Nos últimos anos, temos assistido por todo o lado a uma propaganda maciça tendente a forçar a aceitação das redes de telemóvel 5G como facto inevitável. Que é “melhor do que tudo existente até agora”, que é “moderno” e “tecnológico” (termos empregues amiúde na política e na publicidade para forçarem a aceitação de conceitos ou produtos às massas), etc.
Por outro lado, aparecem os arautos da desgraça e do alarmismo a brandirem argumentos catastrofistas acerca dos perigos – reais, mas muito exagerados, como habitualmente nestes alarmistas – de tal tecnologia e da sua implementação.
Mas será bem assim? Onde estará a verdade?
Em primeiro lugar, consideremos a actual plataforma de rede de banda larga para telemóveis de quarta geração (4G). Esta permite-nos transmitir voz e dados mais rapidamente do que a anterior, de 3G, e de tudo o que a precedeu. Serve perfeitamente para as utilizações actuais. Mas a indústria – e os mega-negócios a ela associados – pretende ampliar o conceito para acomodar uma Internet das Coisas (por oposição a uma Internet das Pessoas), ou seja, uma Internet que permita conectar todos os objectos (coisas, desde casas, carros, electrodomésticos, e todos os objectos do quotidiano equipados com chips RFID e capazes de serem identificados e conectados à rede), permitindo que os objectos do quotidiano possam ser identificados e controlados por outros sistemas e equipamentos, e não por pessoas.
Poderá ser prático num mundo globalizado, mas adivinha-se como o prenúncio de um pesadelo orwelliano, de controlo centralizado e sem rosto.
PROBLEMAS E (OUTROS) PERIGOS
E, é claro, para isso ser incorporado numa plataforma de rede de telecomunicações, esta terá de ser muito mais complexa e abrangente, com tempos de resposta (latência) muito menores, e eficiência de transmissão de dados muito mais elevada. É assim que aparece a 5ª Geração, ou 5G.
Isto é conseguido seccionando os dados em pequenos pacotes, permitindo uma transmissão muito mais rápida. Enquanto que as redes de 4G têm um tempo de latência de cerca de 50 milissegundos, as de 5G reduzem esse tempo a um mero milissegundo. O ser humano não notará a diferença, mas isso permite às máquinas uma transmissão quase totalmente fluída. Ou seja, a tecnologia 5G foi criada tendo em vista as necessidades das máquinas, e não as das pessoas. (de acordo com o jornalista canadiano Jody McCutcheon).
Ora, para se conseguirem maiores velocidades de transmissão e processamento, é necessário aumentar (ainda mais) a largura da banda e aumentar as frequências de transmissão. Contudo, as actuais faixas de espectro de frequências estão praticamente saturadas. A solução encontrada para obviar este problema é usar faixas de espectro de ondas milimétricas de altíssimas frequências (MMWs, ou Millimiter Waves), entre os 30GHz e os 300GHz, entre 1mm e 1cm de comprimento de onda, caindo bem dentro do campo das micro-ondas…
Este tipo de plataforma de 5G também necessita de utilizar gamas de frequências médias e baixas, actualmente em uso por outras redes, como a TDT (Televisão Digital Terrestre), forçando a sua migração para outras faixas do espectro. Assim, por exemplo, no passado mês de Novembro, essa migração “arrancou no emissor Odivelas Centro, em Lisboa, avançando depois para o resto do país” (segundo Fátima Caçador, no SapoTek), libertando a faixa do espectro dos 700MHz, que irá ser usada pelo 5G, obrigando a que todas as televisões que estejam sintonizadas nestas frequências “ tenham de ser resintonizados, passando do canal 56 para o 35.”
Acresce outro problema técnico, devido ao facto de as gamas de altas frequências milimétricas (MMWs) não terem tanto alcance como as das redes 4G ou das 3G, ou seja, a cobertura das antenas decresce com a largura de banda (ver figura): NOTA: As figuras estão na ordem da menção respectiva no texto.
Além disso, têm dificuldade em atravessar paredes de edifícios (felizmente!) e são absorvidas pela vegetação – principalmente por árvores frondosas - e pela humidade atmosférica, com especial relevo para a chuva, sofrendo interferências e perda de sinal. Daí se podendo especular (com boa dose de certeza) acerca da sanha disseminada nas nossas cidades e vilas em cortar árvores nas ruas, avenidas e jardins, para já não falarmos dos incêndios florestais.
