quarta-feira, 12 de agosto de 2020

A traição, a razão da queda do Império!!!

Serei sucinto no meu comentário, não adianta alongar-me, pois subscrevo na íntegra as palavras de uma das grandes figuras da diplomacia portuguesa e mundial do século XX, Alberto Franco Nogueira, uma das figuras que nunca virou costas aos interesses da Nação e do País, um dos homens de Salazar. Um dos homens que usou de todos os meios ao seu alcance para que este país não se diluísse ou desmembrasse, infelizmente, por motivos que abaixo estão descritos, sabemos hoje que foi um esforço inglório, mas não em vão, resta-nos o exemplo, há homens que marcam a história de um país, e se os há, e deixam marca indelével, são mesmo as figuras que constam do texto abaixo, o narrador e o sujeito da narrativa, Franco Nogueira e Oliveira Salazar.

"A gratidão pertence à História, não à política.“

Alexandre Sarmento

Franco Nogueira e Vasco Garin nas Nações Unidas, 1963. – Traços de ...

Vasco Garin e Franco Nogueira na ONU, 1963.

«(...)Dentro do regime, é data de marca: em 27 de Abril de 1968 acabam-se quarenta anos sobre o dia em que Oliveira Salazar, ao tomar pela segunda vez o encargo das Finanças, entrou definitivamente para o governo. Quatro décadas atrás, enquanto discutia os termos da sua colaboração, escrevia ao seu amigo Dinis da Fonseca: "Jogo tudo por tudo, e exijo as condições de máxima liberdade de acção, de escolha e de direcção". Aposta numa carta só, e ganha. Depois, no acto de posse, não tergiversa ao proclamar: "sei muito bem o que quero e para onde vou". Mas agora, corrido tempo tão duro e longo, caberá perguntar se sente que ainda pode fazer a mesma afirmação. Foi áspera a estrada, e tumultuosa, e a erosão dos homens e das coisas tem diluído, se não alisado, as pegadas e obliterado os marcos deixados. Quantos recordam do levantamento financeiro e económico do país? Quem avalia a ressurreição da consciência nacional, a reforma do Estado, e o revigoramento da independência portuguesa? Acaso há quem se recorde e saiba medir os perigos afrontados hora a hora durante os nove anos da guerra de Espanha e da Segunda Guerra Mundial? E quem está apto a encarar numa perspectiva da História a defesa e a resistência do Ultramar? Fugaz sempre é a memória dos homens e dos povos para o que seja positivo, e que lhes parece fácil; e isso tem-no por natural e quase espontâneo; e subsistem e vivem mais as lembranças dos erros, das injustiças, das sombras. E assim, ao espírito dos homens de hoje, acodem sobretudo as faltas cometidas, as insuficiências sofridas, as ofensas feitas, as injúrias não reparadas, as liberdades políticas restringidas, a censura do que é havido por obra-prima, os talentos não reconhecidos a uns, os méritos não aproveitados em outros. De tudo está Oliveira Salazar consciente, e não se acanha de afirmar que já não se entende com isto, nem com as pessoas: é um ser que está para além das coisas e dos outros homens de superfície.

Alberto Franco Nogueira - Tinta da China

Franco Nogueira.

