quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Eça, sempre presente.

 


Lembrar o Eça neste dia em Lisboa ...
EM QUE O EÇA, SOB UM VIOLENTO DESARRANJO INTESTINAL, SE METE A ENALTECER D. JOÃO VI E A DEITAR AS CULPAS PARA A REVOLUÇÃO FRANCESA.
Meu querido Oliveira Martins
Estive ontem bastante incomodado; estou agora à espera do meu doutor; e não creio que possa ainda hoje fazer essa peregrinação de amizade a Santo Antero e ao bom Lobo.
Pois apetecia-me bem esse passeio.
Estou aborrecido com a persistência deste incómodo e indignado por ter descoberto que a sua causa está nestas comidas de Hotel feitas à francesa.
Sempre a França, e a reles tradução que dela fazemos!
Tudo isto se deve à revolução de 89; e eu agora sempre que me dirijo ao "water-closet", de calças na mão, vou rosnando as piores pragas contra os Enciclopedistas!
Quando voltará este desventuroso País à sua tradição que é O SENHOR D. JOÃO VI, o padre, o arrieiro, o belo caldo de galinha, o rico assado de espeto, e o patriótico arroz de forno!
Mas não! Querem ser liberais, filósofos, franceses, polidos, ligeiros...
Consequência: o País como tu sabes, e eu com soltura há oito dias. Irra!
Vê se me mandas outro Friedlaender ( que trate do luxo, e das belas-artes, etc.).
E se fores à Póvoa, dá um grande abraço a querido Antero e a velho amigo Lobo.
Teu do c. Queiroz...

Oito anos depois de alguém que não deixou saudade.

 



Manifesto do desagrado, ou melhor, o manifesto da revolta.
Meus caros amigos como hoje foi o dia em que foi anunciada a morte de um dos maiores facínoras que este país viu nascer e me revolta e me dá vómitos a forma como um crápula deste calibre é tratado pela pela classe política, pela comunicação social e pior que tudo, por grande parte daqueles que por ele foram de alguma forma roubados, espoliados ou prejudicados.
Sei que é politicamente incorrecto o regozijo com a morte de quem quer que seja, mas num caso destes creio ser desculpável, pois uma vil figura responsável pela miséria de alguns povos condenando-os à morte não merece um pingo de comiseração, basta ver a miséria promovida pela busca de benefícios e riqueza pessoal servindo-se de todos os meios inclusivamente promovendo genocídio contra vários povos, indesculpável, inumano e diabólico!!!
Sim diabólico, pois quem milita em seitas satânicas não pode ser gente de bem, quando os interesses dessas mesmas seitas se sobrepõem aos ideais humanos está tudo dito, será que este mundo está irremediavelmente perdido e todos teremos que prestar vassalagem a este domínio diabólico que dá pelo nome de maçonaria, uma instituição que minou todo o sistema na senda de nos tornar meros elementos produtivos, autenticas máquinas desprovidas de vida social, familiar, sentimentos, crenças religiosas, enfim sem sequer termos direito a uma capacidade que nos diferencia de todos os outros seres, a capacidade de raciocínio, seremos num futuro próximo apenas meros autómatos, meros carneiros à espera de sacrifício.
Uma bela sociedade sem sentimentos, sem ligações, sem relações verdadeiramente humanas, enfim uma sociedade sem valores e totalmente desumanizada, será isto que queremos para os nossos filhos e netos? Não creio que haja um só ser humano que tenha como objectivo ver os seus descendentes aferrolhados e acorrentados impedidos de pensar pelas suas próprias cabeças, em suma impedidos de serem felizes, impedidos de viver as suas vidas de forma verdadeira, uma vida que respeite a hierarquia natural, ou seja, onde há valores que passam de avós para os pais, dos pais para os filhos e por aí em diante.
Como será um futuro em que os pais sejam meros procriadores, meros pais biológicos, pais que não interferirão na educação dos seus próprios filhos deixando de parte a vida familiar promovendo assim uma sub-vida, uma vida de autómatos, uma vida em que todos serão formatados para executar uma determinada tarefa, nada mais, chamo a isto o sistematizar da raça humana, ou seja o tornar da raça humana apenas meros instrumentos de trabalho.
Sim é para uma situação dessas que nos encaminhamos se nada for feito de imediato, prepara-se um governo mundial, uma redução drástica da população mundial, segundo os entendidos está em curso uma campanha que pretende limitar a 500 milhões a população do planeta, como sabem somos neste momento 7 mil milhões de almas, o que estarão a preparar para essa diminuição a nível mundial, já pensaram nisso?, reparem no drama humano que se passa em África, um espectáculo deplorável de fome, doenças, e seres no limite da sobrevivência, vivendo não uma vida, mas vivendo uma morte vivos, será isto um mundo avançado, terá sido este o mundo pensado pelos nossos antepassados, não creio, nada disto tem nada a ver com os ideais de uma verdadeira sociedade onde o homem é na realidade o centro do universo, em que nos enriquece esta miserável forma de ser e estar, sinceramente em nada na minha opinião!
Meus amigos, não me considerando o apóstolo da desgraça, espero que não me chamem louco, ou alienado, nunca me senti tão atento, tão lúcido, tão activo intelectualmente, pensem bem no que pretendem, não olhem apenas para o dia de hoje, não olhem apenas para o vosso umbigo, pensem nas atrocidades que se cometeram e vão continuar a cometer em nome de uma sociedade avançada, será essa sociedade que pretendem?, para mim não, e penso que para vós também não, acordem, desliguem das drogas que vos alienam da vida verdadeira da vida humana, ajam como seres pensantes, não se deixem dominar, reajam, vão à luta!
Vamos à luta, juntem-se, unam esforços e lutem por uma sociedade verdadeira.
Alexandre Santos
8 de Janeiro de 2017

