quarta-feira, 11 de março de 2020

11 de Março, um relato na primeira pessoa!


Texto escrito pela pena de um amigo que muito considero, um homem vertical, um homem verdadeiro, um homem honesto e frontal, um homem sem as palas do politicamente correcto, um homem consciente e um ser humano ímpar a quem agradeço o favor de ser meu amigo.

Aqui fica o meu agradecimento ao meu caríssimo amigo José Luiz da Costa Sousa por me ter permitido publicar este verídico testemunho, deixo aqui um grande abraço e obrigado por existir, meu Comandante.

Alexandre Sarmento


Resultado de imagem para 11 de Março 1975



Objectivos do 11Mar75: 

1º Neutralizar fisicamente (prender) todos os militares e civis relevantes, identificados como potenciais opositores ao processo descolonizador pró URSS, enjaulando-os em Caxias, até finalização da descolonização.
2º Acelerar o processo descolonizador o mais possível.
3º Acelerar o processo de comunização em geral de Portugal, e consolidar o poder do PCP.
O 11Mar75 e o 25Nov75 foram duas ocorrências extraordinárias do processo revolucionário iniciado em 25Abr74, nas quais as tropas Paraquedistas foram magistralmente manipuladas e usadas para fins políticos complexos, de que estas, eventualmente, não tiveram consciência plena, nem no acto e, porventura, nem á posteriori.
Ambos estes eventos se complementaram em termos dos interesses políticos, internacionais e nacionais, despoletados pelo 25Abr74 e, foram apenas capítulos diferentes e críticos dum mesmo plano geral e obra dos mesmos planeadores, que não foram os ditos e reditos à opinião pública, estes, foram meros “executores desses planos”, uns mais conscientes e outros menos ou zero.
Nada em tais processos aconteceu por geração espontânea ao acaso das políticas em curso, ou dos Capitães em movimento, não, havia planos e planos para os planos, vindos da URSS, pelas mãos dos agentes portugueses.
As versões oficiais destes eventos contam outras histórias mais conformes com os interesses formais dos vencedores dos mesmos, mas, nada demais, são apenas as sabidas e consabidas duas faces da política, uma, o “show da correção política” das ribaltas dos média e dos políticos para consumo e manipulação do Povinho e, a outra, é a “Real Politik”, a mais das vezes muito diversa se não oposta á oficial, hermética, quiçá dita conspiracionista e, como tal, desconhecida e não considerada.
O 11Mar75 foi uma clássica “golpada” política, uma armadilha primária e básica, para neutralizar adversários e avançar com urgentes objectivos políticos, que ultrapassavam, e muito, os interesses de Portugal.
A estratégia destas “golpadas” consiste em pré planear e gerar intencionalmente factos políticos, que choquem dramaticamente a opinião pública, e que propiciem a sua imediata manipulação pela comunicação social e pelos políticos de serviço ao golpe, para lhe criar paixões, opiniões e atitudes, orientadas no sentido político pretendido.
Construída e dirigida a opinião do Povo para os objectivos pré-definidos, depois é só executá-los através desse mesmo povo, ou com ele, ou pelo menos com o seu beneplácito, caso do 11Mar75.
Esta “estratégia golpista” foi usada em Portugal pós 25Abr74, no 28Set74, no 11Mar75, no 07Set74 em Moçambique e no 25Nov75.
É uma das “engenharias” sistemáticas e standard das grandes políticas internacionais, chamam-lhe em gíria “false flag attacks”, ou sejam “ataques de bandeira falsa”, executam-se sob as tais bandeiras falsas, para depois inculpar e ou eliminar os donos reais dessas bandeiras, por norma, inocentes no caso.
Porquê o 11Mar75, e como é que foi montado?
Logo após o 25Abr74, o poder político em Portugal ficou controlado por “gentes e agentes” da URSS, uns mais conscientes disso e outros menos, cujos objectivos prioritários eram garantir a entrega imediata das nossas colónias aos movimentos da URSS lá existentes, através da chamada descolonização.
