A tão frágil liberdade...
PRIMEIRO, CONTARAM. Não acreditei. Pensei logo que se tratava de exagero. De mais um rumor urbano contra a política e os políticos. Depois, vi uma fotografia nos jornais. Rendi-me. Era mesmo verdade. O dia 25 de Abril é dia de festa. Dia de liberdade também. Em princípio. A Assembleia da República reuniu para uma gala. Como habitualmente, pela Primavera, realiza-se a cerimónia oficial de comemoração. Tudo parece ter corrido bem. A oposição malhou no governo. O governo elogiou-se. Os partidos da direita disseram que o 25 de Abril não era de ninguém ou que era de todos. Os de esquerda garantiram que era só deles. Os da direita demonstraram que o socialismo estava acabado. Os de esquerda mostraram, argumentando com a crise, que o capitalismo estrebuchava. O governo prometeu ser o herdeiro de Abril. O Presidente da República e o Presidente da Assembleia fizeram os melhores discursos do dia e distanciaram-se da trapalhada. Do Presidente Cavaco Silva esperava-se faca e recado, não veio nada parecido com isso. Tudo correu bem. Os que usam cravo na lapela estimam que essa flor é o uniforme da liberdade. Os que não usam entendem que o adorno é dos revolucionários e candidatos a déspotas. Metade daquela casa considera a outra metade intrusa e ilegítima. Isto não é evidentemente saudável. Mas é uma velha história. Na verdade, esquecendo estes diferendos sempre perigosos, tudo correu bem.
-
NO FIM dos discursos, em aperitivo para o beija-mão e os cumprimentos de função, cantou-se o hino nacional. De pé, os nossos representantes tentaram recordar e trautear aquelas heróicas e obsoletas palavras. Sobretudo, esforçaram-se por não desafinar. Pois bem, nesse momento solene, algo de extraordinário aconteceu. Ao mesmo tempo que soavam as últimas estrofes da canção nacional, nos enormes ecrãs de plasma, pendurados nas paredes do hemiciclo, começam a ser projectadas fotografias. Em particular, a que se viu depois reproduzida nos jornais: algures, na sede da PIDE ou da Censura, em Abril de 1974, um soldado retira das paredes uma fotografia de Salazar. Inesquecível! Absurdo!
-
PODE pensar-se que o episódio não tem importância. Que foi uma brincadeira. Um devaneio. Que ninguém, além dos deputados e das altas individualidades, vê o que se passa no Parlamento. Qualquer coisa. Mas a verdade é que tem importância. Trinta e cinco anos depois de Abril, a democracia continua a viver à custa de Salazar e da sua queda. Parece que o regime democrático e a liberdade nada têm a oferecer ao povo para além do derrube do ditador. Que, aliás, não foi do próprio mas do sucessor. Aqueles partidos e aquela instituição vivem obcecados. Sentir-se-ão culpados? De quê? De não terem sabido governar o país com mais êxito e menos demagogia? De perceberem que a população está cada vez mais cansada da política e indiferente aos políticos? Preocupante é haver alguém que pense que aquelas imagens produzem algum efeito! A política contemporânea é de tal modo medíocre que o derrube do anterior regime é ainda mais importante do que o novo regime democrático. Essa é a mágoa! Trinta e cinco anos depois, a liberdade e tudo quanto se vive não são já mais importantes do que aquele dia de derrube. Será que os espanhóis fazem o mesmo? Os gregos? Os russos? Os franceses também eram assim em 1980? Que Parlamento no mundo, em dia solene ou simplesmente em dia de trabalho normal, se dispõe a exibir fotografias dos inimigos da democracia? Será assim tão frágil a nossa liberdade que necessitamos de a legitimar sempre com o derrube de um ditador? Por quantos mais anos vamos assistir a isto? Nenhum dos argumentos previsíveis é satisfatório. Dizem que é preciso recordar. Reler a história recente para que a ditadura não volte. Gritar “nunca mais”, para que nunca mais seja. É exactamente o contrário. A falta de capacidade de respirar livremente, sem recordar os fantasmas, é a vontade de viver amarrado ao passado. Este regime é débil, porque não encontra em si próprio, nos seus méritos, razão suficiente para se legitimar e justificar. Para se assumir sem inventar ou ressuscitar inimigos. Esta insegurança revelada pelos dirigentes políticos contrasta com a certeza de muitos cidadãos. Inquéritos recentes mostram os sentimentos dos portugueses. Querem a liberdade. Não necessitam de fantasmas para se sentirem livres. Ponto final.