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Sobre o fenómeno da imigração, António Barreto

 



Ainda e sempre a imigração

 As migrações mudam os países e as sociedades. Muito ou pouco, depressa ou devagar. Mas sempre. Para melhor ou pior, depende. Mudam os que imigram, mudam os que emigram. Mudam os que recebem e acolhem. Mudam os que saem e chegam. Muito ou pouco, mas sempre.

 

Há migrações e mudanças que se fizeram em paz, com bons e maus resultados. Migrações e mudanças que se fizeram bruscamente, em guerra, com más e boas consequências. E mudanças que provocaram a vida de uns e a morte de outros. Mas todas as mudanças, todas as sociedades se fizeram com povos distintos, várias etnias e gente diversa. Não há sociedade uniforme e original. Todas as populações são fruto e resultado de misturas, conquistas, migrações, fugas, derrotas, massacres, glórias e vexames.

 

Na origem de Portugal, há uma dúzia ou mais de povos. A unidade nacional, a uniformidade de raça e de cultura, a singularidade de língua, a especificidade do povo e da etnia são meras construções históricas, umas pacificas, outras violentas e forçadas. Umas agressivas, outras defensivas. A expulsão de vários povos europeus da Península e o abandono de outros, a derrota ou a conversão dos Mouros, a expulsão ou a cristianização dos Judeus, são episódios bem conhecidos da história que muito contribuíram para a formação da nossa nacionalidade. Tal como a conquista e os descobrimentos. Foi assim que se fez a nação.

 

Nacionalismo é, em geral, hoje, sinónimo de opressão, racismo, domínio político e religioso, xenofobia e conservadorismo. Mesmo moderado, o nacionalismo não goza hoje dos favores das doutrinas. O universalismo e a globalização surgem como novas virtudes, enquanto internacionalismo e cosmopolitismo parecem ter êxito assegurado na crónica e na lenda.

 

É verdade que há qualquer coisa de tentador nas fábulas do internacionalismo. Somos todos iguais, não há melhores nem piores, não há amigos e inimigos, somos todos irmãos, filhos do mesmo deus, naturais da mesma terra, gente do mesmo sangue, raça do mesmo genoma… É tentadora a mitologia da igualdade absoluta e da livre circulação.

