, o Algarve foi palco de várias ocorrências, essencialmente a partir de 1833.

A maçonaria exercia a sua pressão nas localidades do litoral, como Faro, Olhão, Portimão ou Lagos, que sempre mostraram a sua simpatia pelos novos ideais republicanos e democráticos, ao contrário do interior, que defendia a Monarquia de Deus, Pátria, Foros e Rei.

Esta espada de D. Miguel voltou a casa | Património | PÚBLICO

As guerrilhas miguelistas na província eram várias, embora duas se destacassem, a de Remexido e a de Camacho.

Estes homens comandavam vários “assaltos” às povoações ocupadas pelos liberais, libertando os seus habitantes e restaurando a Monarquia.

Em Fevereiro de 1834 e de forma a por cobro às investidas legitimistas no litoral, o governo usurpador liberal, destacou para o Algarve, o Barão de Sá da Bandeira, coadjuvado por tropas estrangeiras (belgas, irlandesas e inglesas).

Já D. Miguel, poucos meses depois e com o objectivo de defender o povo, enviou o Brigadeiro Tomás Cabreira.

Sá da Bandeira, ao ter conhecimento da iminente entrada no Algarve do Exército Realista, desloca-se com as suas tropas estrangeiras, de Faro para Silves, e desta cidade para São Bartolomeu de Messines.

Já Tomás Cabreira, vindo de Alcácer do Sal, acampou em S. Marcos da Serra, recebendo nesta aldeia importantes reforços militares, entre os quais toda a Guerrilha de Remexido.

O encontro dos dois exércitos ocorreu a 24 de Abril de 1834, junto a uma pequena ermida dedicada a Santa Ana, numa área bastante acidentada, escassos quilómetros a Norte de Messines.

Tomás Cabreira avançava com 5.000 homens de infantaria, 300 cavaleiros e sete peças de canhão. Já Sá da Bandeira teria cerca de 1.000 baionetas, 80 lanceiros e uma pequena peça de 3.

No «Diário do corpo de atiradores belgas, comandado pelo tenente-coronel Le Charlier», membro do exército de Sá da Bandeira, ficou registado minuciosamente o combate:
«(...) Às duas da manhã de 24 [de Abril de 1834], estávamos em armas, às oito, o inimigo ainda não aparecera, e pensámos por momentos que tivesse adiado o ataque para o dia seguinte. Já o nosso batalhão regressava ao acampamento quando as vedetas anunciaram o aparecimento da vanguarda miguelista, pelo que retomámos a posição anterior. Primeiramente, apresentou-se uma nuvem de guerrilheiros que se expandiram em ordem de atiradores; aproximaram-se lentamente e abriram fogo».

O combate foi violentíssimo. «Muito fraco para resistir a tanta gente, o sr. capitão Poutrain marchou em retirada; a 4ª companhia, comandada pelo sr. tenente Falarége, foi apoiá-la, e começou a fuzilaria a pé firme. (…) O resto do corpo belga formava a coluna de reserva, comandada pelo sr. capitão Bergé. Começou então um vivo fogo sobre toda a nossa frente; ficámos expostos a uma fuzilaria muito nutrida, à qual, por causa do nosso pequeno número, só muito debilmente podíamos responder; troavam sem descanso contra nós duas peças de 6 e um obus, mas a nossa peça de 3, embora em desvantagem, lutava com tenacidade contra esses adversários. A acção tornava-se sangrenta no cabeço do centro».

E o relato continua: «Às 5 horas, uma pequena tropa dos nossos atiradores, destinados a defender a entrada do barranco que separava o cabeço do centro dos cabeços da esquerda, deixou a sua posição para se deslocar para o centro, ameaçado por novo ataque; o inimigo penetrou imediatamente nessa garganta, e a nossa esquerda ficou sem comunicação com o centro; (…) Ao perder a sua posição, a esquerda deixou, naturalmente, o centro exposto ao redobro dos ataques de frente e de flanco. O fogo tornou-se terrível nesse ponto, e o tenente-coronel, embora oprimido por fogos cruzados, continuou a defender-se ali: a sua pequena tropa diminuía a olhos vistos. Um pelotão de cavalaria inimiga executou uma vigorosa carga, subiu o cabeço e chegou ao cimo, a dez passos do tenente-coronel; neste momento, este mandou calar baionetas a uns vinte homens e carregar; este movimento, comandado prontamente e com sangue-frio, salvou-o. Os cavaleiros voltaram rédeas e precipitaram-se para a encosta do cabeço. Foi nessa ocasião que ele achou impossível prolongar a resistência: cobriu a direita e a esquerda com alguns atiradores e iniciou a retirada a passo ordinário».

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O tenente-coronel Le Charlier continua:
«Entretanto, as nossas bagagens e os nossos feridos eram evacuados pela estrada de Silves, que fora designada como ponto de retirada. (…) A divisão chegou a Silves à meia-noite».