-
ESTA história tem mais que se lhe diga. O Parlamento parece transformado num recreio. As renovações recentes só vieram confirmar essa tendência. Os computadores distribuídos pelos 230 lugares são inexplicáveis. Ou antes: só se compreendem se fizerem parte de um plano de fornecimento aos representantes da população de equipamentos de divertimento e passatempo. Computadores e plasmas para os deputados têm exactamente as mesmas funções que os “Magalhães” para as escolas. Os ecrãs monumentais nas paredes esperam imagens, gráficos, programas de “power point” e “clips” de propaganda. Quem julgue que o Parlamento serve para pensar, ouvir, falar, aprender, argumentar, discutir, esclarecer e fiscalizar está enganado. Ali, passa-se o tempo. E como a ausência ao hemiciclo é constante e elevada, alguém congeminou esta inovação: vamos trazer-lhes divertimentos, vamos atrair os deputados com imagens e filmes. Vamos permitir-lhes que tenham acesso rápido ao “twitter”, ao “messenger”, ao “facebook” e ao “youtube”. Vamos dar-lhes imagens, que valem milhares de palavras. Vamos dar-lhes qualquer coisa que lhes interesse, que os seduza. E já agora que os impeça de se interessarem pela política e pelo debate.
-
VALHAM-NOS os jacarandás. Apesar da crise e mau grado uma Primavera esquisita, o primeiro, lá para os lados de Belém, floriu esta semana. Timidamente. Ainda sem brilho aparente. Mas já cá está.
António Barreto, in Retrato da Semana - "Público", 3 de Maio de 2009.
Um regime de incompetentes a sacudir a água do capote, a arranjar o já tradicional bode expiatório, o assacar de culpas a terceiros, aliás, quase 50 anos depois a culpa pela crise, pelo subdesenvolvimento, pela miséria, pela pobreza, pela corrupção, e já agora e porque não, a monumental dívida, são da exclusiva responsabilidade de Salazar na voz e mente destes pigmeus da pulhítica que se multiplicaram como cogumelos no decorrer das últimas décadas!
Hoje temos na cambada que representa o povo no hemiciclo de S. Bento, tudo aquilo que pior caracteriza grande parte do povo português, pelo menos referente aos que votam e ainda creem neste circo mediático, nesta opereta, nesta farsa, os tais ditos de políticos que no tempo de Salazar, nem como engraxadores teriam lugar nos corredores da casa da democracia, gente sem pergaminhos, gente destituída de cultura, basta olharmos para os currículos forjados, fabricados por uma qualquer instituição ligada a uma loja de aventais.
Tudo uma farsa, um teatrinho onde avarentos corruptos seguem na íntegra o guião dos corruptos militares de Abril, os filhos de um golpe corrupto-corporativo que nos levou a perder mais de 95% do território nacional, um golpe que fracturou e conduziu à miséria, ao abandono, à morte e à escravatura muitas dezenas de milhões de seres humanos, outrora portugueses.
Portanto, está mais do que visto, toda a fauna que ocupa os escanos do poder neste país, não é digna de representar, nem este povo, nem o que quer que seja, pelo menos nunca o serão para representar todos aqueles que ainda se revêem na grandeza de outrora, na grandeza daqueles que marcaram a história da humanidade.
Daqueles que foram portadores de valores e civilização aos quatro cantos do mundo, daqueles que no seu tempo fizeram muito e bem, com muito pouco, daqueles que cumpriram, daqueles que nunca vacilaram perante as dificuldades do trajecto, nunca vacilaram perante as agruras de tal empreendimento, daqueles que derramaram o seu sangue, suor e lágrimas pela pátria, os que lutaram pelo futuro da sua nação, os que lutaram pelo sonho da liberdade das gerações vindouras, um sonho que um bando de inconsequentes matou e pelos vistos continua a matar pela mão de um bando de corruptos ao serviço dos inimigos da Nação Portuguesa, a cambada de invertebrados que rasteja pelos corredores do poder neste outrora país e império!!!
25 de Abril, dia das mentiras, dia da infâmia, a data da grande traição cometida contra todos os portugueses que ainda têm orgulho de o ser, pois, de então para cá, na prática todas as ilusões e todas as promessas caíram por terra, o desenvolvimento, a cultura, o civismo, a justiça, e porque não a probidade dos governantes! A realidade tudo desmentiu, tudo não passou de uma campanha demagógica e ardilosa perpetrada pela propaganda do regime, uma perfeita manipulação da opinião pública, em suma, um regime mentiroso suportado por uma monumental mentira!!!
Alexandre Sarmento
Sem comentários:
Enviar um comentário