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segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Jogos de Poder.

 

"Permito-me escrever estas notas para quem me ler possa melhor entender os eventuais porquês e objectivos das alegações de tráfico de diamantes contra os militares portugueses na República Centro Africana.
Nunca estive na RCA, nem sequer faço ideia do que de facto se passa no terreno, estou cansado de todas essas histórias, mas 14 anos ao serviço da ONU e da União Europeia em missões de paz, nas mais altas funções de Comando e Direcção, deram-me saber do terreno e autoridade bastante, para pensar que o contingente militar português está a ser vítima dum processo de descredibilização, por terceiros contingentes ou entidades, por razões que desconheço, mas mais ou menos transparentes.
Esqueça tudo o que julga saber sobre a ONU, a sua missão e as suas mil e uma responsabilidades oficiais, são máscaras, meras hipocrisias e utopias que escondem as suas reais missões e objectivos.
A ONU em termos do seu “místico” mandato é suposta servir exclusivamente a Humanidade, a Paz entre Nações, os Direitos Humanos, a ajuda humanitária global, o Direito Internacional… a Carta da ONU, etc… etc… mas não, serviu e serve apenas um Senhor, os EUA, e estes apenas e só, enquanto testas de ferro das Corporações Económico Financeiras globais. Ponto final.
Limitar-me-ei a contar um “caso miserável e pessoal” da minha missão de Timor, a UNTAET, anos 2000 e 2001, o qual, por si só e por analogia, mostra o que, quem e porque é que se “fabricam” alegações "levianas" do tipo que vitimaram os militares portugueses na RCA.
O meu caso pessoal em questão foi planeado para atingirem o Português e Comandante Geral da Polícia Civil da ONU em Timor, que eu era, e não a pessoa do Superintendente Chefe Costa e Sousa … com o objectivo de removerem Portugal, que eu representava, naquela função, a qual era obcessivamente desejada, por razões políticas, pelos países anglo saxónicos, em particular a dupla EUA/Austrália, para usarem a Polícia Civil da ONU no processo em curso de neocolonização de Timor, sob cobertura e apoio da ONU.
Tomei posse das funções de Comissário da UNCIVPOL em Timor no dia 05Jun2000; e logo um dos vários assessores desse meu cargo, o Ken, me informou que o Embaixador Australiano gostava de se encontrar comigo na Embaixada e acrescentou, fique ciente que tudo será gravado, sem seu conhecimento.
Estranhei, mas assim foi; o embaixador era uma figura agradável, as questões que me colocou de forma subtil, giravam em torno dos porquês de Portugal estar a investir tantos meios financeiros e humanos num lugar do outro lado do mundo; disse-lhe serem apenas razões históricas e ocasional exploração político partidária do caso em Portugal, e nada mais.
Rapidamente se me tornou flagrantemente óbvio, com base num sem números de factos concretos, que os australianos não queriam de todo a presença de Portugal em Timor; viam-nos como um mal que tinham de suportar e como o maior obstáculo às suas intenções neocolonizadoras, dado o amor inquestionável do povo Timorense pelas lusas gentes.
Timor era muito relevante para os EUA e Austrália por razões geoestratégicas, é uma cabeça de ponte marítima e aérea entre a Austrália e a Indonésia, o país muçulmano mais populoso do mundo e tem enormes reservas de petróleo e gás natural no Mar de Timor e em terra, o único petróleo da Austrália.
Entendi de imediato que ou eu fazia o jogo dos interesses políticos da Austrália no âmbito das responsabilidades da Polícia Civil da ONU que eu comandava, ou seria removido da função, com uma “mentira“ qualquer, valeu-me a experiência de quatro missões na ex Jugoslávia na ONU e na WEO.
O que é que os Australianos queriam da Polícia da ONU em Timor?
1º Não queriam que a Polícia de Timor fosse rapidamente formada e empossada nas suas funções, responsabilidade da missão da CIVPOL ONU.
2º Não queriam que a Polícia de Timor tivesse uma componente de Polícia Marítima/ Guarda Costeira, para os timorenses não poderem controlar as suas fronteiras e alfandegas marítimas … nem a ZEE do Mar de Timor, onde residiam as reservas de petróleo de Timor, para o poderem explorar livremente. (mandato da CIVPOL ONU); hoje é a Austrália que faz o policiamento da ZEE de Timor , e o controle das fronteiras e alfândegas marítimas.
3º Não queriam uma componente de Polícia de Intervenção Rápida timorense, para poderem criar e manipular incidentes de segurança pública à vontade, incidentes que usavam para justificarem em Nova York, a extensão da missão ONU em Timor, pelos anos necessários à montagem do sistema neocolonizador de Timor. (Responsabilidade da CIVPOL ONU)
