quarta-feira, 16 de julho de 2025

Vendo a Democracia por um Canudo!!!

 


A democracia que o 25Abril74 nos deu e o ensaio sobre a lucidez feita por Saramago, deste nosso extraordinário povo de caçadores e ladrões, que não se governa e nem se deixa governar... tal como nos definiu um General Romano, há 2.500 anos atrás... por José Luiz da Costa e Sousa
O nosso Nobel da literatura, José Saramago, disse, clara e inequivocamente, com todo o peso da sua autoridade intelectual, em entrevistas e declarações, anos depois do 25Abr74, que Portugal não vivia em Democracia.
O seu último e polémico livro, “Ensaio sobre a lucidez”, foi um apelo ao Povo, para ser mais interveniente politicamente, deixando de ser conivente com o pântano político em que nos afundamos, e votar em branco, como sinal de rejeição e exigência da reforma dessa pseudo ou falsa democracia.
Os críticos de Saramago dirão que a sua ideia de democracia resultava da sua conhecida simpatia pelo marxismo, insinuando que ele defendia uma qualquer ditadura do proletariado, mas não é verdade.
Saramago, independentemente de ser ou não marxista, foi um Homem sério, que acreditaria numa Democracia séria.
Ser ou não marxista ou outro qualquer “ista”, social-democrata ou neo liberal, etc. não é defeito, é apenas uma opção intelectual e política.
Acreditar-se que é a estatização total da propriedade, ou pelo contrário, é a sua total privatização, ou qualquer outra solução intermédia, que vai gerar o máximo melhor estar e felicidade para o Povo, é crença política de cada um e como tal, respeite-se.
Conhecidas personalidades da nossa política actual “evoluíram” dum extremo ao outro do espectro político, conforme a idade, a popularidade dos vários “ismos” e o potencial de tachos dos mesmos; nessas, eu não acredito.
Saramago foi fiel a ideias em que sempre terá acreditado e como tal admire-se; não trocou convicções políticas por tachos.
A democracia é um sistema político compatível com a maioria das ideologias de referência e o seu bom ou mau funcionamento depende apenas dos Homens e não tanto das ideologias.
Se não funcionou bem nos sistemas marxistas ou noutros quaisquer, foi culpa dos políticos e não das ideias.
As ideias, por perfeitas que sejam, ao serem levadas à execução por homens que não o são, falham com certeza; há que conviver com esta realidade; o Homem tende a corromper sempre as ideias e os sistemas políticos, em proveito próprio e do seu grupo; acontece na nossa democracia, desde o 1º minuto até hoje mais de 51 anos depois.
Churchill dizia ser a democracia “o pior dos sistemas políticos existentes, excepto todos os já experimentados pelo Homem”, significando que não sendo perfeito, é o melhor que conhecemos.
A concepção de democracia reporta-se à antiguidade grega clássica, tendo sido ali experimentada sob diversos formatos, incluindo um curioso governo de filósofos, mas todos falharam; estamos, pois, perante uma velhinha de cerca de 25 séculos, ora “reinventada”.
Parece não haver alternativa à Democracia e esta, para produzir mais e melhor estar e felicidade para o Povo, depende mais da competência e honestidade dos seus eleitos, do que das ideologias que implementa, como foi dito.
Em termos práticos, que Democracia e Liberdade é que o 25Abril74 nos deu?
Na sua essência diz-se da democracia ser o “governo do povo, pelo povo e para o povo”, e esta assenta na liberdade política, na independência das instituições democráticas, na separação dos poderes executivo, legislativo e judicial, no primado da Lei e em eleições livres, devendo colocar, em absoluto, o interesse nacional acima dos interesses de grupos.
Formalmente temos uma democracia perfeita; a realidade, no entanto, perverteu tudo isto.
Os fundamentos básicos da democracia em Portugal foram corrompidos, no sentido de favorecer, quase unicamente, os interesses dos grupos económico-financeiros, políticos e corporativos dominantes, com prejuízo dos interesses nacionais e do povo em geral.
O povo tem de facto liberdade política, mas é condicionado na sua liberdade mental ou intelectual.
Os órgãos de comunicação social, e a propaganda política, às ordens do poder financeiro e político, aprisionam-lhe a mente, ocupando-a com o circo permanente do futebol, mexeriquices de toda a ordem, parvoeiras e politiquices menores; o pouco espaço mental restante do Zé Povo é-lhe ocupado com “engenharias de opinião pública”, que lhe determinam o que pensar e em quem votar.