Assim, dadas as limitações de cobertura e as impostas pelas interferências naturais, as redes de 5G não poderão usar as grandes antenas da 4G, espaçadas centenas ou milhares de metros, mas terão sim de recorrer a muitas (centenas ou milhares, por localidade) pequenas antenas retransmissoras, espaçadas poucas dezenas de metros, muitas vezes incorporadas em postes de iluminação pública, ou de distribuição de energia.
Embora estas pequenas antenas 5G emitam descargas de radiofrequência com potências bem inferiores às das grandes antenas de 4G, essas descargas são de frequências muito mais elevadas do que as da anterior geração, acresce o número muito superior de antenas emissoras de 5G e a sua localização a um nível muito mais baixo, entre dois a cinco metros do solo. Citando de novo o jornalista Jody McCutcheon, “se pudéssemos ver a radiação emitida pelas antenas de 5G, esta formaria um nevoeiro denso, omnipresente e permanente.”
Ora diz-se que as frequências utilizadas, do 4G ao 5G, não serão nocivas à saúde, por não serem ionizantes, como, por exemplo, os raios Gama ou os raios X. Contudo, como micro-ondas, as radiações dos telemóveis (e ainda mais, das torres de retransmissão), aquecem os tecidos celulares, como os fornos micro-ondas o fazem. E quem anda com os telemóveis constantemente ao ouvido, arrisca-se a problemas de saúde a médio e a longo prazo.
Com a miríade de antenas 5G a instalar, junto das nossas casas e locais de trabalho, cada uma delas emitindo em bandas de alta frequência, receberíamos em permanência uma radiação semelhante às dos scanners de bagagem de um aeroporto. Isto porque a plataforma tecnológica de 5G implica a transmissão de um muito maior número de sinais através do espectro de alta frequência. E as apreensões quanto a efeitos muito nefastos na saúde pública não são de modo algum infundadas…
Curiosamente, um dos efeitos mais preocupantes da radiação de ondas milimétricas de alta frequência (MMWs) é sobre a pele. Um estudo do Dr Yael Stein, da Universidade Hebraica de Jerusalém, que constatou que 90% deste tipo de radiação é absorvida pela epiderme e pela derme, fazendo da pele como uma esponja para este tipo de radiação de micro-ondas.
Além disso, continuando a citar o jornalista Jody McCutcheon, no seu artigo acerca dos problemas das redes 5G, as radiações MMW podem induzir um “disparo” nos nossos receptores de dor, que as tomam como estímulos perigosos para o nosso organismo, tentando assim forçar-nos a afastarmo-nos delas. E veja-se que o Departamento de Defesa dos EUA utiliza há mais de uma década uma arma de energia dirigida (DEW) de controlo de multidões, designada por “Active Denial System”, que consiste em dirigir radiação MMW para as multidões a dispersar, dando-lhes a sensação de queimadura da pele.
Usaram-na no rescaldo do ciclone Katrina, na Nova Orleães de 2005, tendo, numa entrevista, uma porta-voz do FEMA mostrado as antenas previamente instaladas e dizendo que as emissões poderiam ir da sensação de queimadura ligeira à desorientação e à dor…
E a plataforma 5G utiliza esse tipo de radiação…
Para terminar, muitos estudos recentes demonstram que a permanência por diversas horas diárias a campos de radiação electromagnética nas faixas de espectro da 5G induz lesões e graves problemas de saúde em animais, insectos (abelhas, sobretudo) e plantas…
Será que estamos prontos a ceder o nosso bem-estar e a nossa saúde (assim como a dos animais, insectos e plantas) em troca de “gadgets” de um pretenso “progresso”, que tem mais de ilusório, inútil e rentável para vários grandes negócios do que realmente útil?
Meditemos um pouco acerca disto, antes de mergulharmos de cabeça em mais uma aventura que nos apresentam como “inevitável”.
Carlos Peres Sebastião e Silva
Cascais, 12/12/2019
Sem comentários:
Enviar um comentário