«Até à queda ocorrida no Forte de S. António, no Estoril, a 7 de Setembro de 1968, um incidente que incapacitou fisicamente António de Oliveira Salazar, fundador e ideólogo indiscutível do Estado Novo, as bases políticas que justificavam a presença de Portugal nos territórios situados para além do continente europeu eram sólidas e coerentes:
- eram eminentemente patrióticas;
- mantinham e reafirmavam a tradição histórica de séculos;
- apelavam a um alto ideal de humanidade, coesão política e integração social;
- estavam alicerçadas na moral e no direito;
- apelavam aos sentimentos profundos de autodefesa do povo português que lhes são próprios desde sempre;
- reflectiam, no essencial, no campo político e diplomático, a maneira portuguesa de estar no mundo, já com vários séculos de existência.
Enquanto estes ideais políticos fossem sentidos pela maioria da população e fossem vistos como corolário do imaginário da pátria portuguesa - que desde o século XV estava ligado à extraordinária expansão e diáspora dos portugueses - não haveria riscos de ruptura na nação lusa. Estes pressupostos estavam profundamente enraizados em todas as camadas da população e nas elites sociais. E nunca foi posta em causa, nem pelo povo, nem pela burguesia, nem pela nobreza, fossem eles cristãos-novos ou velhos, religiosos ou ateus, maçons ou jesuítas, liberais ou absolutistas, monárquicos ou republicanos. O consenso era geral e universal.
Apenas abriu brechas depois da fundação do PCP, em 1921, quando as resoluções das internacionais comunistas assim o determinaram. Até 1969, data da crise académica, esta atitude antinacional - como foram quase todas as defendidas por aquele partido - praticamente não se fez sentir, dada a sua reduzida implantação e ao combate que lhe foi movido pelas forças governamentais.
A partir de meados dos anos 60 do século XX, foi a vez da oposição dita democrática, herdeira das forças oriundas da I República, deixar de defender o projecto de Portugal do Minho a Timor, como sempre tinham feito. Recorde-se até que um dos ataques desferidos contra a monarquia tinha sido a adequada defesa e promoção dos nossos territórios fora da Europa.
Finalmente, grande parte da intelectualidade deixou-se seduzir pelo pensamento marxista, maoísta, trotskista e outros do género que abundavam então, sobretudo depois do desconchavo do Maio de 68 em França, desequilibrando-lhes o pensamento e a realidade das coisas, no que foram acolitados, noutro âmbito, pela tecnocracia económico-financeira, cujo eldorado era representado pela CEE. Tal ideário redutor, internacionalista e materialista acabou por se consubstanciar na fundação da SEDES (Sociedade de Estudos e Desenvolvimento Económico e Social), em 1970, já no consulado de Marcello Caetano. Foi este último, precisamente, o principal responsável pelas fissuras que puseram em causa a coesão do edifício político. Sobretudo por ter dado a entender que a situação que se vivia poderia ser transitória. Ora, ninguém pode pedir a um cidadão que morra definitivamente por uma solução transitória».
João José Brandão Ferreira («Em Nome da Pátria. Portugal, o Ultramar e a Guerra Justa»).
- eram eminentemente patrióticas;
- mantinham e reafirmavam a tradição histórica de séculos;
- apelavam a um alto ideal de humanidade, coesão política e integração social;
- estavam alicerçadas na moral e no direito;
- apelavam aos sentimentos profundos de autodefesa do povo português que lhes são próprios desde sempre;
- reflectiam, no essencial, no campo político e diplomático, a maneira portuguesa de estar no mundo, já com vários séculos de existência.
Enquanto estes ideais políticos fossem sentidos pela maioria da população e fossem vistos como corolário do imaginário da pátria portuguesa - que desde o século XV estava ligado à extraordinária expansão e diáspora dos portugueses - não haveria riscos de ruptura na nação lusa. Estes pressupostos estavam profundamente enraizados em todas as camadas da população e nas elites sociais. E nunca foi posta em causa, nem pelo povo, nem pela burguesia, nem pela nobreza, fossem eles cristãos-novos ou velhos, religiosos ou ateus, maçons ou jesuítas, liberais ou absolutistas, monárquicos ou republicanos. O consenso era geral e universal.
Apenas abriu brechas depois da fundação do PCP, em 1921, quando as resoluções das internacionais comunistas assim o determinaram. Até 1969, data da crise académica, esta atitude antinacional - como foram quase todas as defendidas por aquele partido - praticamente não se fez sentir, dada a sua reduzida implantação e ao combate que lhe foi movido pelas forças governamentais.
A partir de meados dos anos 60 do século XX, foi a vez da oposição dita democrática, herdeira das forças oriundas da I República, deixar de defender o projecto de Portugal do Minho a Timor, como sempre tinham feito. Recorde-se até que um dos ataques desferidos contra a monarquia tinha sido a adequada defesa e promoção dos nossos territórios fora da Europa.
Finalmente, grande parte da intelectualidade deixou-se seduzir pelo pensamento marxista, maoísta, trotskista e outros do género que abundavam então, sobretudo depois do desconchavo do Maio de 68 em França, desequilibrando-lhes o pensamento e a realidade das coisas, no que foram acolitados, noutro âmbito, pela tecnocracia económico-financeira, cujo eldorado era representado pela CEE. Tal ideário redutor, internacionalista e materialista acabou por se consubstanciar na fundação da SEDES (Sociedade de Estudos e Desenvolvimento Económico e Social), em 1970, já no consulado de Marcello Caetano. Foi este último, precisamente, o principal responsável pelas fissuras que puseram em causa a coesão do edifício político. Sobretudo por ter dado a entender que a situação que se vivia poderia ser transitória. Ora, ninguém pode pedir a um cidadão que morra definitivamente por uma solução transitória».
João José Brandão Ferreira («Em Nome da Pátria. Portugal, o Ultramar e a Guerra Justa»).
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