O Barão de Sá da Bandeira, em ofício dirigido ao ministro do governo usurpador Agostinho José Freire, redigido no dia seguinte em Portimão, resumia os acontecimentos desta forma:
«O combate foi longo pois durou perto de dez horas. Uma colina importante foi tomada e retomada três vezes. No meio do dia, o inimigo repassou a Ribeira de Arade, sendo obrigado a deixar o terreno que antes tinha ocupado. Pelas quatro horas da tarde, fez de novo passar um forte Batalhão com meio Esquadrão. Vendo eu esta força marchar numa planície, longe do suporte, julguei ser o momento de a aniquilar, e decidir a sorte do combate: ordenei em consequência uma carga de dois Esquadrões de Lanceiros sobre esta força, e eu mesmo acompanhei os Lanceiros, que se retiram antes de tempo. Aproveitando este momento, o inimigo atacou com grande força o Batalhão Belga que formava a nossa esquerda. Para o desengajar, ordenei nova carga, a qual teve o desejado efeito, mas nela perdemos alguns oficiais e soldados. Então ordenei a retirada para uma posição vantajosa: nela nos demoramos algum tempo até que pelas seis horas da tarde fiz executar um movimento retrógrado sobre Silves».

Também Tomás Cabreira sintetizou a batalha, três dias depois, a partir de Loulé, em ofício dirigido ao Conde de Almer.

Nesta carta referia, a determinada altura:
«O inimigo, assim batido, foi perseguido na sua retirada pela nossa Cavalaria (…), e, a não ser a aproximação da noite, tudo teria caído em nosso poder. De tudo quanto deixo dito resultou perderem os rebeldes cento e quarenta e tantos mortos e trinta e cinco prisioneiros, entre eles um oficial; além de dois soldados apresentados, ficaram também em nosso poder muitos cavalos e de quarenta a cinquenta lanças, munições de boca, armamentos, algum cartuchame, e as macas em que conduziam os seus feridos (…)».

Quanto a baixas no exército de Tomás Cabreira, foram, segundo Luz Soriano, «nove soldados mortos, um oficial, dois soldados inferiores e três soldados feridos gravemente; um anspeçada e dezanove soldados feridos levemente».

O jornal «Correio do Porto» resumiu o combate, referindo que os liberais foram obrigados a «fugir precipitadamente em direção a Silves, deixando toda aquela serra juncada de cadáveres».

Cerca de um mês depois, sendo já certa a vitória dos liberais, o Barão de Sá da Bandeira, dirigindo-se para Alcácer do Sal, pernoitou em São Bartolomeu de Messines.

Nesta localidade, segundo o já citado «Diário do corpo de atiradores belgas», «a Divisão passou ali a noite e não pôde impedir que os soldados praticassem um ato de vingança pública, queimando a casa do famoso chefe de guerrilheiros [Remexido]. Até os próprios sinos da igreja, que, por ocasião do combate de 24 de Abril, haviam saudado a nossa retirada com grandes repiques, foram quebrados ao som das aclamações da tropa. No dia seguinte, (…) ao atravessar o campo de batalha de 24 de Abril, encontrámos as ossadas, esbranquiçadas pelo fogo, de um certo número de soldados nossos que tinham morrido nesse recontro. Também ali encontramos seis compridas peças de bronze e várias carretas».

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A 26 de Maio de 1834, era assinada a Convenção (Capitulação) de Évora-Monte, pondo termo à guerra "civil", com a rendição de D. Miguel devido à intervenção das forças estrangeiras da Quadrúpla-Aliança.

O combate de Santa Ana, como ficaria conhecido, foi o canto de cisne do exército legitimista de D. Miguel I e constituiu, conjuntamente com a batalha naval travada junto ao cabo de São Vicente, um dos acontecimentos bélicos de maior relevo vividos no Algarve durante a guerra "civil".

Quanto aos protagonistas, Sá da Bandeira tornar-se-ia um dos mais destacados militares e políticos do governo usurpador, republicano e liberal, tendo sido várias vezes ministro e chefe de governo como paga pela sua traição.

Tomás Cabreira, apesar de gozar de amnistia, seria preso e cobardemente assassinado por desconhecidos, que para o efeito assaltaram a cadeia de Faro, na noite de 21 de Novembro de 1834.

Já José Joaquim de Sousa Reis, o Remexido, depois da Capitulação de Évora-Monte, manteria a guerrilha activa no Algarve e Baixo Alentejo em defesa de Deus, da Pátria, da manutenção dos Foros e, do nosso bom Rei Dom Miguel I, lutou até poder pela restauração da Monarquia, tendo vindo a ser capturado em combate e fuzilado em Faro, a 2 de Agosto de 1838.

Hoje, e volvidos que são 186 anos sobre a batalha de Santa Ana, reina naquele espaço uma tranquilidade absoluta, apenas quebrada pelo silvo do comboio que por perto dali passa, ou, e mais distante, pelo ruído dos automóveis que circulam no IC1.

No solo, porém, por entre pedras e vegetação, encontram-se facilmente pequenos projectéis de chumbo, como testemunho vivo do violento confronto que ali ocorreu naquele fatídico dia 24 de Abril de 1834.

Evocar a Batalha de Santa Ana ou de São Bartolomeu de Messines ...

Nas imediações da pequena ermida, na época totalmente arrasada, foi também recentemente construído um pequeno memorial: um painel de azulejos, cujo conteúdo, baseado na memória popular, se encontra distorcido, mas que, mesmo assim, lembra aos homens de hoje que naquele campo se escreveu um parágrafo da História do Algarve e de Portugal.»

Texto bastante interessante e verídico de autor que desconheço...ou talvez não!!!

Mais um episódio da história que retrata os bons serviços prestados a este país pela cambada maçónica, infelizmente e dois séculos depois, o paradigma mantém-se, e este povo continua o mesmo, acomodado, conformado e apático!!!
Triste sina a nossa.

Alexandre Sarmento


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