O verdadeiro problema não é pois quanto a mim o de saber se ainda há pátria. Parece-me cada vez mais evidente - contra a opinião, bem o sei, de certas formas de ideologismo superficiais e mal fundamentadas -, que onde haja uma língua própria, uma estrutura cultural, uma actividade filosófica, um complexo social específico, um sistema de educação, a pátria é uma realidade a tonalizar necessariamente as ideias, os valores, os movimentos, as instituições. O que sucede muitas vezes é haver pessoas, frequentemente as que se formaram culturalmente na Universidade, que rejeitam consciente ou inconscientemente a sua pátria, julgando-se afastadas de tal ideia anacrónica, quando na realidade se tornaram cidadãos de outras pátrias. São os que desprezando e ignorando por exemplo a literatura portuguesa, a filosofia portuguesa, a cultura portuguesa e a língua portuguesa, se integraram por completo nos sistemas de outras culturas nacionais. A sua posição é a de um snobismo provinciano estéril, irremediavelmente distanciado da cultura emulada e ao mesmo tempo desenraízado da cultura circundante. Alienação cultural completa, incapacidade de abordar os problemas reais do seu povo, uma vez que constantemente se lhes querem vestir soluções ou figurinos concebidos para outros sistemas e formas psico-sociológicas da vida.
Os supostos apátridas deveriam perguntar a si próprios «onde está a minha pátria?». Serão a França ou a Alemanha? (opções universitárias). Será a América? (opção capitalista-tecnocrática). Será a Rússia? (opção ideológica). Será a China ou Cuba»? (opções políticas-nova vaga).
António Quadros
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