
"A verdade, a decisão, o empreendimento, saem do menor número; o assentimento, a aceitação, da maioria. É às minorias que pertencem a virtude, a audácia, a posse e a concepção." Charles Maurras
As migrações mudam os países e as sociedades. Muito ou pouco, depressa ou devagar. Mas sempre. Para melhor ou pior, depende. Mudam os que imigram, mudam os que emigram. Mudam os que recebem e acolhem. Mudam os que saem e chegam. Muito ou pouco, mas sempre.
Há migrações e mudanças que se fizeram em paz, com bons e maus resultados. Migrações e mudanças que se fizeram bruscamente, em guerra, com más e boas consequências. E mudanças que provocaram a vida de uns e a morte de outros. Mas todas as mudanças, todas as sociedades se fizeram com povos distintos, várias etnias e gente diversa. Não há sociedade uniforme e original. Todas as populações são fruto e resultado de misturas, conquistas, migrações, fugas, derrotas, massacres, glórias e vexames.
Na origem de Portugal, há uma dúzia ou mais de povos. A unidade nacional, a uniformidade de raça e de cultura, a singularidade de língua, a especificidade do povo e da etnia são meras construções históricas, umas pacificas, outras violentas e forçadas. Umas agressivas, outras defensivas. A expulsão de vários povos europeus da Península e o abandono de outros, a derrota ou a conversão dos Mouros, a expulsão ou a cristianização dos Judeus, são episódios bem conhecidos da história que muito contribuíram para a formação da nossa nacionalidade. Tal como a conquista e os descobrimentos. Foi assim que se fez a nação.
Nacionalismo é, em geral, hoje, sinónimo de opressão, racismo, domínio político e religioso, xenofobia e conservadorismo. Mesmo moderado, o nacionalismo não goza hoje dos favores das doutrinas. O universalismo e a globalização surgem como novas virtudes, enquanto internacionalismo e cosmopolitismo parecem ter êxito assegurado na crónica e na lenda.
É verdade que há qualquer coisa de tentador nas fábulas do internacionalismo. Somos todos iguais, não há melhores nem piores, não há amigos e inimigos, somos todos irmãos, filhos do mesmo deus, naturais da mesma terra, gente do mesmo sangue, raça do mesmo genoma… É tentadora a mitologia da igualdade absoluta e da livre circulação.
Certo é que, historicamente, a democracia e as liberdades tiveram uma geografia. A autenticidade cultural teve e tem um território. As fronteiras são tantas vezes agressivas, símbolos de perda de liberdade e resultado de opressões, mas também são defesas de povos e de nações, de culturas e de línguas, de património e de modos de ser e viver. As fronteiras portuguesas, das mais antigas da Europa, podem ser consideradas opressivas, limites à circulação e aos movimentos, mas também são e foram protecção dos portugueses diante de espanhóis e franceses, europeus em geral, norte-africanos e outros… O mesmo se poderá dizer de tantos países europeus e de tantas fronteiras.
O sonho europeu, o encanto federalista e a fantasia de uma Europa sem fronteiras nem Estados podem ter enorme capacidade de atracção. Mas não é seguro que sejam só um grande passo em frente pela liberdade e para a democracia. No essencial, a defesa de Portugal e dos portugueses são Portugal e os portugueses. Mesmo com a ajuda dos aliados. Mesmo com o apoio dos europeus. Mas é aqui que começa a liberdade. É aqui que mora a democracia. Um Português defende-se recorrendo ao Estado, às polícias, aos magistrados e à Justiça. Ao povo e aos seus iguais. Um português que queira ser representado, vota num português. Nem um francês representa um português, quanto mais um Croata. E não há português que represente um polaco ou um grego.
Há qualquer coisa de formidável e de encantador na ideia, na imagem e na sensação de ver e sentir nas ruas de Lisboa ou do Porto todos os cheiros deste mundo, todas as roupas imagináveis, todos os deuses, todas as cores, todas as línguas, todas as modas, todas as músicas e todos os costumes do mundo! Mas sabemos que os últimos recursos, as últimas defesas, as últimas protecções, os últimos reconhecimentos, as últimas identificações são com os portugueses, os nossos iguais, os que cá vivem, os que cá estão, nascidos cá ou não, mas vividos cá. Portugueses de origem ou de adopção, mas portugueses, com a sua cultura, a sua justiça e a sua democracia. Nascidos ou naturalizados portugueses com as suas crenças e sobretudo as suas leis.
