«No vetusto e augusto sentido romano, Salazar é ditador. Com efeito, só do escol saía o ditador romano: realmente, frente à crise que punha seriamente em perigo a vida do Império, o Senado elegia um ditador dotado de poderes excepcionais, que duravam enquanto persistisse a crise. O ditador ditava - e eis a origem da dignidade - os caminhos a trilhar para vencer a crise... No sentido actual, porém, Salazar nunca foi nem poderia ser ditador. Não lho consentiriam nem o seu natural, nem a sua formação moral, estruturada no mais puro Cristianismo, nem, ainda, o seu profundo conhecimento do ser humano, em geral, dos portugueses, em particular. Além disso, Salazar era um autêntico humanista, no lídimo sentido em que no século de Quinhentos se empregava a amena expressão, para definir a riqueza da cultura literária e a actuação, rica de consequências, do escol sócio-político. Por isso, é preciso ser muito ignorante, estúpido, psitacista e perverso para atribuir a Salazar o apodo infamante de ditador.
Efectivamente, dos textos dos discursos e entrevistas, da lavra de Salazar, escritos no seu primoroso estilo seiscentista, dos numerosos livros que em torno da sua incomparável figura e insuperável obra em prol de Portugal e do Ocidente foram trazidos a lume por nacionais e estrangeiros de alto merecimento, não se colhe absolutamente nada que autorize quem quer que seja a considerar Salazar como ditador... Mereceu o respeito da generalidade da população, não tanto pelo alto cargo que desempenhou, mas por ser indiscutivelmente carismático. A nobreza de carácter e a genialidade do intelecto eram de todos reconhecidas. Desconhecia a indolência, pelo que trabalhava incansavelmente. Não era prepotente. Longe disso. Era um excelso governante que se impunha pela compostura e pela competência. Acreditava piamente no imperativo da História. Por isso, a defesa intransigente do nosso Ultramar, descoberto, povoado e valorizado secularmente por nós, era indiscutível e exigia a colaboração dos "portugueses europeus e africanos", segundo Salazar afirmou em memorável discurso de 1965.
É de notar que a esmagadora maioria da população de cor transmarina colaborou de alma e coração na defesa em apreço, de armas na mão, permitindo que fosse realidade o reconfortante surto de desenvolvimento material da retaguarda, designadamente em Angola e Moçambique. Na verdade, esse desenvolvimento, motivo de admiração e espanto de todos os que conheciam a África sub-sariana, apenas superado pelo da República da África do Sul, no caso de Angola, não seria possível sem a estreita colaboração de europeus, luso-africanos e nativos. Era o corolário dum estrénuo e bem orientado trabalho levado a efeito em clima de franca, livre comunhão de interesses e objectivos, proporcionado pela "pax lusitana", que de longe vinha...
Trabalho forçado em Angola, em Moçambique, na Guiné? A OIT (Organização Internacional do Trabalho) investigou oportunamente o assunto no terreno, tendo concluído sem rebuço pela sua inexistência e elogiado sinceramente a alta qualidade e a sã aplicação do Código de Trabalho, que visava inquestionavelmente a protecção da mão-de-obra aborígene.
(...) Por outro lado, a Organização Mundial de Saúde, em 1963, fez um relatório sobre as nossas três Províncias do Continente Africano, relatório que é prova insofismável de como Portugal é um gigante em matéria de realização do progresso humano. Efectivamente, eis as suas conclusões, amoravelmente referidas por Jacques Soustelle na sua obra intitulada "Carta aberta às vítimas da descolonização", de impressionante actualidade:
"1.º Que os Serviços de Saúde destes três territórios são 'exemplares';
2.º Que o Código de Trabalho (destinado a proteger a mão-de-obra autóctone contra o abuso) é estritamente aplicado;
3.º Que os hospitais são first class;
4.º Que não existe discriminação racial"
Direi, entre parêntesis, que recordo, emocionado, a luta tenaz contra a tripanossomiase (doença do sono), no Congo, Angola, na minha adolescência, e bem assim contra a furunculose, a biliarziose, a biliosa, o paludismo, a lepra, etc, etc..
Ausente na Metrópole durante dezoito anos, ao regressar a Angola, em 1963, as doenças tropicais haviam sido debeladas, continuando, porém, os Serviços de Saúde a exercer acção pertinaz de vigilância.
Curiosamente, Portugal, cioso do legado árabe, é o maior difusor da flora e fauna do Ocidente. Com efeito a base da alimentação dos africanos é constituída de milho, mandioca, batata doce, amendoim, muitas variedades de feijão, e fruta denominada tropical, como o abacaxi, a manga, o caju, etc, etc., tudo levado para a África pelos portugueses, do Brasil e da Ásia, em especial. É de notar que tudo quanto é de fina qualidade, vegetal ou animal, assaz utilizado na alimentação, de Cabinda ao Cunene, na Angola Portuguesa era tido pelos nativos como sendo do "Puto", isto é, Portugal...
Quem diz Angola ou Moçambique diz corolário da actuação lusíada naqueles territórios africanos, em todos os domínios materiais e morais. Desde a delimitação das fronteiras ao que concerne à língua culta, à saúde, educação, vias de comunicação, agricultura e pecuária, comércio e indústria - tudo quando é fruto da civilização é obra incontestável de portugueses, civis, militares e religiosos, que tiveram o condão de merecer a colaboração franca e leal dos nativos... Antes da presença lusíada não havia Angola nem Moçambique, sequer no nome...».
José Pinheiro da Silva («Algumas Palavras», in «Comentários às Quase Memórias de Almeida Santos», de Silvino Silvério Marques).
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