(…) desce Salazar ao terreiro do momento político. É perturbada a época que se vive, porque se romperam os equilíbrios sociais e aqueles por que se norteavam as relações entre Estados. Hitler prometia a paz para mil anos; perdeu; e a promessa é agora reiterada pela ONU, que não consegue cumpri-la, e no mundo quase não há lugar sem guerra ou conflito. Apesar da técnica, alastra a pobreza; repetem-se sem descanso os apelos à democracia, à liberdade e à igualdade, à soberania do povo, à omnipotência justiceira e criadora do voto; mas por toda a parte se conclui que após milénios o homem não sabe nem pode governar-se sem autoridade e justiça; e da trilogia revolucionária de 1789 até a fraternidade - "que parecia realizável na sua plenitude" - tem sido "sacrificada ao egoísmo dos homens e ao materialismo da vida". Por outro lado, criou-se a ideia de que a economia deve ou pode dirigir a política, e comandá-la: pensa-se que o desenvolvimento económico começa pela industrialização, e que todos os povos a podem atingir em grau igual; que são ilimitados os créditos ou capitais disponíveis; que uma economia não tem de basear-se no trabalho ou na técnica própria, mas na generosidade alheia; e está provado que tudo isto é erro. Se a economia tende a dirigir a política indispensável ao governo dos povos, e não sendo a técnica em si mesma uma política, tem de entender-se que a política deve definir prioridades e a técnica cingir-se a ensinar como se podem conseguir. De outro modo, o homem transforma-se numa engrenagem da própria técnica. "Tem de salvar-se o homem da tentação do abismo". De tudo resulta uma outra crise: a do direito internacional. Alargou-se a comunidade de nações a países sem preparação; e as Nações Unidas têm agravado a situação. E hoje o princípio é: a lei internacional é para cada Estado a que serve o seu interesse, sem respeito pelo direito alheio.

A AVENIDA PINHEIRO CHAGAS EM LOURENÇO MARQUES, VISTA PARA POENTE ...

Lourenço Marques 1970.

Neste clima, não se pode esquecer a "África em fogo". Aí, é completo o caos: não confiam nos Árabes os da África Negra; estes, por seu turno, não se entendem entre si; e alguns pretendem uma revolução africana não apenas para conquista da independência mas que leve à adopção de uma política sustentada pelo bloco comunista. Como o comunismo não pode ser implantado na África Negra, no estado actual, o apoio soviético "representará sobretudo a substituição das posições ocidentais" e "um perigo para a independência" daquele continente; e por tudo isso tem sido estimulado um racismo negro que, por ser antibranco e não representando desagravo ou desforço, é também uma operação económica pelo enfraquecimento que a expulsão do branco traz às economias locais que colaboram com o Ocidente. E Portugal em África? Elementos subversivos vindos do Tanganica romperam em Moçambique, tentando repetir o que outros fizeram na Guiné e em Angola; mas não puderam, ao menos com intensidade comparável, "porque nos encontraram preparados e atentos". Também como noutros casos, é achado legítimo o auxílio de outros países ao terrorismo; em compensação, vai sendo aceite pelas potências a ideia de defesa contra ataques protegidos pelos países de onde partem. É "dentro deste quadro que havemos de defender os territórios nacionais". É pena que sejam gastos anualmente com a defesa três milhões e meio de contos, e os milhares que as províncias despendem, quando poderiam ser aplicados em obras públicas e fomento. Serão mal empregadas estas importâncias? "O problema não pode pôr-se-nos assim, mas só em face da imperiosidade do dever político e das possibilidades nacionais. O cumprimento do dever não tem de ser contabilizado; as possibilidades são as do nosso trabalho que, se tiver de ser mais penoso e longo, o será sem hesitações". Decerto o inimigo instila em espíritos fracos um veneno subtil, afirmando que estes problemas não têm solução militar, mas só política; e que o prolongamento da luta, além de ruinoso, é inútil. Mas o terrorismo não é explosão de um sentimento nacional, que os portugueses procurem abafar; constitui agressão instigada por estranhos; e por isso, "a tal solução política, se não prevê a desintegração nacional (que todos fingem repelir), não se encontra em nós próprios mas nos países vizinhos", que têm o dever de cessar os ataques. E Oliveira Salazar pergunta: "Vamos em quatro anos de luta, e ganhou-se alguma coisa com o dinheiro do povo, o sangue dos soldados, as lágrimas das mães? Pois atrevo-me a responder que sim". Ganhou-se no plano internacional, pois se reconhece hoje que Portugal, além de defender um direito seu, se bate também pelo Ocidente; e ganhou-se no plano africano, porque se apontou ao continente negro um certo número de soluções para problemas que os dirigentes não sabem como resolver, além de se haver estabelecido melhor a realidade das províncias portuguesas. "Eis o ganho positivo desta batalha em que - os portugueses europeus e africanos - combatemos sem espectáculo e sem alianças, orgulhosamente sós". (Esta expressão "orgulhosamente sós" logo se transformou num estribilho ou bordão político, invocado por uns como título de nobreza e coragem nacional, por outros como indicativo de isolamento perante o mundo. Mas a expressão não queria dizer que Portugal estivesse só, isolado, sem ajudas. Queria dizer que Portugal estava só na interpretação que dava ao quadro africano e mundial; e às conclusões políticas que tirava).