 

Certo é que, historicamente, a democracia e as liberdades tiveram uma geografia. A autenticidade cultural teve e tem um território. As fronteiras são tantas vezes agressivas, símbolos de perda de liberdade e resultado de opressões, mas também são defesas de povos e de nações, de culturas e de línguas, de património e de modos de ser e viver. As fronteiras portuguesas, das mais antigas da Europa, podem ser consideradas opressivas, limites à circulação e aos movimentos, mas também são e foram protecção dos portugueses diante de espanhóis e franceses, europeus em geral, norte-africanos e outros… O mesmo se poderá dizer de tantos países europeus e de tantas fronteiras.

 

O sonho europeu, o encanto federalista e a fantasia de uma Europa sem fronteiras nem Estados podem ter enorme capacidade de atracção. Mas não é seguro que sejam só um grande passo em frente pela liberdade e para a democracia. No essencial, a defesa de Portugal e dos portugueses são Portugal e os portugueses. Mesmo com a ajuda dos aliados. Mesmo com o apoio dos europeus. Mas é aqui que começa a liberdade. É aqui que mora a democracia. Um Português defende-se recorrendo ao Estado, às polícias, aos magistrados e à Justiça. Ao povo e aos seus iguais. Um português que queira ser representado, vota num português. Nem um francês representa um português, quanto mais um Croata. E não há português que represente um polaco ou um grego.

 

Há qualquer coisa de formidável e de encantador na ideia, na imagem e na sensação de ver e sentir nas ruas de Lisboa ou do Porto todos os cheiros deste mundo, todas as roupas imagináveis, todos os deuses, todas as cores, todas as línguas, todas as modas, todas as músicas e todos os costumes do mundo! Mas sabemos que os últimos recursos, as últimas defesas, as últimas protecções, os últimos reconhecimentos, as últimas identificações são com os portugueses, os nossos iguais, os que cá vivem, os que cá estão, nascidos cá ou não, mas vividos cá. Portugueses de origem ou de adopção, mas portugueses, com a sua cultura, a sua justiça e a sua democracia. Nascidos ou naturalizados portugueses com as suas crenças e sobretudo as suas leis.

 

Assistimos, durante décadas, ao repúdio crescente do nacionalismo, do patriotismo e do Estado nação. Este último recuou em todas as frentes, em todos os aspectos. Na economia e na cultura, na sociedade e na política. Pior ainda, os casos mais evidentes de manutenção do nacionalismo foram, em geral, os de ditaduras. Da China à Rússia, da Coreia a Cuba, passando por vários Estados africanos e asiáticos que inventaram histórias nacionais para justificar poder autoritário. Parecia que a liberdade e a democracia se alimentavam da globalização e nela criavam raízes. Até que se percebeu que a desnacionalização e a globalização tinham uma capacidade autoritária devastadora, eram capazes de destruir países e nações, mais ainda democracias e liberdades.

 

Em quase todos os países europeus ou ocidentais, tem-se verificado um aumento permanente do número de imigrantes assim como do contributo destes para o desenvolvimento económico e o progresso das sociedades. Mas também para o surgimento de problemas de integração, de convívio e coexistência entre comunidades, de pressão sobre o Estado social, de deslocação e acolhimento entre países e de percepção recíproca entre comunidades.

 

Não é possível, em democracia, controlar absolutamente os movimentos da população. Só as ditaduras o permitem. Mas prever, ordenar e estabelecer condições não só é possível, como parece cada vez mais necessário. Não o fazer, entregar-se a uma passividade complacente, na esperança de melhor explorar o trabalho alheio, é destruidor da democracia.

 

Não há solução fácil para os problemas de imigração e de acolhimento. Mas a passividade é a pior atitude. Deixar correr, não tentar controlar, não ordenar, não definir horizontes, não estipular condições e não fazer um colossal esforço de integração são erros crassos cujos preços a Europa começa a pagar. Ter medo da imigração é ter medo da liberdade. Deixar correr as migrações é destruir a liberdade. Qualquer povo tem o direito de definir, por vias e métodos legítimos, os povos que quer receber. Assim como as condições legais, sociais e culturais de integração. A começar pela língua, evidentemente. E sempre, mas sempre, no respeito pela lei do país.


António Barreto, in Público 22 de Dezembro de 2024

Eça, sempre presente.

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