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quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Breve História da Vida e da Morte da Jugoslávia.

 


BREVE HISTÓRIA DA VIDA E DA MORTE DA JUGOSLÁVIA, POR QUEM LHE VIVEU A MORTE…
Estive colocado na Jugoslávia, integrado na ONU, na UE e na UEO no decurso das guerras e pós-guerras dos anos 90; foram ao todo 12 anos, em funções várias de Comando, tendo sido a mais relevante a de Chefe de Estado Maior da Polícia Civil da ONU em 93/94, no pico das guerras.
A História da Jugoslávia inicia-se no fim da 1ª GM em 1918, sobreviveu á 2ª GM e termina abruptamente em 1992 em guerras internas, chacinas e genocídios.
Jugo/Slavia, Jugo é Sul e Slavia é Eslavos, significando Terra dos Eslavos do Sul, que são os Eslovenos, Croatas, Sérvios, Bósnios, Macedónios e Montenegrinos, mais os Búlgaros, estes sempre à parte na sua Bulgária.
Até á 1ª GM estes povos estiverem integrados, uns no Império Turco Otomano e outros no Império Austro Húngaro; desfeitos estes impérios pela 1ª GM, ficaram livres e uniram-se voluntária e politicamente no Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos em 1918, que passa a chamar- se Reino da Jugoslávia em 1929.
Em 1941, o Reino da Jugoslávia é invadido pelos Nazis; estes foram recebidos de braços abertos em Zagreb, na Croácia, de braços abertos pelos Muçulmanos em Sarajevo, na Bósnia, e de braços fechados em Belgrado, pelos Sérvios.
Os Sérvios assumem-se assim inimigos de invasões e expansões territoriais e, desde então são considerados como tal pelos alemães e terceiros ocidentais ávidos do controle dos Balcãs, tal como foram de novo nas guerras de dissolução da Jugoslávia., nos anos 90.
Hitler agradeceu aos Croatas a Aliança incondicional dos mesmos, dando pela 1ª vez na História, a Independência àquele País, de 1941 a 45; foi a República da Croácia.
Nesse período de 4 anos de Independência, a Croácia limpou etnicamente 750.000 Sérvios ali residentes há séculos; juntamente com os Nazis, chacinaram-nos em festins de inacreditáveis crueldades, no campo de concentração de Jasenovac, na Croácia, onde está um museu e um memorial desse horror.
O Comandante do campo de concentração, um croata, no fim da 2ª GM fugiu para a Argentina, e regressou em 96, à nova Croácia independente, já quase centenário; estava de novo entre amigos.
No fim da 2ª GM, a Jugoslávia, com o nome de República Federalista Socialista da Jugoslávia, qual fénix, renasceu das cinzas, sob a Presidência de Josip Tito, um Croata e comunista, reconstrói-se nas décadas de 50 e 60 e é um País feliz até meados de 70.
Em 1973 a crise do petróleo gera uma crise económica, e esta faz ressurgir os nacionalismos, os separatismos, as conflitualidades étnicas religiosas e uma clivagem entre as Repúblicas ricas do Norte, Eslovénia e Croácia e as Repúblicas do Sul, menos ricas como a Sérvia, Macedónia, Bósnia e Montenegro.
Esta situação agrava-se a partir de 9 Maio de 80, data em que morre a Alma aglutinadora da Jugoslávia... o Presidente Josip Tito.... e agudizam-se ainda mais os nacionalismos e separatismos.
Em 1985 aparece na URSS a figura inolvidável de Mikael Gorbachev que, confrontado com a crise do petróleo e a consequente crise económica, avança com a reestruturação da Ex URSS, a Perestroika e Glasnost, tendo despoletado um processo interno de nacionalismos e separatismos incontroláveis, tal qual como estava em curso na Jugoslávia.
Mikael Gorbachev era um pseudo intelectual de boa fé, crente na bondade do Mundo Ocidental e decidiu ir a Washington propor ao Presidente dos EUA, Ronald Reagan, um acordo de desarmamento mútuo dos mísseis nucleares de alcance intermédio na Europa, designado então por INF, e do qual os EUA saíram unilateralmente, anos pós colapso da ex URSS.
Esses mísseis nucleares, no caso da URSS, eram os S-20, os quais possibilitavam á Rússia atingir qualquer ponto da Europa; os EUA e a NATO fariam o mesmo e assim, o equilíbrio do terror pela destruição mútua nuclear, no espaço europeu, desaparecia.
Assim foi feito, mas os EUA entenderam tal proposta como prova de fraqueza e uma quase declaração de rendição militar e política da URSS perante os EUA, o que de certo modo foi.
A crise do petróleo de então colocou a URSS de joelhos, financeiramente, porque a sua economia dependia das exportações e do preço do petróleo, o qual foi intencionalmente manipulado pelos EUA para esse fim.
Em 1987, o Presidente dos EUA, Ronald Reagan, assina um plano Secreto, designado por NSDD 133, titulado “Política dos EUA para a URSS e Jugoslávia”, cuja finalidade lá expressa era incentivar e apoiar os nacionalismos e separatismos dos Países de Leste na URSS e nas Repúblicas da Jugoslávia, para fazer colapsar essas Uniões Políticas, como aconteceu.