Assistimos, durante décadas, ao repúdio crescente do nacionalismo, do patriotismo e do Estado nação. Este último recuou em todas as frentes, em todos os aspectos. Na economia e na cultura, na sociedade e na política. Pior ainda, os casos mais evidentes de manutenção do nacionalismo foram, em geral, os de ditaduras. Da China à Rússia, da Coreia a Cuba, passando por vários Estados africanos e asiáticos que inventaram histórias nacionais para justificar poder autoritário. Parecia que a liberdade e a democracia se alimentavam da globalização e nela criavam raízes. Até que se percebeu que a desnacionalização e a globalização tinham uma capacidade autoritária devastadora, eram capazes de destruir países e nações, mais ainda democracias e liberdades.
Em quase todos os países europeus ou ocidentais, tem-se verificado um aumento permanente do número de imigrantes assim como do contributo destes para o desenvolvimento económico e o progresso das sociedades. Mas também para o surgimento de problemas de integração, de convívio e coexistência entre comunidades, de pressão sobre o Estado social, de deslocação e acolhimento entre países e de percepção recíproca entre comunidades.
Não é possível, em democracia, controlar absolutamente os movimentos da população. Só as ditaduras o permitem. Mas prever, ordenar e estabelecer condições não só é possível, como parece cada vez mais necessário. Não o fazer, entregar-se a uma passividade complacente, na esperança de melhor explorar o trabalho alheio, é destruidor da democracia.
Não há solução fácil para os problemas de imigração e de acolhimento. Mas a passividade é a pior atitude. Deixar correr, não tentar controlar, não ordenar, não definir horizontes, não estipular condições e não fazer um colossal esforço de integração são erros crassos cujos preços a Europa começa a pagar. Ter medo da imigração é ter medo da liberdade. Deixar correr as migrações é destruir a liberdade. Qualquer povo tem o direito de definir, por vias e métodos legítimos, os povos que quer receber. Assim como as condições legais, sociais e culturais de integração. A começar pela língua, evidentemente. E sempre, mas sempre, no respeito pela lei do país.
António Barreto, in Público 22 de Dezembro de 2024
"Para serem legítimas as bases da Democracia, seria indispensável que existissem a Igualdade, a Liberdade, a Fraternidade, cuja célebre trilogia a Revolução Francesa escolheu para lema.
São os homens iguais? Ninguém ousará afirmá-lo. Uns, são mais fortes, mais trabalhadores, mais económicos, mais inteligentes que outros. Decretar a igualdade absoluta, é esquecer uma inflexível lei natural — que justifica as aspirações de todos os que se querem distinguir, conquistar um nome, uma fortuna, uma posição de comando.
Liberdade absoluta — não há, também, entre os homens. Presos às cadeias familiares, às dependências sociais, às regras morais que adoptaram, às carreiras que escolheram — os homens não são nunca inteiramente livres, nem podem sê-lo.
Quanto à Fraternidade, olhe-se a História, desde o início do mundo; descobre-se uma sucessão de lutas, de crimes, de conflitos... A Fraternidade é uma bela aspiração. Nada mais.
Logo, a Democracia, supondo a Igualdade, a Liberdade, a Fraternidade — é uma quimera."
João Ameal
in «Integralismo Lusitano — Estudos Portugueses», 1932.
"Na política interna, a Democracia conduz à fraqueza. Dispersando a Autoridade, destrói-a. Dividindo ao máximo as responsabilidade, suprime-as na prática. Por isso, no momento do perigo, a Autoridade irresponsável da Democracia, sem força nem coerência, é incapaz de se opor à desordem.
Na política externa, a Democracia não se opõe também aos ataques ou ciladas do estrangeiro. Primeiro, porque a sua mitologia da Fraternidade a impede de acudir à defesa militar. Segundo, porque a tendência dos partidos de oposição e a missão dos agentes das sociedades secretas internacionais, são de favorecer às ocultas e até elogiar em público a intervenção estrangeira.
