terça-feira, 13 de abril de 2021

Os dias do fim.

 


Os coitadinhos dos meninos da cidade...subscrevo na íntegra todas estas palavras que sugiro que leiam e façam um exame de consciência.

"Coitados, já viste como estão os nossos filhos, lá para a cidade?
Desesperados porque estão fechados em casa e se sentem abandonados pelo resto do mundo... mesmo com TV com mil canais e com tanta coisa para ver...
mesmo com aquela coisa das redes sociais (que era tão maravilhosa que nem à mesa falavam com ninguém)...
mesmo com vídeo-chamadas que dá para verem toda a gente, a toda a hora, e falarem, conversarem, trocarem ideias, trocarem palavras de afecto...
mesmo fazendo as compras na internet para lhas levarem a casa!
Vê lá tu que nem o cu têm que tirar do sofá...
mesmo com micro-ondas para aquecer a comida pré-congelada em dois minutos...
mesmo com coisas enlatadas que dão para meses sem passar fome...
mesmo com tanto para fazer, estão desesperados porque estão isolados!
Coitadinhos dos nossos filhos que nasceram nesta sociedade louca dos viciados em tudo o que não dá nada.
Viciados pela ilusão de que ao andarem de um lado para o outro, feitos baratas tontas, estão a produzir algo de bom, mas na verdade nada mais têm feito do que viver tipo baratas tontas, que nada produzem, tudo sujam e tudo julgam que estão a fazer.
A nós, que nos abandonaram e deixaram verdadeiramente isolados, sem centros de saúde, sem escolas com crianças, sem transportes públicos, sem farmácias, sem creches e sem qualquer apoio, de tal forma desprezados que até as juntas de freguesia nos tiraram.
Deixaram-nos aqui, sozinhos, e jamais nos ouviram suspirar ou lamentar sequer!
O nosso silêncio é o melhor amigo desta sociedade louca, que nem sequer nos quer ver, ouvir ou sentir.
Que lhes importa se nos sentimos mal durante a noite e não temos a quem nos socorrer?
Que lhes importa se temos uma qualquer dor e não temos dinheiro para o táxi e ir ao hospital mais próximo que fica a mais de 70 kms?
Que lhes interessa se temos depressão, tensão ou cancro?
Hoje, vivem de tal forma iludidos que precisam de psicólogos porque vivem deprimidos, no meio de tanto luxo, riqueza e podridão, que precisam de apoio psicológico para sobreviver.
A nós, nem se preocupam se temos um pedaço de pão para comer.
Estão revoltados porque têm que estar com dois filhos em casa fechados, imagina!
Nós, que criamos 9, e estão todos crescidos e a trabalhar arduamente, numa pequena casa, sem televisão, sem subsídios, sem internet, tablets e essas porcarias, sem brinquedos de todas as cores, sem fraldas descartáveis nem toalhitas, sem micro-ondas, sem fogão e sem ilusão, nós que preparávamos todas as refeições ao lume, nos potes de ferro, com a família toda amontoada na nossa pequena casa, a conversar em todas as refeições, nunca tivemos pipocas, lamentos ou mesmo depressões.
Parece que hoje existe uma Pipoca Mais Doce que até se acha uma referência mundial, e que segundo a nossa filha mais nova, essa pipoca é um ídolo pois é um exemplo de como gostaria de viver.
No outro dia mostrou-me umas coisas dessa tal pipoca, e digo-te Maria, tão mau que nem merecia piroca!
Olha, vive do nada, reclama por tudo, cheia de tiques e manias, com a cara cheia de merda de galinha (a nossa filha diz que ganha montes de dinheiro com as marcas que a apoiam), e tem milhões de fãs, e com palavras tão ocas que me faz lembrar aquela galinha vaidosa que nunca punha ovos mas picava tudo à sua volta.
Uma podridão de sociedade que idolatra estas tias azeiteiras e que depois desespera porque acha que estar em casa em família, meia dúzia de dias, é de subir paredes e ficar com depressão.
O que faria esta gente se tivesse que passar por uma grande guerra, por uma guerra no ultramar, por uma ditadura, por períodos de escassez total de tudo, por ter que cultivar os terrenos para comer legumes, por ter que tratar dos animais para ter carne para alimentar os filhos, para ter que abrir e tratar do poço para ter água para beber, para cozinhar e para regar, por ter que juntar lenha durante todo o verão para ter com que aquecer a casa no inverno e com que fazer fogueira para poder cozinhar todo o ano, por ter que passar décadas sem médico, sem dentista, sem ortopodista, sem ginecologista, sem oncologista, sem psicanalista, sem otorrinolaringologista, sem esteticista e sem estiquelapiça, para tudo e algo mais!
Gostava mesmo de ver esta sociedade medíocre, que tanto defende a natureza, fazerem algo válido pelo planeta, a começar por tratar dos campos, por cultivar os campos que são dádiva da natureza,por trocarem produtos produzidos no outro lado do planeta, muitos por crianças de tenra idade, escravizadas, por produtos endógenos produzidos por nós, por trocarem cidades de milhões inflamados por territórios de corações libertados, por olhar para o outro e não desviar o olhar, por começar pela família, que tantas vezes desprezam, e não ligarem apenas no dia de Natal, com aquela voz de gente sofisticada, a dizer que nos amam muito e têm saudades nossas.
Saudades?
Essa palavra que agora virou moda.
O nosso do meio diz que este isolamento o faz ter saudades de tudo, principalmente daquelas conversas com os amigos?
Ora foda-se! Então eles quando estão à mesa nem com os filhos falam quanto mais com os amigos!? Estão sempre com aquela merda do telemóvel na mão! E agora têm saudades de cafés, almoços e jantares.
Olha, a nós, esta terrível tragédia, nem nos aquece nem arrefece, a não ser vermos aquela gente toda a morrer através das televisões.
Nós cá continuamos, cada vez mais isolados mas igual ao que sempre fomos, sem manias nem putarias, a viver de cabeça levantada e honrada.
Sabemos que falta pouco para partirmos e talvez seja isso mesmo que quem criou esta maldita pandemia veio à procura, de gente como nós, para nos levar daqui para fora para que o pouco dinheiro das nossas reformas e o apoio que nos vão dando para a nossa saúde e medicamentos, seja poupado e utilizado nessas modernices da cidade.
O que vão poupar connosco dará para mais bancos, mais pontes, mais aeroportos, mais drogas, mais abortos, mais prisões de luxo, mais deputados, mais ministros, mais secretários de estado, mais diretores gerais, mais inspectores, mais institutos, mais presidentes, mais vereadores e mais assessores, só não dá mesmo é para mais ventiladores."

Texto da autoria de Manuel Muralhas.

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