sexta-feira, 15 de novembro de 2019

O colonialismo anti-colonialista português.


«Anticolonialismo! Não será anticolonialismo do mais puro o que está implícito em todo o comportamento do português em África, desde o aportar do primeiro barco até aos nossos dias de hoje?

Não explorámos, não dominámos, não negámos aos autóctones o direito à posse das suas terras nem ao uso dos seus costumes. Chegámos, convivemos e fizemo-nos também africanos, identificando os nossos sentimentos com os nativos a quem sempre nos igualámos em benefícios e obrigações.

Descolonização! Não foram os portugueses quem, mais cedo do que outrem, trouxeram a descolonização implícita no seu conceito de estar no Mundo?

E isto porque nunca se consideram como fazendo parte de uma maioria sociológica cristalizada e egoísta, sempre consentindo a maior mobilidade social e política aos autóctones, dentro do espaço pluricontinental da Comunidade Lusíada, a fim de que todas as diferenças e contradições se esbatessem e se conciliassem em vocações e interesses solidários.


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E nem sequer importa discutir o tempo e o substrato político da descolonização assim entendida e praticada.

Não podemos considerar, do ponto de vista humano, completamente descolonizadas Cabo Verde, a Índia e Timor?

Não demos a independência ao Brasil e o Estatuto de estado à Índia Portuguesa?

Tudo não é novidade nem pode ser combatido ou considerado aberrante.

Novidade - para aqueles que com cega teimosia não nos compreendem - poderá ser o facto de termos criado uma só nação que, representando a consciência de destinos afins a realizarem-se na História, nem mesmo implica uma fórmula político-administrativa estática e uniformizada.

Fizemos o que outros não foram capazes de fazer e, por isso, podemo-nos considerar, com orgulho, dos mais progressistas e aptos para - a partir daquela realidade imutável - aceitarmos o binómio «desafio-resposta» a que já fizemos referência.

Ao "desafio" da autodeterminação estamos a responder com a afirmação peremptória de uma unidade que de forma alguma é incompatível com a mais ampla autonomia institucional dos territórios e com o mais aberto participar dos representantes válidos das populações nos orgãos do governo de cada um e de todos.


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Ao "desafio" da desordem e do genocídio aí está a resposta dada pelos colonos e pelos autóctones nos primeiros dias do terrorismo desencadeado em Angola e que, por via disso e da actuação das nossas tropas, recuou em toda a linha.

Ao «desafio» da dialéctica anticolonialista e pan-africanista o nosso Presidente do Conselho e os seus mais directos colaboradores têm dado a resposta lúcida e adequada.

Mas o mais importante e o que avulta é o "desafio" do futuro: o "desafio" da evolução global e, por vezes, explosiva de todos e cada um dos territórios da Comunidade Portuguesa. Este exige "resposta" colectiva, expressa em capacidade de realizar, de imaginar e de predispor a alma para realçar, sempre e cada vez mais, a promoção, a justiça e o enquadramento de que o homem está ávido para se projectar integralmente e não se frustrar como indivíduo e como cidadão.

É com a consciência desse "desafio" que o técnico e o educador hão-de transpor as portas dos territórios que fazem constante apelo à sua presença.

O técnico para planificar e executar os programas de desenvolvimento económico - condição indispensável para o aproveitamento pleno dos recursos que o solo e o subsolo ainda escondem.

O educador para ministrar conhecimento e formar almas, radicando o portuguesismo nas crianças que passarem pelas suas mãos, ensinando-as a amar a Deus e ao próximo como a si mesmas - como Cristo amou os homens para salvar a Humanidade da corrupção. Este último será o atributo específico do missionário, ao qual o ultramar português já tanto deve.

Tarefa ingente e honrosa que os educadores devem realizar com dádiva total, com sacrifício se for necessário e com renúncia temporal, respondendo ao "desafio" com o vigor da sua vontade e da sua competência.

Mas, como Toynbee previne, "o crescimento surge com a resposta a um desafio, o que provoca novo e diferente desafio".

Pois saibamos, governantes, e governados, portugueses do Minho ou de Timor, dar, no porvir, com maior arrojo se for preciso, a "resposta" decorrente do "desafio" provocado pelo crescimento económico e social e pela maturidade política que hão-de resultar inevitavelmente do nosso esforço e trabalho presentes.

De dois perigos teremos de nos prevenir a tempo, com inteligência e com vigor: a formação de quadros que sejam desproporcionados à procura no mercado de trabalho, que, por seu turno, terá de ser consideravelmente aumentado pela criação de novas actividades produtivas e rentáveis; o excessivo regionalismo das elites, que deverão circular entre todas as parcelas da Comunidade Lusíada, em sistema rotativo de vasos comunicantes, a fim de se evitar uma contraproducente anquilose de mentalidade e de sentimentos».

Oliveira e Castro («A Nova África»)
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