quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Democracia, a ditadura das multidões.

 

«O homem é naturalmente resignado. O homem moderno mais do que os outros, em consequência da extrema solidão que o mergulha uma sociedade que praticamente já não conhece entre as pessoas outras relações que não sejam as do dinheiro. Mas mal andaríamos se acreditássemos que essa resignação faz dele um animal inofensivo. Ela concentra no homem venenos que, chegando o momento, o tornam disponível para toda a espécie de violência. O povo das democracias não passa de uma multidão, uma multidão mantida na expectativa pelo Orador Invisível, pelas vozes vindas de todos os cantos da terra, pelas vozes que a agarram pelas entranhas, que exercem tanto mais poder sobre os seus nervos quanto mais se dedicam a falar a própria língua dos seus desejos, dos seus ódios, dos seus terrores. É verdade que às democracias parlamentares, mais excitadas, falta temperamento. As ditatoriais, essas, têm fogo no ventre. As democracias imperiais são democracias com cio.»

Georges Bernanos
in "Os grandes cemitérios sob a Lua", Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1988

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