Temos a clara exemplificação destes pontos de vista:
— Quanto à política interna, na Democracia espanhola de 1931, em que os governos se viam reduzidos a assistir passivamente às greves, aos incêndios, aos massacres, às agitações de uma guerra civil cada vez mais feroz;
— Quanto à política externa, na atitude da Democracia francesa durante a Grande Guerra, entregando-se à Ditadura civil de Clémenceau, e às sucessivas ditaduras militares de Joffre, de Gallieni, de Foch — para resistir e vencer.
Logo, a Democracia, negação da Autoridade e da Responsabilidade — é incapaz de ser forte."
João Ameal
in «Integralismo Lusitano — Estudos Portugueses», 1932.
O regime comuno-socialista em que hoje vivemos não se fez a ele mesmo, foi feito com a conivência e cumplicidade de uma miríade de imbecis e ignorantes que acreditaram que a liberdade e a democracia se conquistam de um dia para o outro!!!
Liberdade conquistou-se durante séculos em que os nossos antepassados derramaram o seu sangue, suor e lágrimas, mas infelizmente todas as conquistas de séculos, tais como os cravos de Abril em que candidamente muitos tomaram por símbolo de Primavera, também essas conquistas se fanaram sobre o monte de esterco a que chamaram de regime democrático!!!
Agora só nos resta, ou voltar a conquistar aquilo que anteriormente houvéramos conquistado, ou então resignar-nos à actual condição de escravos deste regime corrupto e contranatura ou sistema comuno-socialista.
Na minha modesta opinião, cada povo tem aquilo que merece, estamos a pagar pela avareza, apatia, conformismo ou mesmo pelo ideal de uma vida fácil oferecido e propagandeado pelos vendedores da banha da cobra abrileiros a quem os grandes interesses internacionais pagaram para desempenhar o papel de carrascos da Nação Portuguesa! E se desempenharam o seu papel, foram mesmo merecedores do Óscar de melhor actor, mas em contrapartida, deveríamos nós, os portugueses levar umas valentes chibatadas nos costados pela nossa falta de atenção e até pela conivência, com o verdadeiro suicídio que cometemos enquanto Nação outrora soberana.
Um povo que se envergonha do seu passado, um povo que não luta pelos seus valores e interesses não tem futuro, aliás, merece o futuro que os donos lhe impuserem!!!
Morremos como Nação quando deixámos de ser um povo unido, perdemos o rumo, pois nunca fomos muitos, mas quando fomos todos a lutar pelos nossos ideais, fomos sempre os bastantes, esse é o Princípio da União, foi sobre esse pressuposto que se ergueu Portugal.
Creio estar na hora de uma grande reflexão, está na hora de dizer não ao sistema, está na hora de entenderem que não é com fracturas e clivagens que algo vai mudar, está na hora de dizer não a esta farsa a que chamam de regime democrático, está na hora de voltarmos a falar a uma só voz, a termos uma só vontade e a reconquistar aquilo que é nosso por direito, é hora de repensar, é hora de unir esforços, é hora de dizer basta a este regime, a esta ditadura, a esta farsa.
Basta de socialismo, basta de sermos espoliados, basta de sermos escravizados e espezinhados pelo sistema, basta de palhaçada democrática. Lembrem-se, todo o regime é socialista, os partidos políticos fazem todos parte desse sistema, todos os partidos políticos são empresas, todos são manipulados por interesses obscuros hostis ao povo português, banca e organizações internacionais. Servindo só e apenas para engordar uma miríade de corruptos, empresários sem escrúpulos, lojas maçónicas e outras organizações criminosas!!!
Alexandre Sarmento
“Agora só falta dinheiro e um candidato que possa ser treinado para assumir um ar «sincero». Deste novo ponto de vista, os princípios políticos e os planos para uma acção específica acabaram por perder a maior parte da sua importância. A personalidade do candidato e o modo por que ele é lançado pelos peritos de publicidade são as coisas que realmente contam.
