"Somos tradicionalistas. Ser tradicionalista não é devolver-nos ao Passado, morto, inerte nos seus moldes cristalizados. É aceitar do passado o impulso dinâmico, a sua força vivificadora. Para nós tudo o que é repousa naquilo que foi. A tradição não é assim um ponto imóvel na distância. É continuidade no desenvolvimento, é aquela ideia directriz que já Claude Bernard apontava como presidindo à vida dos seres. Não acatar as regras inalienáveis da nossa confirmação histórica o mesmo é que pretender substituir estultamente a nossa hereditariedade individual por qualquer outra que seja mais da nossa simpatia.
Os princípios que defendemos, antes de serem princípios, foram conclusões. Nós não significamos aqui mais que um voto unânime da nacionalidade pelo apelo sagrado dos seus Mortos.
A nossa política não é uma política de profissionais mas uma política de profissões. Assentamos numa concepção orgânica da sociedade, com a diferenciação e a competência por critérios reguladores. Se nos Insurgimos contra a democracia, é porque a democracia é a negação de todo o estímulo e de toda a prosperidade. Somos antiliberais. Mas somos antiliberais, porque, municipalistas em relação às administrações locais e sindicalistas em face da questão operária; é pelas liberdades, de sentido restrito e concreto, que dedicadamente nos bateremos."
António Sardinha
(...)Quem diz «democracia» diz «individualismo». Quem diz «individualismo» diz por sua vez «burguesia» e «capitalismo». Na pavorosa confusão mental de que a Europa é vitima há mais de um século, acredita-se ainda que a Revolução Francesa, porque proclamou os Imortais Princípios, abriu às classes pobres uma era nova de emancipação e prosperidade. Se a superstição liberalista não falasse tanto à sentimentalidade das massas, com certeza que não se teria ido tão longe num ludíbrio que encobre a maior das falsidades. Se hoje existe, e em grau tão agudo, urna questão irredutível entre o rico e o pobre, entre o que produz e o que consome, a culpa é precisamente da metafísica mentirosa da Revolução. A Revolução só deu acesso a arrivistas cobiçosos de oiro e de domínio, a quem faltava a preparação moral da antiga sociedade."
(...)A antiga sociedade fundamentava-se no Sangue e no Trabalho, na Família e na Corporação. A Corporação e a Família eram assim as bases dum acordo permanente das classes, identificadas pelo seu interesse comum com o interesse próprio duma dinastia. Tudo se subverteu, porém, na hora em que pôde mais a oratória duma turba anónima de agitadores. E, de então para cá, correndo sempre atrás de uma miragem que nunca mais se alcança, os homens dividem-se furiosamente na demanda dessa fraternidade por que tanto suspiram, mas da qual cada vez se afastam mais."
(...)Não há dúvida que nos achamos em frente de uma demorada e dolorosa crise. As reivindicações das camadas operárias crescem ameaçadoras, enegrecendo de apreensões o horizonte já carregado das incertezas mais sombrias. Apregoa-se, vai em século e meio, a soberania do povo e só descobrimos ocupando-lhe o lugar o capitalismo mais desaforado e mais omnipotente. É o oiro quem manda desbragadamente. Manda a agiotagem como nunca. Reina a bancocracia. Um feudalismo pior que o outro, visto não conhecer nenhuma limitação de natureza espiritual nem resultar das necessidades históricas de sociedade, — um feudalismo, pior que o outro, escraviza a produção nas suas tenazes de ferro, ao mesmo tempo que entoa a ária estafada dos chamados Direitos do Homem."
António Sardinha
in "Durante a Fogueira", 1927.
Biografia.(fonte, Blog Estudos Portugueses)
António Maria de Sousa Sardinha nasceu em Monforte do Alentejo em 9 de Setembro de 1887.Poeta, historiador e político, destacou-se como ensaísta, polemista e doutrinador, tornando-se um verdadeiro condutor da intelectualidade portuguesa do seu tempo.
Foi pela mão de Eugénio de Castro que Sardinha publicou os seus primeiros poemas, quando tinha apenas 15 anos. Em 1911, formou-se em Direito na Universidade de Coimbra.Tendo sido um destacado republicano municipalista enquanto estudante, após a implantação da República deu-se nele uma profunda desilusão com o novo regime. Convertido ao Catolicismo e à Monarquia, juntou-se a Hipólito Raposo, Alberto de Monsaraz, Luís de Almeida Braga e Pequito Rebelo, para fundar a revista Nação Portuguesa, publicação de filosofia política a partir da qual foi lançado o movimento político-cultural denominado "Integralismo Lusitano" em defesa de uma "monarquia tradicional, orgânica, anti-parlamentar".
António Sardinha cedo se destacou no seio do grupo integralista pela força do seu verbo. A passagem das Letras à Política consumou-se em 1915, ao pronunciar na Liga Naval de Lisboa uma conferência onde alertava para o perigo de uma absorção espanhola.
Durante o breve consulado de Sidónio Pais, António Sardinha foi eleito deputado na lista da minoria monárquica. Em 1919, exilou-se em Espanha após a sua participação na fracassada da tentativa restauracionista de Monsanto e da "Monarquia do Norte".
Ao regressar a Portugal, 27 meses depois, tornou-se director do diário A Monarquia onde veio a desenvolver um intenso combate em defesa da filosofia e sociologia política tomista e, rejeitando a tese da decadência de Spengler, em defesa do catolicismo hispânico como a base da sobrevivência da civilização do Ocidente (tese retomada e desenvolvida nos anos 30 por Ramiro de Maeztu, em Defensa de la Hispanidad).
Veio a morrer em Elvas, em 10 de Janeiro de 1925, quando contava apenas 37 anos.
Obras poéticas, entre outras:
Tronco Reverdecido (1910)
Epopeia da Planície (1915)
Quando as Nascentes Despertam (1921)
Na Corte da Saudade (Sonetos de Toledo), (1922)
Chuva da Tarde (1923)
Era uma Vez um Menino (1926)
O Roubo da Europa (1931)
Pequena Casa Lusitana (1937).
Estudos e Ensaios, entre outros:
O Valor da Raça (1915)
O espólio de Fradique (1920) («O espólio de Fradique», Eça de Queiroz. "In memoriam", organizado por Eloy do Amaral e M. Cardoso Martha, Lisboa, Parceria António Maria Pereira, 1922, pp. 334-375.)
Ao Princípio Era o Verbo (1924)
A Aliança Peninsular (1924); La Alianza Peninsular, Madrid (1930); La Alianza Peninsular, Segovia (1939).
A Teoria das Cortes Gerais (1924)
Ao Ritmo da Ampulheta (1925)
Bibliografia passiva
António Manuel Couto Viana, "António Sardinha" (1989), Colegial de Letras e Lembranças, Lisboa, Universitária, 1994, pp. 67-72.
Antologia
Olhando o Caminho
Almas Republicanas
A Herança de Garrett
A Ordem Burguesa
«(...) As instituições do passado não são boas por ser antigas, mas são antigas por ser boas». É uma famosa máxima tradicionalista. :) Evoluir sim, mas sem nunca quebrar os laços com o passado.
ResponderEliminarUm abraço,
Nuno Ramos.