O reencontro da filha e do pai que Salazar e Mao separaram - DN

Franco Nogueira e JFK.

(...)"Um povo que toma, diante de si mesmo e à face dos imperativos da sua história, a decisão viril de resistir, porque sabe que precisa de resistir para sobreviver, há-de tirar desta mesma decisão as forças necessárias para enfrentar as dificuldades". Milhares e milhares de homens que nas fileiras se arriscaram já nos mares e na selva, e jogaram a vida pela Pátria, "viram no Ultramar projectada a Nação na sua verdadeira grandeza". E o chefe do governo pergunta: "que podem significar para estes homens umas oposições que conspiram com o comunismo em Paris ou em Argel para lhe entregar Portugal, ou aquelas, mais moderadas embora, que se limitam a ver se podem conquistar o poder, sabendo todos, pela imprecisão da sua linguagem, que perder a batalha aqui ou lá é tudo a mesma coisa? E não estaremos nós à altura dos que se batem não só por eles e por nós mas pela justiça que nos assiste e pelo bem dos povos a que nos devotamos?" Quando a União Indiana se apossou de Goa, todos no mundo concluíram que se havia apoderado de ricas minas de ferro e de um porto como não havia outro nas suas costas; mas a poucos acudiu que em Goa havia também uma alma e uma cultura indo-portuguesa; e por isso nunca houve tantos portugueses e tanto patriotismo num território que a hipocrisia alheia diz liberto da opressão portuguesa. "Esta lição que o mundo agora colhe do nosso sofrimento, não queremos que levianamente a tire dos outros territórios que constituem a Nação portuguesa". E por isso importa conhecer bem "as razões da nossa luta nacional". Daqui a necessidade imperiosa de uma doutrinação que os governos e a União Nacional têm descurado.

Salazar Volume IV - O Ataque (1945 - 1958) - Narrativa Óbvia

(...)Ao outro dia, 27 de Abril, cumprem-se trinta e sete anos ininterruptos sobre a entrada de Oliveira Salazar para o governo. Na manhã daquele dia, e enviado por Ploncard D'Assac, recebe o texto preparado por Saint-Paulien sobre a entrevista de há semanas, e que este destina à Revue des Deux Mondes. Quer Salazar alguma alteração? Não. Que disse o chefe do governo ao jornalista francês? Sintetiza ideias e conceitos há muito expressos e repisados: fala-se muito do Ocidente mas são os próprios ocidentais que o estão a destruir, e a minar os fundamentos da civilização cristã; a África em fogo constitui o mais grave dos males; perante a demissão ocidental, Portugal mantém a Europa na África; Goa, libertada pela União Indiana com a anuência do mundo, é hoje uma ruína abandonada, e a isso chama-se progresso; em África, com as independências prematuras, verifica-se a morte na economia, no comércio, na vida social; e o socialismo africano é um "ultracolonialismo" baseado na espoliação, no aniquilamento dos meios de trabalho e das empresas. E percorrido este texto, Salazar dedica-se a um dia normal de trabalho.

Vor 50 Jahren - Als der portugiesische Diktator Salazar vom Stuhl ...

