Acentue-se que, antes de 1961, a imigração de portugueses da Métropole insuflara o incremento da agricultura, da indústria e do comércio. As zonas urbanas de Luanda e de outras cidades cresceram muito para além das previsões mais espectaculares. Sem exagero, um gigantismo quase assustado.
O terrorismo pouco fez paralisar - e menos ainda retroceder - essa febril actividade, de que nasceram as fábricas, aumentaram as áreas cultivadas, abriram lojas de perfeito cariz europeu. Dia a dia, mês a mês, a paz retomava os seus direitos. Voltou-se aos tempos antigos, de trabalho e lazer. Muitíssimo mais de trabalho, valha a verdade, pois cerca de setenta mil militares destacados para Angola implicavam esforços suplementares, que não eram regateados, ao invés, se aceitavam com alegria.
A celebrada frase de que se deveria erguer um "monumento ao terrorismo" teve o seu quê de realístico, face à atenção com que a Metrópole se viu obrigada a olhar o Ultramar. É justo, porém, reconhecer que, se o terrorismo, paradoxalmente, incrementou o progresso de Angola, também Portugal recolheu benefícios, porque, ao enviar tropas para África, houve que modificar e ampliar estruturas, que foram desde o vestuário, à alimentação e ao material de guerra.
Inevitavelmente, esquece-se o lado positivo do conflito, agora designado, em termos pejorativos, de "guerra colonial". Apontam-se-lhe atrasos na economia da Metrópole. Creio que, em termos de fria contabilidade, não se fizeram contas. Se assim tivesse acontecido, talvez o saldo fosse lucrativo para os portugueses da Europa.
De qualquer modo, a questão parece-me iníqua. Entre cidadãos da mesma Pátria que falavam uma só língua, que se abrigavam à sombra de uma única bandeira, que seguiam idênticos costumes, que respeitavam e se orgulhavam de tradições comuns, em suma, que formavam uma Nação, os prós e os contras não se podem computar nas colunas do "deve" e do "haver", como vulgar balanço comercial. O que estava em causa eram os sentimentos, era a integridade territorial do País.
Entretanto, doa a quem doer, a economia da colónia sustentou as necessidades da guerra e ainda sobraram divisas que aproveitaram à Metrópole.
Escuso-me a citar estatísticas, porque elas são como os fatos de banho: escondem o que mais interessa. E as estatísticas da Metrópole sempre pecaram por defeito. Nós, os angolanos, jamais compreendemos as motivações dos governantes para esconderem valores e números; até a densidade da etnia branca, fácil de balancear através dos elementos significativos fornecidos pelos centros urbanos.
Pompílio da Cruz («Angola: Os Vivos e os Mortos»).
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