De qualquer maneira, sob o aspecto de um homem viril ou de um pai amável, o candidato deve ser fascinante. Deve ser também um bom conversador que nunca aborrece a assistência. Habituada à televisão e ao rádio, esta assistência está acostumada a ser distraída e não gosta que lhe peçam que se concentre ou faça um esforço intelectual prolongado. Todos os discursos feitos pelo conversador-candidato devem, portanto, ser curtos e incisivos. As grandes questões do momento devem ser tratadas, no máximo, em cinco minutos — e de preferência (dado que a assistência estará impaciente por passar a qualquer coisa de mais atraente do que a inflacção ou a bomba H) em sessenta segundos. Devido à natureza da oratória, houve sempre entre os políticos e os eclesiásticos a tendência a simplificarem extremamente as questões complexas. De um púlpito ou de uma tribuna, até os oradores mais conscienciosos acham muito difícil dizer toda a verdade. Com os métodos usados agora, para mercadejar o candidato político como se ele fosse um desodorizante, coloca-se positivamente o eleitorado ao abrigo de ouvir toda a verdade sobre o quer que seja.”
Aldous Huxley
in "Regresso ao Admirável Mundo Novo", Edição «Livros do Brasil», Lisboa.
"O ódio, o sentimento mais rácico e autêntico entre todos, no predador, implica respeito pelo adversário. É inerente ao ódio o reconhecimento da igualdade, no plano anímico, entre opositores. Quanto aos seres inferiores, por esses apenas se sente desprezo. E esses seres desprezados tornam-se em Invejosos. Em todos os contos populares primitivos, em todos os mitos deístas, em todas as lendas heróicas, surgem tais temas. A águia apenas odeia os seus semelhantes, não inveja ninguém. Despreza, porém, muitos seres, talvez até todos os que lhe não são iguais. O desdém lança sempre o seu olhar de cima para baixo. A inveja, essa, dirige o seu olhar para cima. São estes os dois sentimentos historicamente universais da humanidade organizada em classes e estados. E os seus membros pacíficos, na sua raiva impotente, esbracejam entre as grades da jaula onde todos, conjuntamente, estão encerrados. Nada os pode livrar deste cativeiro e suas consequências. Sempre assim tem sido, sempre assim será... ou então, tudo deixará de existir. Ter em conta esta situação ou, pelo contrário, ignorá-la, são posições altamente diferenciadas. Mas querer modificá-la, é impossível. O destino do homem segue o seu curso e tem de cumprir-se."
Oswald Spengler
in "O Homem e a Técnica", Guimarães & C.ª Editores.
"É verdade que os conceitos de direita e esquerda nas mentalidades estão hoje ofuscados.
Mas, se se ofuscam, isto acontece precisamente porque os grandes partidos que lhes envergam as cores têm tomado progressivamente consciência da inconsistência daquilo que os separa.
Actualmente não há nada de substancial que diferencie os seus valores. As suas escolhas aproximam-se, os seus programas movem-se em direcção ao centro e a opinião prevalecente é que dizem todos mais ou menos a mesma coisa.
Ainda ontem pensavam pertencer a famílias diferentes. Hoje percebem que apenas foram inimigos irmãos, que podem ainda polemizar sobre este ou aquele ponto mas fazem espontaneamente — com toda a naturalidade, sentir-se-ia dizer — frente comum para demonizar e rejeitar para o tenebroso extremo qualquer direita que seja uma direita verdadeira, com referências próprias, os seus autores, a sua antropologia, a sua própria sociologia, a sua própria visão do mundo, do homem e da sociedade."
Alain de Benoist
"Os homens sem importância, tal como os homens excepcionais, também sofrem grandes derrotas. E depois de uma derrota, o exílio parece uma espécie de solução. Pode ser o exílio que resulta da expulsão, do ostracismo, ou o exílio enquanto fuga, isolamento. É o caminho da ilha e o caminho da floresta. Já escrevi sobre a ilha. Falemos agora da floresta.
Em 1951, o escritor alemão Ernst Jünger publicou um dos seus textos mais importantes: “Der Waldgang”, que na tradução portuguesa [de Maria Filomena Molder, Cotovia] se chama “O Passo da Floresta”, e que noutras línguas tem títulos como “o recurso às florestas” ou “a retirada para a floresta”. É um ensaio poderoso, escrito num estilo hermético e vago, não uma divagação, diz Jünger, mas um “um excurso grave”. O tema é a catástrofe e a resposta à catástrofe. A proposta é a figura do “desterrado” como uma figura da resistência.