Mas algumas das figuras relevantes do 25Abr74 e do País mantiveram consciência dos superiores interesses nacionais, e manifestavam oposição à consumação de tais objectivos, como por exemplo, o General A. Spínola e muitos outros militares e civis, que defendiam outras soluções, sob a bandeira de Portugal.
Havia, pois, que os afastar ou neutralizar, como?
Usando a estratégia da “golpada” política atrás referida e metê-los em “enxovias”, sossegados pelas grades, até á descolonização final; assim aconteceu.
Os estrategas da “golpada” definiram os agentes a usar, os inimigos a eliminar, o tipo de “facto político” a produzir para esse fim, o lugar e o tempo próprios para o levar à execução.
Os paraquedistas foram os agentes a usar, por serem uma tropa especial de intervenção, prestigiada, de elevada visibilidade e com impacto forte garantido na opinião pública, tendo sido atempadamente infiltrados e doutrinados politicamente para o efeito, em particular, as suas classes de base.
Foi decidido também que o facto político a criar seria uma “emboscada político militar” contra os Paraquedistas, a executar no dia 11Mar75 com um qualquer isco, e a montar no RALIS, Unidade Militar em Lisboa, onde se aquartelava um irresponsável extremismo revolucionário.
Entre os portugueses conscientes do desastre político em curso em Portugal, e que detinham algum poder para a ele se oporem, em particular à descolonização e à sovietização do País, militares e civis, foi fácil criar entre eles uma predisposição de vontades para se fazer algo que o travasse, e como tal se manifestaram, foram referenciados e listados como reacionários.
Os “inimigos” a neutralizar estavam definidos.
O General Spínola, ao resignar da Presidência da República em 30Set74, tornou-se o polarizador destes descontentamentos, que nunca passaram do verbo, mas, se lhes surgisse uma oportunidade iriam talvez aproveitá-la, na medida do possível, para contrariar a tragédia nacional em curso.
Essa oportunidade foi pré planeada e criada, e foi-lhes oferecida na bandeja da armadilha “político militar” no RALIS, contra os paraquedistas, mas que aparentou, inicialmente, ser uma oportunidade de travar os radicalismos revolucionários em curso.
O contexto político e o tempo útil para descolonizar em favor exclusivo da URSS passava, e urgia levar à execução a tal golpada, para acelerar as descolonizações, em particular as duas mais relevantes, Moçambique e Angola, que ocorreram logo a seguir, em Junho e Novembro.
Especialistas do KGB (o Cor. Mankeiev, etc.), os “agentes” portugueses da URSS e acólitos vários, desenharam a manobra, simples e primitiva, mas efectiva.
O local escolhido para a dita “emboscada político militar”, o RALIS (Regimento de Artilharia Ligeira à saída de Lisboa), era controlado por um visio revolucionário radical, cognominado popularmente pelo “Fittipaldi das Chaimites”, por óbvias razões, e que serviu caninamente tal desiderato.
Ele e um seu adjunto foram ambos promovidos por distinção, pelos feitos e contrafeitos do 11Mar75; pois desempenharam os seus papéis a preceito.
O isco utilizado para a armadilha foi infantil, mas funcionou; puseram a correr o rumor que o RALIS acoitava um grupo de “Tupamaros”, guerrilheiros comunistas sul-americanos, que tinham vindo a Portugal para executarem a “Matança da Páscoa”, ou seja, a eliminação física dos tais opositores potenciais à descolonização e à sovietização de Portugal, demonizados, entretanto, como anti conquistas de Abril, e feitos constar numa célebre “Lista da Matança da Páscoa”, também posta a correr, com o General Spínola à cabeça.
