«Spínola, quando chegou à Guiné, fez uma coisa revolucionária: considera que uma guerra daquele tipo só se ganhava politicamente e nunca militarmente. A única coisa que ele pedia aos militares era que não perdêssemos a guerra para lhe darmos tempo para a resolver politicamente. A partir disso, toda a manobra militar da Guiné esteve subordinada à manobra política do general. Ele traçou a sua manobra política, à qual a manobra militar ficou subordinada. [...] Spínola ouvia muito o Ricardo Durão e o Rafael Durão. Ao núcleo duro do staff dele pertenciam eu, o Carlos Morais, mais tarde o Dias de Lima quando o Carlos Morais acabou uma comissão, o Carlos Azeredo, o João Almeida Bruno, o Firmino Miguel e o Pereira da Costa. O Azeredo tinha uma certa "pancada", mas o resto era gente normal. Uma noite este grupo, exceto Dias de Lima, reuniu-se em Bissau, depois de fazer um estudo exaustivo do que se estava a passar no país e nas colónias, e chegou à conclusão que a maneira de resolver o problema nacional era destituir o Governo e substituí-lo por alguém que quisesse resolver os problemas nacionais, como era o caso do Spínola. Puseram-se várias hipóteses, até que assentámos no projecto de transformar Spínola numa figura nacional, de tal maneira importante que eles não pudessem pô-lo numa prateleira, quando ele regressasse a Lisboa. Quando o Spínola tem uma posição importante em Lisboa, ia colocar os seus homens de confiança, que eram muitos, nos lugares importantes.
No momento em que ele achasse que tinha o espaço nacional coberto por pessoas da sua confiança, subia a escadaria de São Bento, batia à porta e dizia ao Marcello: "Gostei muito deste bocadinho, mas vá-se embora porque quem manda agora sou eu " Seria um golpe de Estado típico. Seria um golpe de Estado típico. Isto falhou porque o Spínola, apesar de ter ido para um lugar importante, que foi criado de propósito para ele - vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas -, nunca conseguiu pôr uma pedra dele em nenhum sítio porque não o colocou. Entretanto, mobilizaram-se jornalistas, portugueses e estrangeiros. O Dominique de Roux , francês, era um dos homens que estava connosco. O Victor Direito, do República , também ».
Carlos Fabião («Milícias negras», in José Freire Antunes, «A Guerra de África - 1961-1974», Vol. I).
Para bom entendedor, Spínola foi comido de cebolada!!!
Alexandre Sarmento
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