sábado, 15 de agosto de 2020

Um país sem rumo...a derrocada total!!!


O que mudou em 40 anos?


«A derrocada não se fez esperar. Os acontecimentos do "28 de Setembro" representaram o primeiro passo para a negação da Democracia e da Liberdade.

As perseguições e as prisões arbitrárias sucederam-se, a loucura revolucionária não conheceu limites, oscilando entre comportamentos denunciadores de graves desequilíbrios mentais e o ridículo dos medíocres repentinamente guindados a postos de mando.

Iniciava-se, de facto, a era da "terra queimada", a que tantas vezes me referira.

O General Costa Gomes põe em prática o esquema de "democratização" das Forças Armadas que eu me negara a aceitar. A hierarquia e a disciplina são identificadas com o "fascismo"; surgem os primeiros "sovietes" nas unidades militares; os soldados aviltam-se e a grande maioria dos oficiais do Quadro Permanente ou são afastados por saneamento político ou adaptam-se à nova ordem revolucionária como única alternativa de sobrevivência.

O 28 de Setembro de 1974 - Jornal Tornado

As escolas anarquizam-se; põe-se de parte o ensino da nossa História e lançam-se "campanhas de dinamização cultural" conduzidas por falsos ideólogos que amesquinham a Pátria e vilipendiam os seus Maiores num soez insulto ao Povo Português, enquanto este, atacado no seu cerne e nas suas origens, os passa a olhar como paranóicos ou traidores ao serviço de estranhos. Ao mesmo tempo, consagra-se o "terrorismo internacional" em congressos e colóquios, onde a loucura política e o banditismo profissional se confundem, permitindo aos seus participantes a livre entrada no País com dispensa total de identificação, e autoriza-se que falem em público, cobertos das vistas da assistência.

O aparelho de Estado apresenta sinais evidentes de rotura nos sectores mais diversos, com especial relevo para os das Finanças, da Economia, da Educação, da Saúde e até da Justiça. Com a Informação controlada pelo "esquerdismo ortodoxo ou anárquico" e os Serviços Públicos destroçados, o Partido Comunista comanda o desenvolvimento do processo através do sector organizado da "esquerda militar" e perante a completa demissão das restantes forças políticas, que, dominadas pelo complexo de esquerda, lutavam pela sobrevivência. Tudo se encaminhava para o golpe final.

As intenções são claras. Rosa Coutinho, por exemplo, apresentado, até então, como paladino dos ideais democráticos, não hesita, logo após a minha renúncia, em estabelecer a censura em Angola, revelando de forma objectiva os desígnios totalitaristas do seu grupo.

António de Spínola, da infância à presidência

Com as Câmaras Municipais, os Governos Civis e outros organismos do Estado a nível regional largamente dominados por grupos de pressão constituídos para o efeito, apenas faltava completar a destruição do aparelho económico, nomeadamente das forças de produção.

É neste clima que, no quadro de uma maquiavélica manobra de envolvimento, surge o "11 de Março", a servir de excelente pretexto para a prossecução desses objectivos.

As nacionalizações selvagens são movidas exclusivamente por ódios ou perseguições pessoais e sem obedecerem a qualquer planeamento: a anarquização do mundo laboral é intensificada e associada a processos de controlo operário e de autogestão desde logo votados ao insucesso por falta de preparação dos trabalhadores. O País caminhava para o caos.



No Ultramar entra-se na fase de descalabro. Em Angola, Rosa Coutinho e Pezarat Correia põem em prática, sem quaisquer peias, o seu projecto de entrega daquele território ao MPLA. As estruturas civis e militares são postas ao serviço deste Movimento, passando-se a exercer toda a ordem de represálias sobre as pessoas que não aderissem ao mencionado projecto, represálias que logo se traduziram em actos de violência que marcaram o início do genocídio que se seguiu. Em Moçambique, com a complacência do Alto-Comissário Vítor Crespo, desenvolve-se uma campanha de intimidação imediatamente seguida por uma onda de perseguições, de que resultaram a chacina e a fuga desordenada de milhares de portugueses. Nos outros territórios, onde não existiam movimentos separatistas nem se podia invocar o argumento da guerra e as populações revelavam a sua firme vontade de continuarem ligadas a Portugal, forçava-se a implementação de movimentos emancipalistas sem adesão local e exerciam-se as mais diversas formas de coacção, no sentido de levar as populações a optar pela separação imediata de Portugal; campanha grave em Cabo Verde, mas que atingiu em Timor o mais alto grau de ignomínia e de traição a um Povo que havia confiado cegamente nas Forças Armadas Portuguesas, que ali acabaram por escrever com sangue timorense as páginas mais hediondas e cobardes da História da Pátria.»

António de Spínola («País sem Rumo. Contributo para a História de uma Revolução»).

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