O Comandante do Regimento de Paraquedistas em Tancos, na manhã de 11Mar75, recebeu uma mensagem oficial classificada, chegada na noite de 10 para 11Mar pelas transmissões militares, oriunda do Chefe do Estado Maior da Força Aérea, e que ordenava o avanço imediato dos paraquedistas sobre o Ralis, para ali neutralizarem os “Tupamaros”.
O Comandante Rafael Durão confirmou tal ordem com as respectivas fontes, tendo-lhe sido garantido que o próprio Presidente da República, General Costa Gomes, estava ciente de tal acção e, militar como era, mandou aprontar e avançar as tropas.
Uma Companhia de paraquedistas embarcou em helicópteros e deslocou-se para o RALIS, para cumprir a missão.
Ali desembarcados, os paraquedistas foram cobardemente emboscados pela História; valeu o bom senso, que se releva como de excepção, do Comandante Paraquedista da Operação.
Os autores da “golpada” tinham já em espera e pré posicionados no exterior do RALIS, a Televisão e o “Povo” previamente convocados, actores e factores críticos e essenciais destas manigâncias políticas.
Por testemunho pessoal e presencial, na pessoa do adjunto do “Fittipaldi das Chaimites”, sei que este célebre Capitão do RALIS, nesse dia, chegou às 7 da manhã ao quartel, onde por norma chegava bem mais tarde; porquê?
Chegou e chamou de imediato os quarteleiros do material de guerra a quem ordenou a instalação de metralhadoras normais e antiaéreas em posições estratégicas no interior do quartel, guarnecidas com munições reais e atiradores, em espera.
O distinto Capitão sabia, pois, da vinda dos Paraquedistas e dos aviões da FAP, os T6´s, que ainda sobrevoaram o RALIS, para eventual apoio aéreo aos paraquedistas, e estava instruído para actuar como o fez, ou seja, fazia parte da emboscada contra os paraquedistas.
Heli desembarcados os paraquedistas, frente ao quartel e aos “actores do evento “: - o Povo, a TV e outros Média, estes já emboscados em posição no palco do terreno, prontos a entrarem em acção em cumprimento do “guião/script do PCP”, logo começou a peça de teatro ensaiada em formato de tragédia grega, mas à portuguesa.
Em revolta, de alma revolucionária ao peito, o Povo avança para os paraquedistas e grita, chora, lamenta, implora, ameaça e, abrenúncio, chama-os de reaccionários, traidores do povo, e cruz credo, anti conquistas de Abril!
Face a tal choro e ranger de dentes da arraia miúda, não há paraquedista que resista!
Arrasados psicologicamente, os paraquedistas abraçam-se aos manipulados e manipuladores “povinhos” e vice-versa e, foram neutralizados.
A TV e afins tudo filmavam, reportavam e transmitiam Portugal fora, para manipulação da opinião pública, repetindo intensiva e continuadamente tratar-se dum golpe da Direita contra as “conquistas de Abril”, liderado pelos “reaccionários”, os tais da Lista da Matança da Páscoa, ou sejam, todos aqueles que os agentes da e pró URSS pretendiam neutralizar, por os considerarem opositores á descolonização e à sovietização do País.
Enraivecidos, intoxicados e cegos pela propaganda mediática, os militares “progressistas” e a acéfala turba multa do “zé povinhos” desceram às ruas em incontroladas ferocidades revolucionárias e iniciaram a “caça às bruxas”, perseguindo e prendendo todos os que encontraram da dita lista e não só.
A Prisão de Caxias, nesses tempos áureos de amplas liberdades de Abril, em oposição à feroz ditadura salazarista, encheu-se com “opositores políticos”, culpados de nada a não ser de pensarem, e ali foram enfiados sem mandado de prisão e sem quaisquer procedimentos legais, apanhados ao molho, onde calhou, pela marabunta Zé Povinha e Zé Militar, em paroxismos psicopáticos de sovietismos e maoismos agudos e galopantes, dos cérebros invalidantes; e ali ficaram esquecidos nas enxovias, mais de um ano!
Um degradante espectáculo pré-medieval, anti todas as democracias, todos os direitos ou tortos e todas liberdades alegadas e por alegar.
