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segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Os Portugueses, um Povo Único na História.

 


«Nenhuma história nacional ou de povo, equivale, em movimento, à portuguesa.

Ocorre falar-se em paralelo com a história do povo judaico.

Muito diverso é o caso e convém discernir.

Os judeus expandiram-se, forçados pela destruição da sua pátria, votada ao extermínio.

Perseguidos, espalharam-se pelo mundo, tornaram-se maleáveis, suspicazes, preferindo a riqueza móvel à imobilária, que lhes tolheria a fácil evasão - facto que nunca deixaram de prever. Conseguiram formar uma nação sem território, mantida pela raça - mais pela raça que pela religião. Esse racismo, que é o mais ferrenho de todos os povos, permitiu-lhes reaver, ao cabo de dezanove séculos, o solo pátrio - quase já sem religião nem língua comum.

O caso português é de contínuo trânsito geográfico através do mares, de ocupação de ilhas e finisterras, de perfurações continentais, à maneira de cruzeiros marítimos, - em superação vigorosa dos obstáculos da natureza, em extravasa dos limites corpóreos da pátria.

O aventurismo antropológico dos Cabos do Mundo - nesta única finisterra que logrou organizar-se em Estado com pertinaz sequência - ganhou carácter ecuménico.

A adesão às novas terras e às novas gentes foi natural, voluptuosa, mesmo de amor. Se éramos portadores do incomparável ideal ecuménico do Cristianismo, essa mensagem universal e humana sem par dispôs, no caso português, de antropológica matéria-prima que muito concretamente e através de uma cobiça do mundo irrefreável, do amor ao exótico, de capacidade de afirmação heróica, de simpatia coadjuvada intensamente pelos elementos sensuais e sexuais, conseguiu integrar, muito concretamente, como dissemos, outros povos, outras culturas, e transmitir uma psique, uma atitude humana e étnica sobrepostas a corografias e raças, em triunfo espantoso do verdadeiramente humano, bastante forte e seguro de si, para, na generalidade da acção, se desprender das próprias matrizes.

Para se desprender, excepto da Saudade.

Caso que na história do mundo em grande escala é ímpar, e bem explica a reacção única dos lusíadas de Angola. Esses colonos e agricultores do Congo, os poucos funcionários administrativos brutalmente surpreendidos por assaltos maciços de bandoleiros negros, vindos ou animados de fora, intencionalmente exercitados no ódio racial e na prática imediata das mais execráveis barbaridades, em que a mutilação dos corpos antecede o assassínio, a sua reacção instintiva não foi fugir mas defenderem-se e... ficar.

Nas dispersas fazendas, nas pequenas póvoas do mato, ainda que desamparados militarmente, e antes de qualquer decisão nacional (ainda que pronta), a sua tenção nunca foi ceder. Indiferentes ao número de fanatizados atacantes, surdos a uma apregoada corrente da história de desistência ocidental, enjeitando os numerosos exemplos de abdicação, eles, verdadeiros portugueses universais por instinto e sentimento, responderam à intimidação do choque emocional terrorista, com a réplica violenta de uma indómita energia. Refluindo para se agrupar, essa gente não permitiu que a maquinação universal em curso conseguisse desbaratar a estrutura da ocupação portuguesa, que aguentou, sem ceder qualquer vila ou cidade propícia à sede de um governo separatista dentro do território, até que os reforços militares os foram socorrer.

Estranha epopeia em Angola se tem escrito com corpos e almas. Nela colaboram, como há três séculos no Brasil, os diversos elementos étnicos numa frente comum. Mais uma vez os portugueses fazem história, quando a ela lhes não convém ceder.

Nova fase de reflexão e aventura conseguimos iniciar.

Dilatar foi o verbo empregado por Camões, para significar a expansão portuguesa, que é de confluência entre a Europa e os outros continentes.

Esse verbo serve-nos. Dilatar pelo calor - calor do corpo e alma, é de amor prodígio conquistando espaços e homens.

A expressão mais alta, grandiosa e sem par desta verdadeira comunhão com os mundos novos, está no Brasil que sociologicamente reproduz o milagre da multiplicação dos pães.

Reconhece-se a excelência da obra do Brasil, mas, entra-se na injustiça quando se afirma que, noutros pontos do Globo, incluindo as actuais províncias ultramarinas, pouco fizemos ou pouco nos esforçamos.

O juízo será mais justo, se reflectirmos alguns minutos que seja, no que foi a criação ciclópica do Brasil e na absorção que, por mais de três séculos, ela representou para a metrópole tão pouca numerosa e relativamente pobre. A construção de um estado unitário tamanho - quase do tamanho da Europa -, toma aspectos de trabalho de Hércules, exaustivo, fabuloso. Por isso, desde que se atenda ao precedente americano, o que fizemos e queremos continuar fazendo em África e Ásia, significa pelo menos o alicerce de novas, grandiosas construções de uma política pluriracial, hoje em perigo no Mundo, mas essencial para a Civilização.

Pelo trânsito histórico, o luso-galaico, o português, tornou-se lusíada. No conteúdo lusíada, o primitivo povo não passa já de parcela, a alimentar aglomerados maiores em que outras raças participam numa simbiose de sensibilidade e ideal que as aproxima, destacando-as dos seus próprios meios naturais. Melhor termo não há que o "lusíada" camoniano, para designar um caso etno-cultural de encontro de continentes e povos - único na História!».

Francisco da Cunha Leão in, 
Do Homem Português.

3 comentários:

  1. Sou um velhote de 73 anos mas que gosto muito de Goa, vizitei Goa a 7 anos atraz para realizar um sonho de crianca, pois foi na melhor altura a minha vizita pois que tive mais um grande previlegio de ver o corpo de um grande Santo; S. Francisco Xavier, pois foi exposto ao publico nessa altura da minha vizita a Goa, adorei, abraco a todas/os Goesas/ses.

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  2. Sou um velhote de 73 anos mas que gosto de Goa, vizitei Goa a 7 anos atraz para realizar um sonho de crianca, pois foi na melhor altura a minha vizita pois que tive mais um grande previlegio de ver o corpo de um grande Santo; S. Francisco Xavier, pois foi exposto ao publico nessa altura da minha vizita a Goa, adorei, abraco a todas/os Goesas/ses.

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  3. Meu avô. Estava agora mesmo a ler este livro, fui à procura do significado de "aventurismo" e dei com este excerto :-).

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