Um grande Português, um grande patriota...
[...] Eu entrei no 25 de Abril convictamente, com um grupo de comandos e um pequeno grupo de oficiais. Pesou em mim o que vivi em África e a maneira como os militares vindos da Índia foram recebidos e tratados pelas autoridades militares. A minha convicção pessoal era de que a Guiné estava perdida, e Moçambique, por aquele andar, também estava. Não tenho dúvidas de que Angola nunca se perdia. Mas não houve coragem de alguém dizer: "Alto, Angola é nossa". A Guiné estava arrumada. O que era a Guiné? Era uma machamba da CUF, estávamos lá a guardar os amendoins da CUF. Praticamente não havia população branca na Guiné, e os poucos que lá estavam eram funcionários do Estado. Moçambique tinha alguns brancos, mas foi-se perdendo gradualmente. De tal maneira que, em 1966-1967 havia duas bolsas definidas e em 1974 os tipos da Frelimo já iam a caminho da Beira. Mas Angola era diferente. Depois do 25 de Abril, aquilo foi entregue de bandeja, o Savimbi nem queria acreditar. As pessoas têm a memória curta e, hoje em dia, diz-se muito: "O preto, coitadinho, foi sempre explorado". Mas anda aí muita demagogia acerca disso. Muitos brancos que eu conheci e vi nos matos de Angola e Moçambique, entre os quais muitos transmontanos meus patrícios, viviam em condições de isolamento e até um pouco cafrializados. Vinham a Portugal, ao "puto", como lhe chamavam, de tantos em tantos anos, "mostrar" à terra que tinham dinheiro. E depois regressavam, muitas vezes antes do tempo previsto, e se calhar já se lhes tinha acabado o dinheiro, porque sentiam saudades. Quando eu desembarcava em Angola, sentia-me em Portugal. Pelo que eu lá vi e passei, não há dúvida que todos os portugueses que lá trabalhavam e viviam mereciam uma melhor descolonização. Tenho sido convidado para ir à África do Sul, a Angola, etc., talvez para "vender" a minha experiência. Mas eu digo sempre que não, porque quando lá estive foi a defender Portugal, a minha Pátria. Como não sou mercenário, não me vendo».
Jaime Neves («Mama Sume!», in José Freire Antunes, «A Guerra de África - 1961-1974», Vol. I).
[...] Eu entrei no 25 de Abril convictamente, com um grupo de comandos e um pequeno grupo de oficiais. Pesou em mim o que vivi em África e a maneira como os militares vindos da Índia foram recebidos e tratados pelas autoridades militares. A minha convicção pessoal era de que a Guiné estava perdida, e Moçambique, por aquele andar, também estava. Não tenho dúvidas de que Angola nunca se perdia. Mas não houve coragem de alguém dizer: "Alto, Angola é nossa". A Guiné estava arrumada. O que era a Guiné? Era uma machamba da CUF, estávamos lá a guardar os amendoins da CUF. Praticamente não havia população branca na Guiné, e os poucos que lá estavam eram funcionários do Estado. Moçambique tinha alguns brancos, mas foi-se perdendo gradualmente. De tal maneira que, em 1966-1967 havia duas bolsas definidas e em 1974 os tipos da Frelimo já iam a caminho da Beira. Mas Angola era diferente. Depois do 25 de Abril, aquilo foi entregue de bandeja, o Savimbi nem queria acreditar. As pessoas têm a memória curta e, hoje em dia, diz-se muito: "O preto, coitadinho, foi sempre explorado". Mas anda aí muita demagogia acerca disso. Muitos brancos que eu conheci e vi nos matos de Angola e Moçambique, entre os quais muitos transmontanos meus patrícios, viviam em condições de isolamento e até um pouco cafrializados. Vinham a Portugal, ao "puto", como lhe chamavam, de tantos em tantos anos, "mostrar" à terra que tinham dinheiro. E depois regressavam, muitas vezes antes do tempo previsto, e se calhar já se lhes tinha acabado o dinheiro, porque sentiam saudades. Quando eu desembarcava em Angola, sentia-me em Portugal. Pelo que eu lá vi e passei, não há dúvida que todos os portugueses que lá trabalhavam e viviam mereciam uma melhor descolonização. Tenho sido convidado para ir à África do Sul, a Angola, etc., talvez para "vender" a minha experiência. Mas eu digo sempre que não, porque quando lá estive foi a defender Portugal, a minha Pátria. Como não sou mercenário, não me vendo».
Jaime Neves («Mama Sume!», in José Freire Antunes, «A Guerra de África - 1961-1974», Vol. I).
Defendeu Portugal e o mesmo tempo partillhou o seu experiéncia com os outros portugueses também.
ResponderEliminarJá em 1975, quando estive em Angola, no cumprimento do serviço militar obrigatório, o meu chefe direto, 1º. sargento (4ª. comissão nas PU), dizia que numa missão anterior naquele país e, numa ida à capital Luanda, ouvir da boca "dos brancos": "...vai para o mato militar, que o teu lugar é no mato". ainda vive.
ResponderEliminar