O texto tem um contexto histórico (o pós-guerra) e um contexto político (a derrota alemã) precisos, e faz bastantes considerações ideológicas que não acompanho. Mas o tom deliberadamente abstracto permite que tomemos “O Passo da Floresta” como um manual de resistência, ainda que não com a intencionalidade específica com que foi escrito. Não é por acaso que a tradução francesa tem como título alternativo “Tratado do Rebelde”. O texto vale para outras circunstâncias que não a alemã de 1951 porque a rebeldia não depende de um momento nem de uma situação.
O desterrado é uma figura por excelência do mundo contemporâneo, o homem que sobreviveu à catástrofe e se refugiou na floresta. Não procura um idílio contemplativo, meramente espiritual, mas um caminho, ou seja, uma escolha vital. “O lugar da liberdade”, escreve Jünger, “é completamente diferente da mera oposição, diferente também daquele que a fuga lhe pode oferecer. Chamamos-lhe a floresta. Nesse lugar há recursos diferentes.”
A floresta tem conotações mitológicas em todas as religiões, e remete também para exemplos concretos de guarida de rebeldes, mas aqui não é questão de uma floresta propriamente dita: a floresta está em todo o lado, inclusive no meio de uma grande cidade. Não é um local mas um espaço mental. Um espaço que se opõe à ideia de ‘barco’ ou de ‘navegação’. Os vencedores querem levar os vencidos para alto mar, em direcção ao esquecimento ou ao naufrágio. Mas cabe ao indivíduo recusar essa servidão. E recusar também o quietismo niilista que é a única alternativa que lhe oferecem.
O desterrado escapa ao desterro no sentido jurídico, não é um proscrito mas um homem que voluntariamente toma o destino nas suas mãos. Um homem derrotado, acossado, humilhado, mas que recusa o medo e o fatalismo e se compromete com a sua liberdade, visto que “uma história autêntica só pode ser feita por homens livres”. O desterrado foge à prisão, mas também foge ao seu tempo. Decide não ser desconfiado, intriguista, filisteu, interesseiro, manobrável, faz uma escolha existencial da qual não há regresso.
Foi o jornalista Martinho Simões que, em 1978, no prefácio do livro A destruição da lealdade: um estudo da ameaça da propaganda de Anthony Burton, (Abril, 1978), abordou pela primeira vez o assunto. Escreveu Martinho Simões:
"Na reunião de 1974, realizada de 19 a 21 de Abril em Megève, participaram Nelson Rockefeller, governador do Estado de Nova Iorque; Frederick Det, secretário americano para o Comércio; general A. Goodpaster, comandante das Forças Aliadas na Europa; Denis Healey, ministro das Finanças inglês; Joseph Luns, secretário-geral da NATO; Richard Foren, presidente da General Electric para a Europa; Helmut Schmidt, na época ministro das Finanças alemão; Giovanni Agnelli, presidente da Fiat".
No fundo, o jornalista elenca algumas das pessoas mais relevantes à época, no mundo político e empresarial, que participaram no evento de 1974, onde não havia portugueses. Além dos referidos, ainda marcaram presença figuras como Gerhard Schröder, mais tarde chanceler alemão, ou o banqueiro e filho de Edmond Rothschild, Edmond Adolphe Rothschild.
Apesar de não haver qualquer presença lusa, alguns responsáveis norte-americanos (eram 22 neste encontro) e da NATO tinham várias informações que chegaram por via do embaixador norte-americano em Lisboa, Stuart Nash Scott. São raros os encontros de Bilderberg ao longo da sua história em que o secretário-geral da NATO não está presente. E 1974 não foi excepção. O holandês Joseph Luns - que havia assinado com o seu punho o Tratado de Roma em nome da Holanda, em 1957 - foi uma das figuras de maior destaque presentes na reunião. Enquanto diplomata, Luns estivera durante a II Guerra Mundial em... Portugal.