Nessa noite, a loucura revolucionária, em clímax, ejaculou-se plenamente numa Assembleia Geral do Movimento das Forças Armadas, dita selvagem, os militares votaram, maioritariamente, a favor do fuzilamento dos prisioneiros, militares e civis!
Por “milagre” houve figuras revolucionárias, com algum bom senso remanescente, o então Presidente da República, general Costa Gomes e um conhecido Capitão de Abril, que se opuseram com força e sucesso a tal barbaridade, pois sabiam da tramoia, ou seja, da inocência dos potenciais fuzilados.
Mas a discussão foi acesa, houve cadeiras no ar no decurso da refrega do fuzilar ou não e, finalmente, as cadeiras no ar mais contundentes decidiram democraticamente não fuzilar. Inacreditável, mas verdade!
O General Spínola helitransportou-se à pressa em fuga para Espanha, no percurso aterrou em Tancos, para que o Comandante do Regimento de Paraquedistas, Coronel Durão, com ele fugisse também.
Militar por excelência e condição, na alma e na atitude, o Comandante dos Paraquedistas recusou a fuga e disse: -
“Fico, não vou! Pois apenas cumpri ordens legais!
O Comandante Rafael Durão do Regimento dos Paraquedistas e S.Exa. o General Spínola.
Honre-se a Pátria de tal Gente! Mas tal madrasta Pátria meteu-O na prisão de Caxias, juntamente com todos os outros, conforme os planos, e por ali jazeram até se finalizarem as descolonizações pró URSS, não fossem eles perturbar o processo.
O 11Mar75 foi obra e sucesso total da URSS, do PCP e seus agentes em Portugal e nunca, mas nunca, dos ditos reacionários da lista e, muito menos, dos Paraquedistas.
Consumada a descolonização em favor total da URSS, sendo a última a de Angola a 11Nov75, começaram então a soltar “sorrateiramente” todos os prisioneiros do 11Mar74 ditos reacionários, um a um, pois já não constituíam obstáculo a nada.
Mandaram-nos embora assim, sem julgamento, sem explicações, sem compensações, depois de presos quase um ano, sem qualquer acusação formal, à boa laia feudal, anterior ao habeas corpus.
E digo “sorrateiramente”, porque havia sido prometido mil vezes ao Povo, um julgamento intransigente e exigente do 11Mar75.
Por exemplo, o Coronel paraquedista Rafael Durão, Comandante do Regimento de Paraquedistas de Tancos, meu Comandante em Angola, e que foi dos mais dignos, competentes, patrióticos e nobres militares de sempre em Portugal, foi atraiçoado e cobardemente preso nesta circunstância.
Prometeram-lhe julgamento, que nunca aconteceu; um ano depois foram-lhe dizer ao cárcere que podia sair em liberdade, disse que nunca o faria antes de ser julgado… permaneceu preso… pediram-lhe por favor para sair e não insistir no julgamento… recusou-se novamente e permaneceu preso… só depois, quando um seu amigo oficial paraquedista foi lá explicar que nunca haveria julgamento nenhum por razões políticas, só então, sem outra solução, aceitou sair.
Como é óbvio o julgamento de tal mentira não podia ser feito, e nunca o foi, não fosse saber-se esta verdade, aqui explanada.
O 11Mar75 foi usado para afastar quem poderia complicar ou atrasar a descolonização e para a acelerar e garantir que seria feita total e exclusivamente a favor da URSS, e ainda para acelerar a “comunização” do País, tendo-se nacionalizado de imediato e selvaticamente a Banca, as grandes empresas, feita a pseudo “reforma agrária”, etc… enfim, foi o destruir total da economia nacional.
Os objectivos pré planeados para o 11Mar75 foram totalmente atingidos. Foi de facto uma obra prima golpista da URSS/ PCP.
Foi isto o 11Mar75; o da versão oficial, é apenas uma “nuance política” fabricada à medida pelos vencedores, para a História politicamente correta em que habitamos, em enganos de alma ledos e cegos, como diria Camões.

José Luiz da Costa Sousa

Capitão Paraquedista à data do 11Mar75

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