segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

O Lado Oculto do 25 de Abril.



«Na manhã do dia 25 de Abril de 1974, quando as chaimites chegam ao Terreiro do Paço lideradas por Salgueiro Maia, deparam-se com navios de guerra no estuário do Tejo, sobre os quais se desconhecia a lealdade. Seriam fiéis ao regime marcelista? Ao movimento dos capitães? Ou a nenhum deles? Foi debaixo de tensão, depois de se aperceberem dos gigantes nas águas, que os "capitães de Abril" entraram pelo edifício pombalino para prender ministros fiéis ao regime - que conseguiram escapar por um esconderijo. Se os navios que estavam no Tejo (eram afinal contratorpedeiros e fragatas canadianas ao serviço da NATO) tivessem aberto fogo, tudo se poderia ter transformado numa carnificina e a revolução dos cravos teria sido, senão ineficaz, pelo menos mais sangrenta. Isto apesar de os capitães não estarem absolutamente desprotegidos, já que três batalhões de Vendas Novas ocuparam posições junto ao Cristo Rei, em Almada, com o objectivo de abater a tiro qualquer coluna que atravessasse a até aí designada Ponte Salazar ou qualquer navio que se revelasse hostil às forças revolucionárias. Mas o que tem, afinal, Bilderberg a ver com isto?

Três dias antes do 25 de Abril, já Bilderberg estava na posse de informações de que o movimento dos capitães ia tentar um golpe de Estado em Portugal. Decidiu nada fazer, embora tivesse poder para isso, via NATO. Esta informação é, inclusivamente, dada como válida pelo Centro de Documentação 25 de Abril, que integra este pormenor nos detalhes do dia da revolução.


Foi o jornalista Martinho Simões que, em 1978, no prefácio do livro A destruição da lealdade: um estudo da ameaça da propaganda de Anthony Burton, (Abril, 1978), abordou pela primeira vez o assunto. Escreveu Martinho Simões:

"Na reunião de 1974, realizada de 19 a 21 de Abril em Megève, participaram Nelson Rockefeller, governador do Estado de Nova Iorque; Frederick Det, secretário americano para o Comércio; general A. Goodpaster, comandante das Forças Aliadas na Europa; Denis Healey, ministro das Finanças inglês; Joseph Luns, secretário-geral da NATO; Richard Foren, presidente da General Electric para a Europa; Helmut Schmidt, na época ministro das Finanças alemão; Giovanni Agnelli, presidente da Fiat".

No fundo, o jornalista elenca algumas das pessoas mais relevantes à época, no mundo político e empresarial, que participaram no evento de 1974, onde não havia portugueses. Além dos referidos, ainda marcaram presença figuras como Gerhard Schröder, mais tarde chanceler alemão, ou o banqueiro e filho de Edmond Rothschild, Edmond Adolphe Rothschild.

Apesar de não haver qualquer presença lusa, alguns responsáveis norte-americanos (eram 22 neste encontro) e da NATO tinham várias informações que chegaram por via do embaixador norte-americano em Lisboa, Stuart Nash Scott. São raros os encontros de Bilderberg ao longo da sua história em que o secretário-geral da NATO não está presente. E 1974 não foi excepção. O holandês Joseph Luns - que havia assinado com o seu punho o Tratado de Roma em nome da Holanda, em 1957 - foi uma das figuras de maior destaque presentes na reunião. Enquanto diplomata, Luns estivera durante a II Guerra Mundial em... Portugal.

O jornalista Martinho Simões acredita que "a presença de Luns terá determinado o comportamento da NATO no desenrolar do golpe militar de Lisboa". E recorda como, três dias depois do encontro, a NATO foi conivente com o golpe:

"No dia 24 de Abril, diversas unidades da NATO chegaram ao porto de Lisboa. Elas deveriam tomar parte nas manobras aeronavais Dawn Patrol, programadas para o dia 26, no Mediterrâneo. Mas poucas horas antes de ser oficialmente anunciada a mudança do regime português, as manobras foram canceladas e os navios de guerra portugueses puderam regressar a Lisboa e anunciar a sua adesão ao MFA [Movimento das Forças Armadas]".


E continua:

"Não será demais pensar que a presença das unidades da NATO em Lisboa tinha como objectivo servir de elemento de dissuasão contra qualquer tentativa 'contrarrevolucionária' dos generais".


O Centro de Documentação 25 de Abril interpreta os acontecimentos dizendo que, no encontro de Bilderberg, realizado em Megève, França, "ter-se-á tomado conhecimento da iminência de alterações políticas em Portugal e decidido não contrariar a evolução dos acontecimentos, crendo que uma mudança política poderia conduzir ao liberalismo económico". O jornalista Martinho Simões conclui dizendo:

"Nas suas linhas gerais, portanto, o golpe de 25 de Abril é, por um lado, tecnicamente preparado por duas centenas de capitães; por outro lado, é aceite e facilitado pela conivência do capitalismo anónimo [ler: Bilderberg]".

O Clube viria, no entanto, a ficar desiludido com o rumo que os acontecimentos tomaram mais tarde:

"Em sua evolução posterior, foram os capitães 'vermelhos' e não os moderados que se apoderaram do poder, desse modo frustrando as expectativas do Clube de Bilderberg"».

Rui Pedro Antunes («Os Planos Bilderberg para Portugal»). 

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