(...)Mas as atenções da opinião pública portuguesa, e as do mundo, convergem para Nova Iorque por outro motivo: em 4 de Outubro de 1965, Paulo VI, chegado nessa madrugada, discursa perante a Assembleia Geral das Nações Unidas. Que diz o papa? Afirma que traz à ONU uma saudação especial do Concílio, e que fala como homem e irmão independente, detentor de uma soberania minúscula; pretende estabelecer um colóquio com os homens através da ONU, que os povos olham no desejo de uma coexistência pacífica que garanta a sua personalidade internacional; na vida das nações devem prevalecer a razão, a justiça, o direito, a negociação e jamais a força, a violência, a guerra, o ludíbrio; e foi sábia a ONU em abrir as suas portas aos povos jovens, e nisso está o génio da instituição. Continua o pontífice: na ordem temporal, as Nações Unidas representam o que na ordem espiritual representa a Igreja, no duplo sentido de que ambas são únicas e universais e fazem iguais os povos e os homens ainda que o não sejam: os perigos e os conflitos têm sido produto de uma política de predomínio e de prestígio, do colonialismo, do egoísmo, e por isso apela para que os homens nunca mais - mas nunca mais - lutem entre si; este é objectivo e forma a glória da ONU, que aponta à civilização moderna e à paz um caminho obrigatório; e assim o organismo constitui uma "aula magna" da paz e os delegados são os "arquitectos que construíram a paz", num prenúncio de autoridade mundial. E o Santo Padre conclui: como linhas de acção futura têm de prevalecer o desarmamento e o desenvolvimento económico que, sem limitar a natalidade, permitiriam que "todos fossem convivas no banquete da vida": e para tanto há que repensar o homem, com fé em Deus, ainda que seja o Deus desconhecido de quem fala S. Paulo.

Pelo mundo, em muitos círculos há entusiasmo, arrebatamento: fora um "grande dia" para a ONU, o papa pronunciara um "grande discurso". Outros não julgam que as palavras pontifícias frisem com as circunstâncias, nem lhe descobrem ideia-força que influencie ou modifique acontecimentos. Que pensa Salazar em Lisboa? Diz o chefe do governo: "Não duvido de que nos próximos meses a ONU procure alimentar-se do prestígio trazido à instituição pelas teses defendidas no discurso e se apresente ao mundo aureolada de todos os ditirambos generosamente espargidos por toda a oração". É cáustico: "a ONU e sua missão receberam a bênção papal". Mas não crê que, apesar de tudo, tais "intentos e apelos tenham força bastante e possibilidade de converter-se em realidades operantes". Que riscos antevê, todavia? Afigura-se-lhe indispensável que os países mais responsáveis não permitam à ONU enveredar por caminhos que, não consolidando a paz, ainda "criem conflitos e difundam guerras"; e sobretudo impõe-se "dissuadir a instituição da ideia de criar forças próprias e de intervir na solução de conflitos nacionais ou internos, como os movimentos subversivos, com a alegação de constituírem perigos para a paz". E a alusão do Santo Padre ao colonialismo? (Segundo António de Faria apurara em Roma, a palavra não figurava no texto elaborado no Vaticano, e terá sido introduzida para satisfazer pressões afro-asiáticas). Comenta Oliveira Salazar: "Embora o colonialismo possa revestir diversas formas e a palavra assuma os mais diversos significados, a inserção do termo na passagem em que se encontra permite aos povos africanos a exploração de que a nós se dirige e traduz condenação da nossa política ultramarina. Bem vistas as coisas, é à obra colonial que se deve a paz em África no último século e à descolonização que se devem as guerras actuais e as que nos aguardam no tempo presente e nos próximos". Depois, o chefe do governo é irónico: "Certamente o Santo Padre não pretendeu apresentar tese histórica mais do que duvidosa, mas aproveitar circunstâncias para perfilhar teses agradáveis aos povos africanos na sequência da política que temos acompanhado e que infelizmente temos sentido afirmar-se contra os nossos interesses e até os interesses da Igreja". E para Portugal que resultados antevê Salazar? "Neste ponto, temos de lamentar que o discurso tenha vindo interpor-se como obstáculo, embora vencível, à lenta evolução que se estava verificando de compreensão mais realista dos acontecimentos dos últimos vinte anos, com as suas naturais e benéficas consequências". Conclui o chefe do governo. "Quanto ao mais, escusado será termos grandes receios e Deus providebit".

Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P6374: Recortes de ...