Etc…
E começou o jogo do gato e do rato…
Como eu mantive todos os objectivos do mandato da Polícia Civil, em particular a formação da Polícia Marítima/ Guarda Costeira… a formação da Polícia de Intervenção Rápida e a Implementação operacional da polícia timorense…. tornei-me num alvo a remover com urgência.
Como Comissário eu tinha dois “Deputies”, Vices, um Canadiano e outro Inglês, um para operações e outro administrativo logístico, ambos manipulados para me fazerem a vida difícil …
Sendo impossível relatar todas as malfeitorias que me fizeram para, eles e outros, me fazerem sair da função… vou-me limitar à mais grave…
Do meu tempo disponível diariamente para o trabalho, 24 horas, eu passava 75% desse tempo a defender-me e a tentar adivinhar as várias sacanices que se foram sucedendo, quase diariamente e chegámos a esta última…
O meu mandato como Comissário da CIVPOL ONU em Timor era renovável por períodos de 6 meses; fui informado que seria renovado, e logo no dia seguinte, foi-me dito ter sido endereçada uma carta ao Dr. Sérgio Vieira de Mello, Chefe da Missão UNTAET em Timor, que me acusava de assédio sexual contra uma minha assessora.
Uma acusação de assédio sexual na ONU é uma sentença de remoção imediata da função, mesmo que nada se prove, porque as feministas da organização são todo poderosas: na dúvida o ónus e a culpa é sempre do homem.
Esperava tudo menos tal ataque… chamei o meu assessor jurídico… redigimos a defesa… os fundamentos das alegações eram vagos… removi de imediato a senhora das funções e expulsei-a das instalações do comando para outro local, instaurei-lhe um processo disciplinar… e foi proibida de entrar no comando, definitivamente…
Fui falar com o Dr Sérgio Vieira de Mello, a carta tinha vindo na altura da assinatura da renovação do meu contracto, exactamente, para que tal não se efectivasse… era óbvia a intenção, mas o contracto foi renovado…
Passaram mais seis meses e mil e uma outras peripécias organizadas pelos mesmos do costume para me removerem do comando da CIVPOL, sobrevivi e, em determinado altura, fui chamado a Nova York para fazer o ponto da situação da Missão da CIVPOL em Timor, dirigido a todos os Embaixadores da e na ONU, a qual no fim, curiosamente, foi ovacionada de pé pelos embaixadores presentes, muitos.
Terminada esta exposição, recebo um telefonema de Timor, dum oficial da PSP, que me disse “meu Comandante a mesma fulana, mandou outra carta, agora aí para NY e outras entidades, com as mesmas alegações de assédio sexual”.
Regressado a Timor, reuni com o assessor jurídico, o dos direitos humanos, etc… e determinei que fosse organizada por escrito a minha defesa num documento que reportasse factualmente quem era a senhora, em termos profissionais e comportamentais, e que explicasse todas as alegações feitas contra mim…
A referida senhora tinha vários processos disciplinares a correrem contra ela e a serem investigados na ONU mas fora da CIVPOL, todos eles instaurados pela CIVPOL pelas mais diversas faltas e até crimes, que mandei anexar ao processo da minha defesa.
Processos contra a “assediada”:-
1º Roubou 1 telemóvel ao assessor Jurídico, o Ken, facto testemunhado por dois agentes da polícia internacional, quando o Ken, na presença dos mesmos, chamou o seu número doutro telemóvel e o dele tocou dentro da carteira da senhora…
2º Difamou, indo de gabinete em gabinete do Comando da ONU em Timor, o meu assessor dos direitos humanos, o Ali, alegando que o mesmo era homossexual, o qual participou por escrito contra ela estes factos, alegando ter sido uma vingança pessoal dela, depois de ela lhe ter solicitado favores sexuais e ele ter dito que não.
3º Difamou igualmente por igual processo um Inspector da Polícia da Nova Zelândia e um Major da Polícia da Jordânia por iguais razões, seja, solicitou-lhes abertamente relações sexuais, e ambos se negaram… essas difamações deram origem a mais dois processos…
4º Havia dois outros processos a correrem por ela ir de férias e regressar uma e duas semanas depois de terminarem, sem justificação.
5º Difamou toda a polícia da Jordânia presente na Missão de Timor, alegando que os jordanos tinham no seu acampamento cabras para fins sexuais, isto na seqüência de ter solicitado favores sexuais ao Major referido no nr 3 e este ter recusado.
Etc… etc… etc… etc… etc..
Esta senhora, civil da ONU, francesa, apresentava-se sempre vestida com as mesmas roupas, umas botas da tropa, umas calças camufladas, um T Shirt castanha debotada e encardida e o cabelo sempre tipo afro carapinha… mas era branca; à cintura usava um cinturão da tropa e trazia sempre nele dependurado, 1 lanterna, algemas, um bastão telescópico, enfim… era o retrato vivo da debilidade ou infantilidade mental…