Concluímos, pois, que foram as crises económicas e as acções encobertas dos EUA que intensificando os nacionalismos, separatismos, divergências étnicas religiosas, clivagens económicas internas que fizeram colapsar a URSS e a Jugoslávia.
A URSS é dissolvida a 26 de Dezembro 90 e a Jugoslávia é dissolvida a 01 de Março de 1991, três meses depois.
Digamos que a CIA teve o bom senso de não juntar os dirigentes da Ex URSS e da Ex Jugoslávia no mesmo local para se auto destruírem em simultâneo; as implosões respectivas ocorreram com três meses de diferença no tempo; notório bom senso da CIA, passe a ironia.
As Repúblicas da Jugoslávia declaram as respectivas independências: - a Croácia e Eslovénia a 21 de Jun 91, Macedónia a 17 Set 91 e Bósnia em Março de 92; estas independências foram o tiro de partida para as três guerras da Jugoslávia: - Croácia de 91 a 95, Bósnia de 92 a 95 e Kosovo de 98 a 99.
As minorias Sérvias viviam em paz na Croácia, Bósnia e Kosovo, enquanto a Jugoslávia existiu; face ás independências e aos genocídios que enfrentaram na Croácia na 2ª GM e face a perspetivas similares na Bósnia com os muçulmanos, os Sérvios organizaram-se politica e militarmente na República Sérvia da Krajina/ Croácia e República Sérvia da Bósnia e lutaram pela suas autonomias e independências.
Na Croácia os Sérvios foram mal sucedidos, chacinados e limpos etnicamente; na Bósnia foram parcialmente bem-sucedidos, pois conseguiram uma República autónoma, mas não independente.
E foi assim que ocorreram as guerras dos Balcãs na década de 90.
As guerras foram dramáticas; os Sérvios foram demonizados e de tudo foram culpabilizados, como competia ao discurso politicamente correcto e interessava ao Ocidente, em particular aos EUA, Alemanha e seus vassalos.
Os Croatas, Muçulmanos e Albaneses do Kosovo foram vitimizados e pelo Mundo Ocidental divinizados, em nome da defesa destes Povos contra os diabolizados Sérvios, o Ocidente e a NATO intervieram militarmente contra os Sérvios, e ganharam as guerras para os Croatas, Muçulmanos e Albaneses em fins de 95 e no Kosovo em 99.
As intervenções NATO na Bósnia e no Kosovo foram justificadas, perante a opinião pública mundial, como tendo carácter humanitário ou de imposição de valores civilizacionais superiores do Ocidente.
A ONU, os EUA e a EU fundamentaram os bombardeamentos intensivos da NATO contra os Sérvios, com alegados crimes de guerra dos Sérvios, mas que na realidade foram planeados e levados á execução pelos Muçulmanos e Serviços Secretos Ocidentais... contra os próprios muçulmanos.
De que são exemplo as duas situações de “explosões” ocorridas no Mercado Merkale em Sarajevo e não só, que assassinaram um total de mais de 100 pessoas muçulmanas, vitimaram centenas doutras e das quais acusaram os Sérvios, que nada tiveram a ver com aqueles actos de terrorismo.
Aqueles actos terroristas foram executados pelos muçulmanos e pelos serviços secretos ocidentais, como disse, para culpabilizarem os Sérvios e usarem tais chacinas de civis, para justificarem perante a opinião pública mundial... os bombardeamentos da NATO contra os Sérvios… isto é a rotina nas guerras de hoje, chamam-se ataques de bandeira falsa.
Afirmo isto, porque sei, de ciência certa que foi assim, estava lá, em posições elevadas e sei por informações classificadas e por testemunhos presenciais de pessoas locais.
Enfim, a Jugoslávia, foi um sonho lindo dos Povos Eslavos do Sul, que quiseram viver Unidos politicamente sob a mesma Bandeira; dela já nada resta, depois duma vida conjunta de 84 anos.
Nada mais resta a não serem os 150.000 cadáveres desses povos nestas guerras... a limpeza étnica de 300.000 Sérvios da Krajina... as deslocações étnicas de populações na Bósnia, em massa... pobreza generalizada.... fome encoberta... e novas guerras congeladas em espera de oportunidade na Bósnia, no Kosovo e Macedónia...
Ah! e restam sete novos Estados...cada um várias vezes mais pequenos que Portugal... excepto a Sérvia... são nano Estados neocolonizados pela UE e pelos EUA... tutelados... em míngua permanente duns trocados euro americanos e europeus, para não morrerem de fome...
Vivi com eles 12 anos, nas casas deles, falo-lhes as línguas fluentemente, participei-lhes nas guerras, sofri com eles nos vários lados dessas guerras as suas dores, perdas, horrores, medos, tragédias e sei, que é assim.… enfim... imperialismos e novas ordens mundiais em movimento.
A breve prazo haverá mais conflitos político militares na Macedónia, Kosovo e Bósnia... estão apenas adormecidos.
José Luís da Costa Sousa
Superintendente da PSP
(foi nesta qualidade que integrei as várias missões)

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