O jornalista Martinho Simões acredita que "a presença de Luns terá determinado o comportamento da NATO no desenrolar do golpe militar de Lisboa". E recorda como, três dias depois do encontro, a NATO foi conivente com o golpe:
"No dia 24 de Abril, diversas unidades da NATO chegaram ao porto de Lisboa. Elas deveriam tomar parte nas manobras aeronavais Dawn Patrol, programadas para o dia 26, no Mediterrâneo. Mas poucas horas antes de ser oficialmente anunciada a mudança do regime português, as manobras foram canceladas e os navios de guerra portugueses puderam regressar a Lisboa e anunciar a sua adesão ao MFA [Movimento das Forças Armadas]".
E continua:
"Não será demais pensar que a presença das unidades da NATO em Lisboa tinha como objectivo servir de elemento de dissuasão contra qualquer tentativa 'contrarrevolucionária' dos generais".
O Centro de Documentação 25 de Abril interpreta os acontecimentos dizendo que, no encontro de Bilderberg, realizado em Megève, França, "ter-se-á tomado conhecimento da iminência de alterações políticas em Portugal e decidido não contrariar a evolução dos acontecimentos, crendo que uma mudança política poderia conduzir ao liberalismo económico". O jornalista Martinho Simões conclui dizendo:
"Nas suas linhas gerais, portanto, o golpe de 25 de Abril é, por um lado, tecnicamente preparado por duas centenas de capitães; por outro lado, é aceite e facilitado pela conivência do capitalismo anónimo [ler: Bilderberg]".
O Clube viria, no entanto, a ficar desiludido com o rumo que os acontecimentos tomaram mais tarde:
"Em sua evolução posterior, foram os capitães 'vermelhos' e não os moderados que se apoderaram do poder, desse modo frustrando as expectativas do Clube de Bilderberg"».
Rui Pedro Antunes («Os Planos Bilderberg para Portugal»).
Formado em Histórico-Filosóficas e Filologia, Orlando Vitorino é, sem dúvida, um dos maiores pensadores do [passado] século, definição que, além de verdadeira, fará crescer o interesse do leitor pela entrevista de hoje, a segunda subordinada ao título genérico de «Em busca da identidade nacional através da Filosofia Portuguesa».
Brilhantes palavras do nosso grande, muito grande pensador António Quadros.
Tudo o que de catastrófico sucedeu depois do 25 de Abril era contudo de prever, porque não se pode melhorar qualitativamente um país por uma revolução com cravos mas sem ideias, ou apenas (o que é o mesmo) com ideias feitas, convencionais, com ideias que não nasceram livre e espontaneamente do próprio povo, no sentido lato da palavra, isto é, que não promanaram da sua língua e da sua cultura, da sua história, e da sua problemática concreta, da criatividade e da actividade mental dos seus filósofos, escritores e artistas.
Não sendo possível a acção política sem pensamento político e não havendo entre nós, ao nível das classes dominantes e da universidade, nem pensamento político, nem pensamento filosófico capaz de o fundamentar, o resultado inevitável tinha de ser, ou a entrega do país e quem pensasse por ele (o que veio a suceder logo após o 28 de Setembro com o acesso de Vasco Gonçalves e com o domínio crescente do aparelho comunista) ou a proliferação de um pseudo-pensamento de cartilha, que, através dos diversos activismos grande ou pequeno-partidários, outra coisa não tinha ao seu alcance fazer do que tentar reproduzir no Portugal de hoje os seus diversos cenários de eleição: a Rússia dos anos 20, a França dos anos 30, a Jugoslávia dos anos 40, a Argélia dos anos 50, a China dos anos 60, etc., etc., etc., ou seja, anacronismos dentro de anatopismos, que não podem levar a perte nenhuma.
A própria «descolonização» que viemos a fazer para mal dos nossos pecados não foi mais do que um ersatz trafulha dos cenários das descolonizações inglesa ou francesa, com a diferença de que a Inglaterra ou a França souberam construir, ao mesmo tempo, a Commonwealth e a Union Française, enquanto nós tudo abandonámos sem contrapartida e sem honra, permitindo o êxodo vergonhoso de um milhão de portugueses metropolitanos, africanos ou timorenses.
Lembrar o Eça neste dia em Lisboa ... EM QUE O EÇA, SOB UM VIOLENTO DESARRANJO INTESTINAL, SE METE A ENALTECER D. JOÃO VI E A DEITAR AS CU...