"A verdade, a decisão, o empreendimento, saem do menor número; o assentimento, a aceitação, da maioria. É às minorias que pertencem a virtude, a audácia, a posse e a concepção." Charles Maurras
segunda-feira, 29 de junho de 2020
Já vem de longe!!!
Como podemos comprovar, a atitude passiva do povo português mantém-se inalterada há varias gerações, isto para não dizer, há que séculos!!!
Poderemos então dizer que o povo sempre teve esta atitude, tivemos sem duvida uma verdadeira elite que soube desempenhar o seu papel, que soube galvanizar esta nação em torno de um grande projecto, elite essa que entretanto se esfumou, tal como os cravos que candidamente haviam sido tomados como símbolo de primavera, quando de um lamentável episódio da nossa historia recente, pois esfumaram-se sobre um monte de esterco!!!
«Muito individualista, o português é cioso em reivindicar o direito a opiniões próprias, sem que se vergue à autoridade como imposição, especialmente de teóricos, em relação aos quais arranja sempre forma de se superiorizar. Ou deixa aos teorizadores uma autoridade meramente espacial, fora das órbitas do mundo. Nem segue politicamente os intelectuais. Cioso é também na reserva de um domínio irredutível onde seja senhor.
Vem a propósito a altivez dos transmontanos, expressa em "para cá do Marão, mandam os que cá estão", atitude que Miguel Torga como escritor e pessoa interpreta. Evoque-se a Lusitânia de Viriato num longo processo histórico, dos caudilhos da guerrilha aos caudilhos da política, legitimamente representada pela Beira. Já o individualismo atlântico-marítimo revela-se outro, menos aberto, mais dissimulado, feito de teimosia aquosa e corrosiva. Não se denuncia tão ostensivo em mostrar-se independente, basta-lhe sentir que o é na sua pequena esfera; se o molestam agrega-se, ganha presa como cimento debaixo de água. Sabe unir-se na revolta ou apaixonar-se por uma causa. O Porto, cujo habitante reflecte na alma o velho burgo soberbo das suas prerrogativas, depois "cidade invicta", é a cristalização burguesa e a cidadela reivindicativa do povo que fez e deu nome a Portugal. De granito sobre a sapata de granito, representa o povo sofredor e tenaz, estuante de força gregária, desde que determinantemente queira.
De modo geral custa ao português sacrificar o foro individual às exigências da colaboração, a não ser em parcela ínfima para ocasional defesa de vitais interesses comuns ou da sobrevivência ameaçada. Une-se com o entusiasmo e o perigo, para desagravo ou empreitada colectiva. E tende a retomar o desfrute ou abuso do que julga liberdades individuais, logo que tais determinativos enfraqueçam. Em circunstâncias normais e a frio, é pouco associativo. Custa-lhe trabalhar em conjunto ainda que bom profissional. Não se esqueça que dispõe de um infinitivo pessoal».
Francisco da Cunha Leão («Ensaio de Psicologia Portuguesa»).
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