Na minha defesa anexei cópias de todos estes processos, para descredibilizar as suas alegações contra mim.
Curioso, muito curioso foi que, lembrei-me de confrontar as assinaturas dela nas cartas e em documentos por ela escritos e assinados que tínhamos em arquivo, e embora ela não negasse que as cartas eram dela, as assinaturas eram notoriamente falsificadas, significando, que as cartas tinham sido enviadas contra vontade ou até sem conhecimento dela.
Os factos que a senhora me apontava como passíveis de serem considerados assédio sexual foram os seguintes:-
1º Ter eu dito “Clara hoje está com um ar diferente e mais bonita”, quando apareceu no serviço, com uma blusa com flores, em vez da imunda T Shirt do costume.
2º Ter eu dito, outra vez, “Clara está com um ar mais feminino hoje”, um dia que apareceu com uma saia em vez das calças camufladas que usava sempre.
3º Que eu a beijei num dia que tinha chegado de férias, quando foi o vice versa, chegou, estávamos na minha secretaria mais dois portugueses e o Ken, ela beijou na cara a todos, um a um, incluindo-me a mim, coisa que eu por norma recuso, mas aceitei por educação.
Mesmo assim, que eu saiba a ONU, Departamento de Pessoal, a quem competia puni-la, nunca o terá feito e manteve-a no sistema, anos mais tarde soube ter sido colocada noutras missões, significando isto, que quem a usou para me acusar de assédio sexual, a protegeu na ONU, e foram pois pessoas com algum poder dentro da mesma.
Em contrapartida, eu fui ouvido por uma Comissão em Timor, sobre as alegações de assédio, COMISSÃO constituída por um Procurador holandês, uma senhora Moçambicana, Ministra da Justiça no Governo de Transição da UNTAET e a Chefe do Pessoal da ONU em Timor, Laura London.
Perguntou-me o Procurador o que se me oferecia dizer sobre as alegações e limitei-me a dizer:-
1º Relativamente às alegações de assédio são nulas, não passaram de cumprimentos com a intenção de a motivar a apresentar-se no serviço como uma pessoa civilizada e adulta em oposição às infantilidades por ela usadas sempre… que conflituavam com a dignidade da sua função de assessora…
2º Mostrei-lhes cópias das duas cartas por ela enviadas e assinadas com assinaturas falsificadas, não eram dela, e como tal nulificavam todas as alegações, nelas constantes.
3º Que a Clara tinha sido manipulada, as assinaturas falsas assim o provavam, por quem tinha interesse em remover Portugal da função de Comissário, para avançarem com outra nacionalidade mais flexível aos interesses da Austrália.
O caso ficou arrumado....
Entretanto a minha missão foi-se cumprindo, houve muitos mais sobressaltos, mas é o dia a dia daquela instituição e das nacionalidades menores que nela trabalham… em quaisquer missões.
O caso das tropas portugueses na RCA parece-me um clássico da ONU, um intérprete INSTRUÍDO POR TERCEIROS ESCONDIDOS POR TRÁS DELE, aparece a oferecer diamantes clandestinos a um militar português, um ingênuo claramente, que terá pago 10.000 euros ao vendedor, pensando serem diamantes a sério, eram apenas escórias que só servem para fins industriais, valem 290 euros.
A intenção era depois usarem este caso para descredibilização do contingente, tal como fizeram, são altamente especializados nestas brincadeiras.
Pensar-se que este pobre diabo possa estar envolvido em tráfico de diamantes em larga escala, em lavagens de dinheiro aos muitos milhões de Angola, etc… parece-me coisa de tolos...
... quando nem sequer percebeu que foi ludibriado por uns quaisquer africanos, simples cafres, com um truque e diamantes lixo, vulgares em zonas de diamantes, como era em Angola na zona da Diamang.
O objectivo de tudo isto foi criar um caso, ao qual a ingenuidade de Portugal deu a dimensão irracional que deu, a montanha pariu um rato de 290 euros, os militares portugueses ficaram desprestigiados, e o drama agora gira em torno dum patético Presidente a dizer que nada sabia, quando não há hipótese nenhuma de o seu Chefe da Casa Militar não lhe ter dito."
JLDCS

Nem tudo o que nos apresentam é realidade, vivemos num mundo estranho, vivemos numa realidade aparente, vivemos uma valente farsa, vivemos dias conturbados, resta saber em que condições e com quais meios nos poderemos defender!!!
Não poderia deixar de agradecer mais uma vez ao meu querido amigo e companheiro de luta, o caríssimo Comandante José Luís da Costa Sousa por mais uma vez ter disponibilizado um dos seus impagáveis e verídicos testemunhos. Meu caríssimo, que nunca lhe doa a voz, ou à falta da voz, qua essa mão não perca o jeito para a pena, grande abraço.

Alexandre Sarmento

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