Para além da excitação que por um momento varre as Nações Unidas, e mesmo Nova Iorque, permanecem os problemas, os interesses, os conflitos entre as potências: e neste particular não surte efeito a visita papal. Justamente, por virtude desta visita e para exporem os seus pontos de vista perante a Assembleia Geral, encontram-se na ONU os ministros dos Estrangeiros de quase todos os países. Está presente o de Portugal, que se dirige à Assembleia uma semana depois da partida do papa. Após uma análise das frustrações da ONU, renova a oferta de cooperação com os países africanos: "se não podemos concordar de momento em alguns problemas políticos, nada deve obstar a uma estreita cooperação noutros domínios". E conclui: "Não podemos comprar paz com desprezo pela lei: essa política fracassaria: e a humanidade poderia sofrer o infortúnio de ser arrastada a uma guerra mundial por uma organização destinada a defender a paz mundial. Constitui imperativo que a todos devia impor-se procurar evitar que as Nações Unidas se tornem uma organização traída".

(...)Em Conselho de Ministros, a 21 de Outubro de 1965, o governo aprecia a situação internacional, em particular os últimos acontecimentos que tocam a Portugal de perto: discurso do papa na Assembleia Geral, a Rodésia, a sessão da ONU em curso. Oliveira Salazar tem na sua frente um exemplar da revista Match com uma larga fotografia de Paulo VI quando pronunciava a sua mensagem à Assembleia das Nações Unidas. E o chefe do governo circula a fotografia pelos ministros, que a passam de mão em mão, e diz: "Isto é horroroso".

Delito de Opinião

(...)Justamente quando se realizam as eleições gerais em Portugal, reúne-se enfim em Nova Iorque, por empenho dos afro-asiáticos e após sucessivos adiamentos provocados pela questão de Caxemira, o Conselho de Segurança das Nações Unidas. De novo os países africanos - sempre representados pelos ministros dos Estrangeiros da Libéria, Tunísia, Serra Leoa e Madagáscar - se aprestam a atacar a política ultramarina do governo de Lisboa. Comparece por Portugal o seu ministro dos Estrangeiros. Sentem-se nesta altura possessos de cólera os Estados de África. Com efeito, havendo submetido ao plenário da Assembleia um projecto de resolução que intima o Reino Unido a usar a força das armas contra a Rodésia se esta declarar unilateralmente a independência, os afro-asiáticos viram esse projecto aprovado, decerto, mas com os votos contrários de vinte e sete países, destacando-se entre estes os Estados Unidos, o Canadá, os escandinavos, alguns latino-americanos. Portugal figurou entre os que se pronunciaram contra o projecto. De importância real é o voto norte-americano por significar que, se posto o problema ao Conselho de Segurança, os Estados Unidos oporiam aí o seu veto ao envio de um contingente militar para subjugar a Rodésia. Avança desde logo o ministro liberiano com o libelo de uso, e é seguido pelos da Tunísia, Madagáscar e Serra Leoa. São os acusadores de rotina: repressão sanguinária, opressão dos povos, câmaras de tortura, milhões de perseguidos, massacres, genocídio: e, como resultado de tudo, o governo de Lisboa constitui uma ameaça à paz e à segurança internacionais. São sublinhadas algumas alegações: Portugal recusa-se a cooperar com as Nações Unidas, Portugal revelara absoluta intransigência nas conversas luso-africanas de Outubro de 1963, Portugal tem uma aliança ímpia com a Rodésia e a África do Sul: e está sendo auxiliado, militar e financeiramente, pela NATO, pelos Estados Unidos, pela Alemanha, pela França, por outros países ainda. E os países africanos exigem que Portugal obedeça às resoluções aprovadas em dez anos consecutivos, e que cessem os auxílios, e que lhe sejam aplicadas sanções económicas e financeiras. Há que pôr termo a uma "política diabólica". Mas a tudo responde no mesmo tom o delegado português: repudia todas as alegações, salienta o paradoxo de os governos africanos acusarem com fundamento em dados falsos que depois, quando a oportunidade lhes é oferecida, se furtam a investigar; recorda uma longa lista de propostas, sugestões, convites, formulados por Lisboa, e que foram sistematicamente recusados; cita vasta documentação comprovativa da ajuda estrangeira ao terrorismo; invoca testemunhos favoráveis de nomes autorizados, de fama mundial, que visitaram Angola e Moçambique; exige que o Conselho aponte os verdadeiros agressores; e propõe que o Conselho designe uma subcomissão, que deverá incluir um membro português e outro africano, para investigar dentro e fora das fronteiras portuguesas as ameaças à paz. E depois, no dia 9 de Novembro de 1965, generaliza-se o debate. Não tolera a Jordânia que Portugal escape à lei geral; a Costa do Marfim lamenta que não haja na política portuguesa um "novo ponto de partida" e recorda, para que seja aplicada à África portuguesa, a apóstrofe de Catão contra Cartago; o delegado britânico, que é figura eminente no socialismo do seu país, declara-se satisfeito porque o seu governo não ajuda Portugal a prosseguir a sua política, nem fornece qualquer armamento para uso em África, pensando entretanto que seriam úteis novas conversas luso-africanas; a Malásia lembra que Portugal não cumpre o artigo 73 da Carta; e por último o delegado holandês afirma que o seu governo "não aceita a constituição portuguesa", nem dá assistência militar a Portugal. Ao outro dia, 10 de Novembro, há uma réplica portuguesa: são repisados os argumentos, refutadas as alegações, e a Inglaterra e a Holanda são tratadas com sarcasmo: na realidade estes dois países em nada auxiliam Portugal porque, além do mais, Portugal não lhes solicitou o menor auxílio. Por seu turno, o delegado soviético, numa fala longa e exaustiva, acusa a NATO, e os Estados Unidos, e a Inglaterra, e outros, de apoiarem Portugal, e pede sanções políticas e económicas contra o governo de Lisboa; e a Tunísia, a Malásia e a Costa do Marfim repetem os seus argumentos anteriores. Entra-se em novo dia de debate: está-se a 11 de Novembro. São agora os Estados Unidos que negam as acusações soviéticas e se, com sobriedade, reafirmam o seu apoio à autodeterminação e o seu repúdio pelo uso da violência, também advogam novas conversas luso-africanas, na base de resoluções anteriores e da aceitação daquele princípio, com todas as opções e escolhas que o mesmo comporta; é a China que intervém para vincar aspectos positivos da obra portuguesa em África; é o Uruguai que defende o princípio de a África para os Africanos, mas considera que interessa ao Conselho e ao mundo a palavra de Portugal na matéria, e por isso aceita a proposta portuguesa de se constituir uma subcomissão. Em novo contra-ataque português, são feitas réplicas a pontos de debate, e às insinuações soviéticas.