O pensamento político dos portugueses é assim telecomandado por este processo, seja, não há democracia nenhuma.
As nossas instituições democráticas não funcionam com independência, e são claramente manipuladas e pressionadas pelos diversos governos/ poderes políticos partidários.
Os poderes executivo, legislativo e judicial vivem em promiscuidade e os interesses dos grupos financeiros, corporativos e políticos dominantes, sobrepõem-se sempre aos interesses gerais do País, do povo em particular; vivemos em “ditadura democrática” dessas oligarquias.
Exemplos: - porque é que a quase totalidade dos oceanos de processos de corrupção, envolvendo pessoas gradas da política e do poder económico-financeiro, prescreveram ou foram arquivados, ou estão em vias disso?
Alguém acredita não ter havido pressão política sobre o poder judicial para tal acontecer?
Há inúmeros magistrados, que fazendo falta nos tribunais, desempenham relevantes funções de nomeação política, porquê os magistrados e não outros?!
Em face disto, onde está a independência do poder judicial face ao executivo?
Os Governos garantem a aprovação sistemática das suas propostas de lei, obrigando os seus grupos parlamentares (poder legislativo) a uma intransigente disciplina de voto no poder executivo.
As comissões parlamentares de inquérito ao que quer que seja, produzem sempre conclusões em defesa do poder político e dos grupos que o subordinam; é isto independência do poder legislativo e executivo? Claro que não, etc.
Sempre que um novo governo inicia funções, substitui de imediato milhares de dirigentes/ funcionários do aparelho do estado /administração pública por outros da sua cor política; é isto democracia? Claro que não.
Que democracia é esta que trata cidadãos em circunstância similares de forma totalmente diferente?
Porque é que os políticos, os diplomatas e outros grupos corporativos têm privilégios remuneratórios e estatutários imorais, que nenhuns outros cidadãos têm, por exemplo, as reformas?
É isto ou não sobrepor interesses de grupos ao interesse geral e descriminar cidadãos, seja o povo?
É isto a democracia? Claro que não.
Porque que é que certos grupos financeiros beneficiam claramente de legislações, subsídios, perdões fiscais, incentivos, privatizações, etc. a que outros não têm acesso? Não é isto sobrepor os interesses dos grupos financeiros ao interesse nacional?
É isto democracia? Claro que não.
Nas democracias ditas ocidentais, há muito que o primeiro poder é o económico-financeiro, sendo este por sua vez dono do segundo maior poder, a comunicação social; o poder político é hoje e apenas o terceiro poder, comprado ou manietado pelos dois primeiros
Os políticos são, pois, meros e fiéis servidores do poder financeiro.
Os detentores lusos do poder económico-financeiro tudo corrompem em defesa dos seus próprios interesses; os políticos, para ganharem eleições, necessitam do seu dinheiro para as campanhas eleitorais, e precisam dos seus órgãos de comunicação social para se auto propagandearem; chegados ao poder, têm de pagar os favores recebidos, legislando, subsidiando, privilegiando e privatizando em favor de tais senhores, os quais também os empregam mais tarde, quando estes deixam de ser poder.
Esta é a nossa realidade, basta ver onde é que estão empregados os ex governantes que, ou estão ainda na gamela da política, ou “atachados” no “patrão”, que bem serviram enquanto poder; é isto Democracia?
Por tudo isto, perdi o respeito pelos políticos e pela “nossa” democracia.
Esta “nossa” democracia não produz “Governos do Povo, pelo Povo e para o Povo”, mas sim “Governos do Poder Financeiro, dos Grupos corporativos e das Famílias políticas, por Eles e para Eles”.
O Povo é o “corno” desta história, continua a sustentar e a amar a sua bela mulher, a Democracia, pensando que esta o respeita e defende, o que nunca foi verdade; como é da tradição, será sempre o último a descobrir.
José Luiz da Costa e Sousa

Sem comentários:

Enviar um comentário

Vendo a Democracia por um Canudo!!!

  A democracia que o 25Abril74 nos deu e o ensaio sobre a lucidez feita por Saramago, deste nosso extraordinário povo de caçadores e ladrões...