Cronologia 1961-1969: Início da Guerra Colonial e viragem no ...

Desembarque de tropas portuguesas em Luanda.

(...)Pelo país, entre os homens da cultura celebram-se o V centenário do nascimento de Gil Vicente e o II centenário do nascimento de Bocage. Pelo estrangeiro, para além dos governos, há homens que compreendem o papel de Portugal em África. No Rivarol, escreve Saint-Paulien: "a política ultramarina de Portugal deve ser continuada pelos seus sucessores; se o não for, Portugal desaparecerá numa agonia mais ou menos longa; e toda a tentativa de estruturação económica da África Negra se tornará absurda"».

 (Franco Nogueira, «Salazar. O Último Combate - 1964-1970»

SALAZAR NA HISTÓRIA» - portugal dos pequeninos

Salazar, uma das fotos da revista Life.

« - Todos sabem que Portugal sem as províncias ultramarinas tem vida difícil e de problemática recuperação. Com o dr. Salazar, e a sua intransigência política nacionalista, era completamente impossível o domínio da África Austral. Salazar era temido pelas grandes potências, pela sua superior visão dos problemas mundiais. Só fomentando uma mudança de regime seria possível vencer o nacionalismo português.

(…) Hoje, queiram ou não, o mundo ocidental já entendeu que a política do dr. Salazar estava certa. O maior derrotado, para além da infeliz Nação Lusitana, foi o Ocidente!»

Pierre de Villemarest («Autópsia do "25 de Abril"»).

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